
Vinte anos depois da denúncia que abalou os alicerces da República, o escândalo do mensalão continua sendo um espelho incômodo para a política brasileira. Revelado em 6 de junho de 2005 pelo então deputado Roberto Jefferson, o esquema de compra de votos no Congresso Nacional desnudou um sistema de poder sustentado por corrupção institucionalizada, financiamento ilegal de partidos e uma promiscuidade entre Executivo e Legislativo que, em muitos aspectos, persiste até hoje — apenas com novas formas e nomes.
Na ocasião, 40 pessoas foram formalmente acusadas pelo Ministério Público Federal. Entre os réus, ministros de Estado, presidentes de partido, deputados e publicitários ligados ao núcleo financeiro do PT. O julgamento, conhecido como Ação Penal 470, foi um divisor de águas na atuação do Supremo Tribunal Federal, que, pela primeira vez, condenou figuras políticas de altíssimo escalão, incluindo José Dirceu, Delúbio Soares e o operador Marcos Valério.
Mas o tempo passou — e o que aprendemos?
Em 2025, dois dados assustam. O primeiro é a reincidência: vários dos condenados do mensalão voltaram à cena política ou ao entorno do poder, direta ou indiretamente. O segundo é a amnésia seletiva de parte significativa da sociedade, que normaliza escândalos sob a bandeira do pragmatismo ou da polarização política. A justiça até puniu, mas a política tratou de perdoar — ou, pior, de esquecer.
O mensalão não foi um ponto fora da curva. Foi o sintoma de um modelo político que recompensa a fidelidade comprada e desincentiva a ética. O petrolão, revelado anos depois, escancarou que o problema não era episódico, mas sistêmico. E, hoje, vemos retrocessos perigosos: desmonte da Lava Jato, blindagem a parlamentares e ministros, e a banalização do uso político da justiça.
O Brasil precisa encarar de frente a sombra do mensalão. Não para reviver o passado, mas para não repeti-lo. A impunidade política segue sendo um convite à reincidência. O silêncio do presente diante dos fantasmas do passado é mais que covardia — é cumplicidade.
Enquanto os escândalos se empilham, o cidadão comum paga a conta. A crise da representação política, a desconfiança nas instituições e o cinismo com que a corrupção é tratada estão diretamente ligados à incapacidade de aprender com o mensalão.
Vinte anos depois, o Brasil precisa menos de nostalgia e mais de memória. O mensalão não foi apenas um crime — foi um aviso. Ignorá-lo é repetir o erro, com novas máscaras e os mesmos métodos.
Escrito com auxílio de IA.