sexta-feira, outubro 10, 2025
InícioGestão & NegóciosImposto de renda: a vergonha da defasagem que extorque o contribuinte

Imposto de renda: a vergonha da defasagem que extorque o contribuinte

Confira a coluna do professor Dr. Givanildo Silva

Prof. Givanildo Silva – Doutor em Ciências Contábeis e Administração.

Por mais um ano, milhões de brasileiros vivem a mesma angústia: entregar a declaração do Imposto de Renda e descobrir que pagam mais do que deveriam. Não porque ficaram mais ricos, mas porque o governo insiste em manter a tabela do IRPF congelada, desatualizada e defasada pela inflação. Em outras palavras: um imposto invisível, disfarçado de burocracia, que drena o bolso da classe média.

O último reajuste simbólico

O último “reajuste” da tabela ocorreu em abril de 2025, quando a faixa de isenção foi ampliada para R$ 2.428,80 mensais. Um valor que não paga sequer as despesas básicas de uma família de classe média baixa. O reajuste foi apenas na primeira faixa; o restante da tabela continua com números de quase uma década atrás. Resultado: trabalhadores que ganham pouco mais de dois salários mínimos já são empurrados para a tributação, como se fossem privilegiados.

A defasagem acumulada

Segundo o Dieese, a tabela do IRPF acumula uma defasagem de 154,67% entre 1996 e 2024. Isso significa que a inflação corroeu o poder de compra do contribuinte, mas a tabela não acompanhou. Em termos práticos, se houvesse correção integral, quem ganha até R$ 5.753,43 estaria isento hoje. Em outra simulação, aplicando o índice acumulado, a faixa de isenção deveria estar em torno de R$ 6.164. Estamos falando do dobro, ou até o triplo, do que o governo permite como “alívio”.

- Continua após o anúncio -

Quem paga a conta?

Na prática, o governo transformou a defasagem em uma máquina de arrecadar sem chamar de aumento de imposto. O resultado: mais de 10 milhões de brasileiros, que deveriam estar livres do IR, são obrigados a contribuir. A classe média baixa, que já paga caro em consumo, gasolina e energia, acaba bancando o rombo fiscal pela omissão em corrigir a tabela. É o chamado imposto inflacionário: não precisa de lei, não passa pelo Congresso, mas pesa no bolso todo mês.

Estelionato fiscal

O governo vendeu a promessa de isenção até R$ 5 mil, mas até agora só apresentou projetos que se arrastam no Congresso. Enquanto isso, continua empurrando o contribuinte para faixas maiores e mantendo a máquina pública inchada. Chama-se estelionato fiscal: prometer justiça tributária e entregar mais estorvo.

O contraste

Enquanto países da OCDE corrigem suas tabelas de imposto de renda anualmente, vinculando-as ao índice oficial de inflação, o Brasil escolhe punir seu cidadão silenciosamente. O resultado é perverso: quem ganha pouco paga proporcionalmente mais. Quem deveria estar fora da tributação sustenta o sistema. E o discurso oficial fala em “justiça social”.

Extorsão

A defasagem da tabela do IRPF não é apenas uma questão técnica; é um ato político. É uma escolha deliberada de estorquir o contribuinte sem assumir que está aumentando impostos. Corrigir a tabela integralmente significaria respeitar o cidadão, aliviar a classe média e recuperar um mínimo de coerência fiscal. Enquanto isso não acontece, seguimos reféns de uma tabela fictícia, que transforma trabalhadores em vilões e o Estado em sócio voraz do nosso salário.

Publicidade

Notícias relacionadas

SIGA O CLICRDC

147,000SeguidoresCurtir
120,000SeguidoresSeguir
13,000InscritosInscreva-se

Participe do Grupo no Whatsapp do ClicRDC e receba as principais notícias da nossa região.

*Ao entrar você está ciente e de acordo com todos os termos de uso e privacidade do WhatsApp