
É sempre honroso participar desse momento de júbilo e regozijo para Chapecó/SC, especialmente neste ano que completo duas décadas de morada aqui. Em novembro de 2004, saí de Curitiba/PR para residir nesta cidade onde estou construindo minha história.
Não bastasse isso, que por si só já é motivo de celebração, nos meus momentos de estudos, descobri que tenho uma relação com essa terra de muito mais do que duas décadas, na verdade, minha relação provém do meu tetravô.
Minha mãe é gaúcha, natural de Getúlio Vargas/RS, já meu pai nasceu em Mangueirinha/PR, aqui no Sudoeste do Paraná. Ambos se conheceram em Palmas/PR, lá casaram e depois foram morar em Mangueirinha/PR. Meu pai tinha uma vida política muito intensa, e, em razão disso, mudaram para Curitiba/Pr, no início dos anos 70.
Até a minha adolescência, convivi com uma senhora agradabilíssima que tinha sido Professora do meu pai em Palmas/PR, se tornando amiga da nossa família, chamada Lourdes Stefanello Lago, e dela, tenho as lembranças de nos encontrarmos anualmente em Balneário Camboriú/SC, nas férias, e ouvi-la contando as histórias da região. Então dias atrás, localizei no repositório da UFSC, a sua dissertação de mestrado em História, uma pesquisa sobre a origem e a evolução da população de Palmas, e lá me deparei com um relato da minha família paterna, os Ferreira Santos.
Meus avós paternos, eram oriundos de Guarapuava/PR, de onde partiu o Sertanista José Ferreira dos Santos, meu tataravô, liderando 27 estanceiros, se estabelecendo na região de Palmas/PR, e lá sendo o pioneiro de uma das duas expedições de colonização, fundando a denominada “Sociedade dos Primeiros Povoadores Palmenses”, em 1839.
A segunda expedição, foi liderada por Pedro Siqueira Cortes, que também criou uma sociedade de posse, após não ser aceito por José para integrar o seu grupo.
Conta a Professora Lourdes Lago (1987, p. 62) que se inicia então um desentendimento entre os dois grupos, que visavam a conquista e posse das mesmas terras, gerando inclusive um conflito armado. Para buscar solução desta disputa, demarcando as terras entre os dois grupos, foram escolhidos dois cidadãos curitibanos, os vereadores João da Silva Carrão e José Joaquim Pinto Bandeira.
Então, minha curiosidade me levou a saber mais sobre essa história, continuei pesquisando, e, encontrei no site da Câmara Municipal de Curitiba uma matéria alusiva ao Dia do Índio, publicada em 17 de abril de 2015, com o seguinte título “O Vereador Bandeira, o Índio Condá e os Campos de Palmas”.
O texto narra, nas palavras de Joaquim Bandeira, que no dia 04 de abril de 1940, os dois vereadores partiram para uma viagem de 80 léguas, enfrentando uma vereda mal trilhada, falta de recursos, temporais excessivos, enchentes de rios, dentre muitos outros embaraços, chegando no destino no dia 28 de maio, apenas.
Durante o caminho da viagem, ao passarem por Guarapuava/PR, lá encontraram e conheceram uma liderança Kaingang, chamado de Índio Condá, junto com sua mulher, num grupo total de 11 indígenas, sendo que um deles sabia ler e escrever em português.
Bandeira tinha ciência que uma das formas para resolver os problemas de demarcação de terras em Palmas/PR, era buscar também a anuência e concordância dos índios que viviam na região, pois suas terras estavam sendo disputadas pelos dois Sertanistas, então, após Vitorino Condá aceitar acompanhar a missão dos vereadores curitibanos, se dirigiram até os Campos de Palmas/PR.
A intervenção e participação do Índio Condá foi predominante no deslinde demarcatório que ficou decidido, tomando por divisa o Rio Caldeiras, as terras ao poente, “Palmas de Baixo”, para Pedro de Siqueira Côrtes e o seu grupo; e as terras ao nascente, “Palmas de Cima”, ficaram com José Ferreira dos Santos e seus companheiros (LOURDES, 1987, p. 62).
Após, em continua e intensa defesa de seus territórios, Condá viajou para Curitiba/PR acompanhado por cerca de 30 indígenas. Vitorino pleiteou junto ao Governador da Provincia do Paraná, uma área para os povos Kaingang, ficando delimitado então uma área entre os rios Chapecó e Chapecozinho, onde se estabeleceram na divisa com Nonoai no Rio Grande do Sul.
Esta é, portanto, a grata história que encontrei e que me liga à essa Terra de Condá, numa relação quase que direta com meu tetravô, que contribuiu para o desenvolvimento e expansão dessa pujante região.
Além de congratular com o aniversário dessa Cidade de Chapecó/SC, que me acolheu, quero também agradecer pelas oportunidades que me trouxe, que conquistei e por tudo que construí aqui, não só profissionalmente, mas pessoalmente.
Hoje me considero curitibano e chapecoense, ou “curitibanense”, como já escrevi neste Jornal, especialmente a partir de agora, com laços ainda mais estreitos e fortes, sabendo que Condá e a minha família, fizeram parte da história que me oportuniza hoje comemorar os 107 anos dessa auspiciosa cidade.