
Quando o mundo escolheu Belém do Pará para sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, parecia o gesto perfeito: levar o debate climático para o coração da Amazônia, onde cada árvore é um lembrete vivo do que está em jogo. Mas, à medida que a COP30 se aproxima, o discurso verde vai se misturando com tons de cinza — e as promessas sustentáveis começam a se perder na fumaça das contradições.
O Brasil, anfitrião do evento, se apresenta como liderança ambiental global, mas enfrenta críticas severas: avanço de projetos que fragilizam o licenciamento ambiental, expansão da mineração e lentidão na redução do desmatamento. A floresta que deveria ser símbolo de compromisso virou palco de desconfiança. É o paradoxo de um país que, ao mesmo tempo em que discursa sobre futuro verde, ainda tropeça em práticas do passado.
As críticas não param na política ambiental. Belém, embora encantadora e culturalmente rica, foi lançada a uma corrida contra o tempo. Hotéis superlotados, obras inacabadas e diárias que beiram o absurdo transformaram a COP30 em uma conferência para poucos. Movimentos sociais, delegações de países pobres e comunidades indígenas — justamente quem mais sofre com os efeitos do aquecimento global — veem-se à margem de um evento que deveria ser inclusivo.
A ironia é amarga: a conferência que prega justiça climática pode ser a mais desigual de todas. A crise climática, afinal, não é apenas ecológica — é também econômica, social e moral. E enquanto as diárias disparam, o mundo continua pagando caro pela falta de ação.
Há também o cansaço. Desde a primeira COP, há três décadas, multiplicam-se compromissos, relatórios e promessas. Mas o planeta segue aquecendo, os oceanos seguem subindo e as metas seguem distantes. Muitos se perguntam se ainda faz sentido reunir milhares de pessoas em eventos caríssimos e de impacto duvidoso, para repetir o que todos já sabem: o tempo está acabando.
A COP30 precisa ser mais do que um grande palco. Se Belém for lembrada apenas pelos preços dos hotéis e pelas promessas não cumpridas, terá sido uma oportunidade perdida — e mais uma página de hipocrisia climática. Mas se conseguir transformar o barulho em ação concreta, o encontro poderá marcar um novo começo.
Porque o planeta não aguenta mais discursos. O que se espera da COP30 é menos protocolo e mais coragem. Menos vitrine e mais compromisso. E, acima de tudo, que o clima das reuniões finalmente comece a mudar o clima do mundo.






