
O dólar caiu. E não foi pouco. Na quinta-feira (3), a moeda americana chegou a R$ 5,40, menor patamar desde o final de junho do ano passado (2024). Para um país que ainda importa parte do seu combustível e precifica derivados com base no mercado internacional, isso deveria ser uma ótima notícia. Mas pergunte ao consumidor brasileiro: a gasolina baixou? O diesel ficou mais barato? A resposta, como sempre, é não.
É quase cômico — se não fosse trágico — ver a economia brasileira patinar nessa contradição recorrente: o câmbio melhora, o petróleo oscila, mas o preço na bomba continua estável ou, pior, sobe. Enquanto o cidadão se aperta para abastecer o carro, pagar o frete ou repassar o custo no transporte coletivo, os argumentos técnicos da Petrobras e do governo seguem soando como um disco arranhado.
A desculpa mais comum? O tal do PPI — Preço de Paridade de Importação —, que combina cotação internacional do barril, dólar, frete, taxas e margem de risco. Mesmo com a mudança de governo e o discurso de “abrasileirar” os preços, a fórmula continua mais rígida do que nunca. E pior: mesmo quando a cotação do petróleo cede e o dólar recua, o repasse para o consumidor demora a acontecer, ou simplesmente não acontece.
O Brasil parece ser o único lugar do mundo onde o combustível é reajustado com a velocidade da luz quando o dólar sobe, mas desce a conta-gotas — ou nem desce — quando o dólar cai. A Petrobras, apesar de pública, opera como uma empresa privada com foco em resultado. E o governo, que poderia usar seu controle acionário para defender o interesse coletivo, se esconde atrás da “autonomia da companhia” enquanto assiste, de camarote, ao bolso da população sangrar.
É preciso dizer com todas as letras: manter os combustíveis caros é uma escolha política. Em um país com frota crescente, dependente do transporte rodoviário e com milhões de trabalhadores que usam carro e moto para sobreviver, cada centavo na bomba faz diferença. Mas parece que o consumidor virou apenas uma estatística no balanço da estatal e um número perdido na planilha dos economistas de Brasília.
A alta do combustível contamina toda a cadeia: encarece alimentos, pressiona o transporte público, corrói o poder de compra e prejudica a competitividade. E tudo isso ocorre em meio à propaganda oficial de que a economia está melhorando.
Se o dólar está em queda, se o petróleo não está em alta recorde, e se a inflação vem se acomodando, por que a gasolina segue nas alturas? Até quando vamos aceitar esse jogo de empurra, onde o mercado internacional é usado como vilão quando convém, mas ignorado quando beneficia o povo?
O Brasil precisa urgentemente de uma política de preços de combustíveis que leve em consideração não apenas o lucro dos acionistas, mas a realidade do povo brasileiro. Caso contrário, o país continuará refém de uma lógica perversa: dólar baixo, preço alto, e um cidadão que paga a conta — sempre.