
O Education at a Glance 2025 (EaG 2025), relatório anual da OCDE, funciona como um espelho incômodo: mostra onde estamos na corrida global da educação e o quanto ainda precisamos correr para alcançar os líderes. E, quando o foco se volta ao Brasil, o diagnóstico é duro.
Segundo o relatório, 24% dos jovens de 18 a 24 anos estão na condição de “nem-nem” (NEET): não estudam, não trabalham e não estão em treinamento. O número é quase o dobro da média da OCDE, que gira em torno de 14%. E o dado se agrava ao olharmos o recorte de gênero: quase um terço das jovens brasileiras nessa faixa etária estão fora do circuito produtivo. É uma geração que poderia estar produzindo riqueza e conhecimento, mas permanece à margem.
O ensino superior, por sua vez, revela um paradoxo. O diploma ainda garante uma valorização salarial impressionante: 148% a mais de renda em relação a quem concluiu apenas o ensino médio. Ou seja, estudar compensa, e muito, no Brasil. Mas o problema é chegar até o final. Apenas metade dos alunos que ingressam em cursos de bacharelado consegue se formar dentro do prazo estendido em três anos. E um quarto abandona logo no primeiro ano. O retrato é de desperdício de potencial humano e financeiro.
Outro ponto crítico é o financiamento por aluno. Enquanto a média da OCDE investe mais de 15 mil dólares por estudante de ensino superior, o Brasil gasta cerca de 3.700 dólares. Isso não significa que o país invista pouco em proporção ao PIB, mas que nossos recursos acabam se diluindo em cursos longos, evasão alta e desigualdades entre instituições públicas e privadas.
Aliás, a diferença entre elas é gritante: nas universidades públicas, a média é de 10 alunos por professor; nas privadas, chega a 62 — em grande parte por conta da expansão do ensino a distância. O risco é transformar diplomas em números estatísticos sem o devido acompanhamento acadêmico.
Uma encruzilhada decisiva
O EaG 2025 não é apenas um retrato estático. Ele aponta para decisões que o Brasil precisa tomar urgentemente. Queremos continuar com um modelo que cria ilhas de excelência nas universidades públicas e desertos de qualidade no setor privado, ou vamos buscar equilíbrio? Vamos seguir tolerando que um quarto dos jovens abandone a faculdade já no primeiro ano, ou vamos investir em políticas de apoio, tutoria e orientação?
O relatório sugere caminhos claros: políticas de retenção no ensino superior, foco em reduzir desigualdades de gênero e renda, fortalecimento da transição entre educação e mercado de trabalho, e maior eficiência no uso dos recursos. Não são medidas simples, mas são possíveis — e já adotadas por países que conseguiram avançar em menos tempo do que imaginamos.
Opinião
O Brasil precisa encarar esse raio-X sem maquiagem. Não adianta celebrar o aumento de matrículas se não cuidamos da conclusão. Não adianta investir em acesso se a evasão corrói metade do esforço. E não adianta oferecer diplomas se eles não vêm acompanhados de aprendizado efetivo.
A lição que o EaG 2025 nos deixa é clara: não basta colocar mais jovens dentro da sala de aula — é preciso garantir que saiam dela preparados para a vida. Caso contrário, continuaremos alimentando estatísticas de desperdício, desigualdade e frustração.
O futuro não espera. Ou o Brasil transforma seu sistema educacional em motor de desenvolvimento, ou continuará preso no círculo vicioso da promessa não cumprida.