O começo de um sonho: de Chapecó para o mundo
A história de Jean Pierre Guisel Costa, mais conhecido como Pito, é a de um garoto que transformou o amor pelo futsal em uma carreira brilhante. Nascido em Chapecó, no dia 6 de novembro de 1991, ele começou a jogar ainda criança, aos seis anos de idade, incentivado pelo pai e pelo tio, que viam no esporte uma forma de disciplina e lazer. Desde pequeno, a bola sempre esteve presente em sua rotina, e a paixão pelo jogo crescia a cada dia.
A Chapecoense, time de futebol da cidade, ainda não tinha a grandeza de hoje, e o futsal dominava o cenário esportivo local. As referências de Pito eram os grandes jogadores das quadras, e foi nesse ambiente que ele começou a trilhar sua jornada.
O talento era evidente, e aos 18 anos, em 2010, recebeu um convite para jogar no Sub-20 do Criciúma. Foi seu primeiro grande desafio fora de casa. A experiência longe da família foi um aprendizado intenso. Para chegar aos treinos, muitas vezes precisava caminhar cerca de 50 minutos, faça chuva ou sol. Ainda assim, jamais desanimou.
Em 2012, veio a primeira oportunidade como profissional no Pinhalzinho, time da segunda divisão do futsal catarinense. No ano seguinte, Pito foi contratado pelo Concórdia, onde ganhou destaque nacional ao levar a equipe ao vice-campeonato da Liga Nacional, um feito inédito até então. Foi esse desempenho que abriu portas para que ele se tornasse uma referência no futsal brasileiro.
Consolidação no Brasil e a primeira convocação para a Seleção Brasileira
Com a visibilidade conquistada em Concórdia, Pito chamou a atenção do tradicional Carlos Barbosa, clube com forte tradição no futsal brasileiro. Entre 2014 e 2015, viveu uma fase vitoriosa, conquistando a Liga Nacional, a Taça Brasil e o Campeonato Gaúcho.
Foi nesse período que a Seleção Brasileira bateu à porta. A primeira convocação aconteceu em 2014, para disputar o Grand Prix Internacional. A experiência com a camisa amarelinha foi marcante, e Pito mostrou que estava pronto para desafios ainda maiores.
Em 2016, após uma passagem gloriosa pelo Carlos Barbosa, o pivô decidiu aceitar o desafio de atuar na Europa. Seu destino? A badalada liga espanhola de futsal, uma das mais competitivas do mundo.
A chegada à Europa e os primeiros títulos internacionais
Pito desembarcou na Espanha em 2016 para atuar pelo El Pozo Murcia, uma das potências do futsal europeu. Logo em sua primeira temporada, conquistou dois títulos importantes: a Copa do Rei e a Supercopa da Espanha.
O futsal europeu apresentou desafios táticos diferentes. O jogo era mais estratégico e menos físico do que no Brasil. Além disso, a adaptação cultural não foi simples. “Sou meio chato para comer, então no começo só comia fast food”, relembra Pito. Com o tempo, ajustou-se ao novo estilo de vida e consolidou sua carreira internacional.
Após três anos de sucesso no El Pozo, em 2019, Pito recebeu uma proposta irrecusável do Inter Movistar, um dos maiores clubes do mundo. Na primeira temporada, conquistou a Liga Espanhola, e nos anos seguintes, faturou a Copa da Espanha e a Supercopa da Espanha.
Seu talento era cada vez mais reconhecido, e o Barcelona, maior clube do futsal espanhol, decidiu contratá-lo em 2021.
Barcelona e a consagração no topo do mundo
Vestindo a camisa do gigante catalão, Pito alcançou seu auge no futsal mundial. Foram sete títulos em três temporadas, incluindo a cobiçada UEFA Champions League em 2022. Pelo Barcelona, também conquistou a Supercopa da Espanha, a Copa do Rei, a Copa Catalunya e duas edições da Copa da Espanha.
Seu impacto na equipe foi tão grande que, em 2024, Pito foi eleito o melhor jogador de futsal do mundo.
— “Ser eleito o melhor do mundo é uma honra enorme. O futsal tem jogadores incríveis, e saber que fui escolhido entre tantos craques me deixa muito feliz. Trabalhei muito para chegar até aqui, e quero continuar conquistando títulos”, disse o craque.
Mesmo com a conquista individual, ele manteve a humildade e celebrou a vitória de Diego, seu companheiro de Barcelona e Seleção Brasileira, que levou o prêmio no ano seguinte.
— “Se ele está bem e eu também, significa que nosso time está no topo. No fim, quem ganha é o Barcelona e o futsal.”
Brilho na Seleção Brasileira e o sonho de um legado
Vestindo a camisa da Seleção Brasileira, Pito brilhou nos maiores torneios do mundo. Foi campeão do Grand Prix (2014 e 2018), da Liga Sul-Americana (2016), da Copa das Nações (2023), da Copa América (2024) e da Copa do Mundo (2024).
A conquista do Mundial foi um dos momentos mais emocionantes de sua carreira. Levantar a taça com a Seleção Brasileira era um sonho de infância, e ele conseguiu realizá-lo com excelência.
Mas, além de títulos, Pito quer deixar um legado. Seu objetivo é que sua trajetória sirva de inspiração para jovens atletas que sonham em brilhar no futsal.
— “Quero que as crianças olhem para mim e pensem: ‘Eu me inspirei nele e segui no futsal’. Isso vale mais do que qualquer troféu.”
Com contrato com o Barcelona até 2026, ele ainda não descarta um retorno ao Brasil antes da aposentadoria. O único título que ainda falta em sua carreira é a Libertadores de Futsal, e esse pode ser o grande desafio de seus últimos anos como jogador profissional.
Fora das quadras: o pai dedicado e o homem por trás do craque
Fora das quadras, Pito dedica cada segundo livre ao filho. A rotina intensa de treinos e viagens faz com que ele valorize ainda mais os momentos em família.
Se pudesse conversar com o garoto que começou no futsal em Chapecó, ele diria apenas uma coisa:
— “Obrigado por nunca ter desistido.”
A história de Pito é a prova de que talento, dedicação e superação podem levar alguém do interior de Santa Catarina ao topo do mundo. E, com mais alguns anos de carreira pela frente, ele ainda promete escrever novos capítulos inesquecíveis no futsal.
