
Em meio à maior tensão comercial Brasil–Estados Unidos das últimas décadas, com tarifas de 50% impostas sobre produtos brasileiros, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, fez um apelo claro: é hora de o presidente Lula pegar o telefone e falar diretamente com Donald Trump. A fala, feita no Congresso Brasileiro do Agronegócio, não é capricho político — é pragmatismo puro.
A diplomacia formal tem seu valor, mas há momentos em que a política precisa de ação direta. A história mostra que ligações entre chefes de Estado já destravaram impasses comerciais, evitaram sanções e abriram portas para negociações mais amplas. O setor produtivo brasileiro, especialmente o agronegócio, não pode esperar por intermináveis rodadas técnicas enquanto exportadores veem seus contratos ameaçados e mercados se fechando.
A reação do ministro Fernando Haddad, classificando a proposta de “um pouco ingênua”, expõe um problema: o excesso de burocracia em meio a uma crise que exige rapidez. É evidente que reuniões técnicas são importantes, mas quem comanda o país também precisa estar disposto a correr riscos diplomáticos quando o custo da inércia se mede em bilhões de reais e milhares de empregos.
Ao dizer que “não vai se humilhar” para ligar a Trump, Lula esquece que o telefonema não seria um ato de subserviência, mas sim um gesto de liderança e defesa do interesse nacional. O Brasil não é um jogador periférico no comércio global. E justamente por isso precisa agir como protagonista — não como espectador ofendido.
Enquanto o Planalto aposta em videoconferências do chamado “Sul Global” e articulações com o BRICS, é legítimo perguntar: quantas dessas reuniões já resultaram, de fato, em redução de tarifas ou abertura de mercados no curto prazo? O tempo da geopolítica multilateral corre em outra velocidade — e o prejuízo para o produtor brasileiro é imediato.
O recado de Tarcísio é simples e direto: na crise, vale usar todas as cartas disponíveis. Ignorar um gesto que pode abrir caminho para um acordo é desperdiçar capital político e colocar em risco setores estratégicos da economia.
No fim, o que está em jogo não é a vaidade de um presidente ou a rivalidade ideológica entre aliados e adversários. É a sobrevivência de empresas, empregos e receitas que sustentam o Brasil real — aquele que produz, exporta e paga impostos. E, nesse cenário, Tarcísio está certo: um telefonema pode não resolver tudo, mas pode ser o início de uma solução. E, na política, começar é quase sempre a parte mais difícil.