quinta-feira, setembro 18, 2025
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A miragem dos 5,6%: O desemprego escondido atrás dos números oficiais

Confira a coluna do professor Dr. Givanildo Silva

Prof. Givanildo Silva – Doutor em Ciências Contábeis e Administração.

A divulgação recente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) trouxe para as manchetes um dado comemorado: taxa de desemprego de 5,8% no segundo trimestre de 2025, ou 5,6% no trimestre encerrado em julho — o menor patamar desde 2012. Boa notícia, à primeira vista. Mas essa é uma fotografia recortada, que omite aquilo que o cidadão comum realmente quer saber: quantas pessoas estão de fato sem trabalho, quantas desistiram de procurar, quantas vivem à margem do mercado sem aparecer nas estatísticas.

Os recortes que suavizam a realidade

A metodologia considera como “desempregado” apenas quem não trabalhou na semana de referência, estava disponível e buscou ativamente trabalho nos últimos 30 dias. Dessa forma, duas distorções se tornam evidentes:

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  1. Quem abandona a busca — pessoas que desistiram porque não acreditam que vão encontrar emprego ficam fora da estatística oficial, mesmo estando disponíveis. São classificados como “fora da força de trabalho” ou “desalentados”.
  2. Quem depende de assistência — beneficiários de programas sociais, mesmo querendo trabalhar, podem ser enquadrados como fora da força de trabalho caso não tenham feito uma busca ativa no último mês.

Números que ficam escondidos

O Brasil tinha, no segundo trimestre de 2025:

  • 6,3 milhões de desocupados (que entram na taxa oficial de 5,8%);
  • 2,7 milhões de desalentados, que gostariam de trabalhar mas desistiram de procurar;
  • Cerca de 65,6 milhões de pessoas fora da força de trabalho, na idade de trabalhar mas sem estar ocupadas ou buscando emprego;
  • Uma taxa de subutilização de 14,4%, representando milhões de pessoas que trabalham menos horas do que gostariam ou em funções aquém de sua capacidade.

Se somarmos os desocupados, os desalentados e parte dessa população fora da força, o contingente real de pessoas em fragilidade de trabalho é muito maior que os 5,6% celebrados.

Em resumo: os 5,6% oficiais correspondem a 6,1 milhões, mas, ao incluir quem desistiu de procurar (desalento) subimos para 7,9% com 8,8 milhões de pessoas; e, usando a métrica ampliada do IBGE, o quadro chega a 10,4%, com 11,9 milhões de pessoas em fragilidade de trabalho.

O impacto no cotidiano

Essa metodologia leva a um paradoxo: celebram-se índices baixos de desemprego enquanto boa parte da população vulnerável permanece invisível. Para as periferias, para quem enfrenta custos de transporte, falta de creche, discriminação ou baixa escolaridade, o desemprego não se resume a não ter procurado trabalho nos últimos 30 dias. É também quem desistiu, quem não tem esperança, quem sobrevive em ocupações informais precárias.

Por que isso importa

Políticas públicas: sem reconhecer o desalento, não há programas de reinserção efetivos.

Percepção social: números baixos reforçam narrativas de recuperação, mas não capturam a realidade da desigualdade.

Justiça social: são as mulheres, os negros e os menos escolarizados que mais ficam invisíveis no cálculo oficial.

A taxa oficial de desemprego cumpre o critério técnico, mas não responde à pergunta central: “Quantos brasileiros precisam de trabalho e não têm?”. Até que o debate incorpore o desalento, a subutilização e a exclusão estrutural, estaremos medindo uma parte e festejando uma vitória parcial. O número real de brasileiros sem trabalho digno é muito maior — e só reconhecê-lo já seria um avanço.

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