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O que ocorreu na sexta-feira (11) em São Paulo não foi apenas mais uma leva de temporais. Foi a grande oportunidade do clima mostrar, em pleno processo eleitoral, o engodo em que a Grande São Paulo se enfiou quanto à concessão de energia elétrica. O serviço da Enel atende apenas a região metropolitana mais populosa da América do Sul, mas a fiscalização do contrato compete ao Governo Federal, e não ao Governo do Estado.
Mas a Eletropaulo, estatal criada em 1981 e privatizada em 1998, cujo sistema foi comprado pela Enel em 2018, era de responsabilidade do Governo de São Paulo. No entanto, antes da Eletropaulo ser criada, a distribuição de energia elétrica para a maior cidade do país era feita pela Light, empresa carioca que, à época, era de propriedade do Governo Federal. Passando de mão em mão, o entendimento final foi de que a competência da fiscalização sobre a Enel deveria ficar com Brasília. Uma bagunça total.
Essa confusão, aliada ao mau serviço entregue pela concessionária italiana (e olha que nós confiamos nos ‘gringos’, vide TIM e Fiat), já tem uso político. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai a passos de tartaruga pressionar a Enel para que acelere o restabelecimento da força na Grande São Paulo. Guilherme Boulos (PSOL), candidato do Governo Federal para a Prefeitura da capital paulista, acusa o atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), de ser um dos culpados pelo caos. Oportunista!
Vejo que a morosidade dos entes federais em cobrar soluções para o apagão e abrir o processo de caducidade da concessão revela intenções eleitorais claras. Todos sabem que Nunes provavelmente será reeleito, mesmo com o dano eleitoral que venha do temporal. Conforme os institutos de pesquisa DataFolha, Fespsp, Paraná Pesquisas e Real Time Big Data, o candidato do MDB teria hoje (14), entre 57,5% e 62,5% dos votos válidos, contra 37,5% a 42,5% de Guilherme Boulos.
Com uma diferença mínima de 15 pontos percentuais, o desespero bate na esquerda. Quem olha o xadrez político sabe a importância que é ter a Prefeitura de São Paulo nas mãos. Significa ter cerca de 5% do eleitorado nacional a ser levado em conta nas projeções de alianças para as eleições gerais de 2026, e se tomarmos como exemplo as disputas presidenciais de 2014 e 2022, uma porcentagem dessas decide a eleição. Com esse contingente permanecendo nas mãos do MDB, a conversa fica ainda mais interessante…
Por fim, vale aqui puxar a brasa para o assado catarinense. Nossas Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), com o regime de empresa mista que possui o Governo do Estado como acionista principal, tem-se mostrado uma estatal eficiente. Pelos próprios clientes, a Celesc é classificada como uma das melhores empresas de energia elétrica do país, e ela não precisa ser privada para alcançar os bons índices de serviço que conquistou ao longo do tempo. A privatização só vale a pena quando há garantias de melhoria no serviço.
Recadinhos
- As primeiras pesquisas para a disputa pela Prefeitura de Fortaleza no 2º turno são de trancar a respiração. DataFolha e Paraná Pesquisas dão empate técnico entre os dois candidatos, na ferrenha disputa entre PL e PT.
- A janela aberta pelos levantamentos indica que André Fernandes (PL) teria hoje entre 51,1% e 52,8% das intenções de voto válidas, enquanto que Evandro Leitão (PT) teria entre 47,2% e 48,9%.
- No entanto, as margens de erro das pesquisas estão girando em torno de três a quatro pontos percentuais, o que faz com que essa janela estreita acabe por ficar mais aberta e encontrar os números dos dois candidatos.
- A capital do Ceará vive a reedição do acirramento federal que vivemos na disputa presidencial de 2022. Mas ao contrário da experiência anterior, neste momento, as pesquisas estão favorecendo o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.