
O segundo trimestre de 2025 trouxe um retrato curioso e revelador da pecuária brasileira. De acordo com o IBGE, o abate de bovinos cresceu 3,9%, o de suínos bateu recorde histórico com 15 milhões de cabeças, e o de frangos superou a marca de 1,6 bilhão de aves, também em alta na comparação anual. São números que confirmam o Brasil como uma das maiores potências de proteína animal do mundo, mas que exigem leitura para além da euforia estatística.
No caso dos bovinos, chama a atenção a alta de 16% no abate de fêmeas, sinalizando uma decisão estratégica de muitos pecuaristas: reduzir rebanhos para aliviar custos de manutenção e aproveitar preços de mercado. Isso garante oferta imediata, mas pode comprometer a reposição e gerar instabilidade nos ciclos de produção a médio prazo.
A suinocultura, por sua vez, segue consolidando seu espaço. O recorde de abates reflete não só o aumento do consumo interno, mas principalmente a força das exportações, em especial para o mercado asiático. A carne suína mantém-se como alternativa competitiva ao consumidor e, ao mesmo tempo, como ativo estratégico da balança comercial brasileira.
Já a avicultura, setor historicamente ágil e adaptável, registrou abate de 1,64 bilhão de cabeças no trimestre — alta de 1,1% frente a 2024. Pequeno em percentual, mas gigante em volume absoluto, esse desempenho mostra a resiliência de um setor que convive com custos elevados de ração e pressões internacionais, mas ainda assim consegue manter competitividade.
O quadro geral é de expansão, mas também de dilemas. Produzir mais carne significa fortalecer a economia, gerar empregos e garantir abastecimento, mas também amplia os desafios logísticos e éticos. O Brasil precisa decidir se seguirá como mero fornecedor de volume ou se assumirá a dianteira em inovação e rastreabilidade na produção de proteína animal.