
Há momentos na política internacional em que não basta sentar à mesa — é preciso ocupar a cabeceira. Foi isso que o Brasil fez ao encontrar os Estados Unidos na Malásia. A reunião entre Lula e Donald Trump, durante a Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático, recolocou o país no radar da geopolítica séria.
Os Estados Unidos haviam elevado brutalmente as tarifas sobre produtos brasileiros — de cerca de dez por cento para cinquenta por cento — golpeando nossa competitividade e sinalizando desconfiança na relação bilateral. Enquanto isso, sanções direcionadas a autoridades brasileiras aprofundavam o desgaste diplomático.
Mesmo diante desse cenário, o Brasil não adotou o papel de vítima. Fez exatamente o contrário: buscou o encontro de igual para igual, exigindo respeito. Lula descreveu a conversa como “franca e construtiva”, apontando que as negociações sobre tarifas e sanções começam imediatamente.
Trump respondeu com pragmatismo, afirmando que pode haver “negócios muito bons para ambos os países”. Em diplomacia, discursos assim têm peso: reconhecem a relevância do Brasil — e admitem que nenhuma grande economia pode simplesmente nos ignorar.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, indicou expectativa de avanços “em algumas semanas”. Isso significa que o Brasil rompe o impasse e projeta melhora rápida no ambiente econômico.
Mas o impacto vai além da economia.
O Brasil chega para dizer que quer uma relação justa, equilibrada e vantajosa. Sem submissão. Sem revanchismo. O país deixa claro que negocia de cabeça erguida e que sua soberania não tem preço — nem em dólares, nem em tarifas.
Há quem tente reduzir o encontro à foto oficial. Um erro grave. O que vimos foi a recuperação do protagonismo internacional do Brasil. Ao conduzir o diálogo com firmeza, o governo brasileiro sinaliza ao mundo — e ao seu próprio povo — que o país está preparado para disputar seu espaço na nova ordem global.
Em tempos de incertezas econômicas e disputas comerciais, a diplomacia torna-se o maior ativo estratégico. Ela protege empregos, fortalece empresas exportadoras e reduz a volatilidade, tudo sem disparar um único tiro ou elevar um único imposto.
O Brasil não resolve tudo em uma conversa. Diplomacia real exige tempo, técnica e paciência. Mas a rota está traçada: o país voltou a falar grosso quando o assunto é interesse nacional.
E essa é a notícia que realmente importa.






