
Nos últimos anos, o desempenho das empresas estatais brasileiras voltou a acender o sinal de alerta. Depois de um ciclo de lucros expressivos entre 2019 e 2022, o país entrou em 2023 com uma deterioração visível nos resultados dessas companhias. O contraste entre o superávit do governo anterior e os prejuízos acumulados na atual gestão é flagrante — e preocupante.
O retrato do desequilíbrio
De acordo com o Banco Central, as empresas estatais não financeiras (excluídas Petrobras e bancos públicos) acumularam déficit primário recorde de R$ 8,9 bilhões nos 12 meses até agosto de 2025, o pior resultado desde o início da série histórica em 2009. Em 2024, o rombo já havia atingido R$ 8,07 bilhões, configurando o maior da história. Esses números não incluem a Petrobras, que sozinha ainda sustenta parte da arrecadação federal, nem os bancos públicos, que seguem lucrativos.
Quando se observa os balanços individuais, a situação fica mais nítida:
- Correios: depois de lucros de R$ 1,5 bilhão em 2020 e R$ 2,2 bilhões em 2021, a estatal postal entrou em rota descendente — perdeu R$ 768 milhões em 2022, R$ 596 milhões em 2023 e amargou R$ 2,6 bilhões de prejuízo em 2024.
- Infraero: já debilitada pela pandemia, a operadora de aeroportos teve perdas de R$ 2,2 bilhões em 2020 e voltou ao vermelho em 2024, com R$ 228,8 milhões negativos.
- Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU): acumulou déficit de R$ 413 milhões em 2022 e R$ 1,1 bilhão em 2024.
- Embrapa, orgulho da pesquisa agropecuária, fechou 2024 com prejuízo de R$ 375 milhões e manteve resultado negativo de R$ 154 milhões no primeiro semestre de 2025.
Enquanto isso, gigantes lucrativas compensam parte do estrago:
- Petrobras lucrou R$ 36,6 bilhões em 2024, embora o valor represente forte queda frente aos R$ 188 bilhões de 2022.
- Banco do Brasil registrou R$ 37,9 bilhões e a Caixa Econômica Federal, R$ 14 bilhões em 2024.
- O BNDES também apresentou R$ 26,3 bilhões de lucro no mesmo ano.
Essas instituições mantêm o superávit do setor público, mas seu bom desempenho não é suficiente para esconder a sangria das empresas que vivem de orçamento e prestação de serviço público.
As causas estruturais e as escolhas políticas
As explicações oficiais falam em recomposição de investimentos e “função social” das estatais. De fato, muitas empresas voltaram a investir: o governo destaca crescimento de 44% nas inversões em 2024. Mas há diferença entre investir com eficiência e gastar sem critério. A deterioração simultânea de empresas tão distintas — Correios, Infraero, CBTU, Embrapa — indica que o problema não se limita a um setor: é o modelo de gestão.
Ao insistir em ampliar quadros, rever tarifas e priorizar políticas de atendimento universal sem compensações financeiras, o governo Lula 3 resgata a lógica pré-reforma das estatais: função social sem sustentabilidade. O discurso é nobre, mas o resultado é o retorno do déficit — e quem paga a conta é o contribuinte.
Comparando governos
Sob Jair Bolsonaro (2019–2022), as estatais federais controladas pela União apresentaram lucros líquidos recordes: R$ 197,9 bilhões em 2023 (ano-base 2022). O ciclo foi impulsionado pela eficiência da Petrobras, pela privatização parcial da Eletrobras e por maior disciplina fiscal.
Já sob Lula 3, o mesmo conjunto registrou lucro de R$ 116,6 bilhões em 2024, uma queda de 41%. E, no conceito fiscal do Banco Central — que mede receitas menos despesas — o saldo foi o pior da história recente: déficit superior a R$ 8 bilhões.
A inversão é clara: de superávit para déficit, de estabilidade para incerteza.
O perigo do retrocesso
Os números são mais que estatísticas: são sintomas de um modelo que voltou a confundir Estado com empresa. Quando estatais viram instrumentos de política pública sem metas de produtividade, o rombo cresce. E quanto maior o déficit, menor a capacidade de investimento em áreas realmente prioritárias — saúde, educação, segurança.
A narrativa de que o “déficit é investimento” é enganosa. Investir pressupõe retorno — social, econômico ou financeiro. Gastar sem medir impacto é apenas despesa.
Os déficits das estatais no governo Lula 3 são um alerta sobre o custo da má gestão. O país que conseguiu, entre 2019 e 2022, transformar estatais em fontes de receita volta a vê-las drenando recursos públicos.
Lucros bilionários da Petrobras e dos bancos não compensam o prejuízo generalizado nas empresas operacionais. É preciso recuperar a lógica de governança, transparência e responsabilidade fiscal, sob pena de repetir o ciclo que o Brasil já conhece: primeiro o rombo, depois o aumento de impostos.
O Brasil precisa de estatais eficientes — não de estatais deficitárias que travam o desenvolvimento.