quinta-feira, novembro 21, 2024
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Quinta da Opinião: A política brasileira – Entre a condenação e a reconstrução

Leia a coluna de Ricardo Cavalli na Quinta da Opinião

Foto: Advogado – Dr Ricardo Cavalli

Historicamente o brasileiro, na média, nunca foi um adepto da discussão propositiva e da participação ativa na política. Me refiro a participar ativamente do processo eleitoral.

Ainda continua sendo comum ouvir as pessoas dizendo que “todos os políticos são ladrões e não prestam” – “isso não é pra mim” – “não gosto de política” – “não tenho a mínima disposição de participar de reunião política”.

Um percentual ínfimo da população se filia a um partido político ou participa dos grupos de construção política, bem diferente dos EUA, onde uma parcela considerável da população está inscrita em algum partido. A propósito, apesar de parecer que nos EUA existem apenas dois partidos, existem muitos outros. Acredite se quiser: há mais partidos nos Estados Unidos do que no Brasil, todavia, os dois de maior expressão é o Democrata e Republicano, que venceram todas as eleições até agora. Se aqui nós temos, segundo o TSE, mais de 30 partidos, lá a lista pode chegar a quase 70.

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Esse cenário de corrupção e a má qualidade dos serviços públicos aliado a exposição que as redes sociais tem alavancado, gerou no cidadão brasileiro um sentimento potencializado e generalizado de condenação a política como um todo, muito maior que o sentimento UDENISTA dos anos 50.

Olhando um pouco mais pra trás, constatamos que essa visão, eu diria turva da política, não é novidade. Jânio Quadros, na campanha presidencial de 1961, popularizou essas ideias com o seu símbolo – a vassoura –  que varreria a política de toda a roubalheira. Prática semelhante à de Fernando Collor “o caçador de Marajás”; Jair Bolsonaro, que usou a expressão “a mamata vai acabar” nas eleições de 2018. Todos e outros também alardeavam o rompimento do sistema político tradicional, atualmente representado por Marçal

Para explicar aos mais novos, o termo “udenismo” se refere à União Democrática Nacional (UDN), partido conservador criado para combater Getúlio Vargas após o término do Estado Novo, em 1945. Expressão cunhada para retratar o moralismo que já naquela época tratava a corrupção como a principal chaga do Brasil, o que realmente é, e os políticos como seres corruptos que deveriam ser varridos do mapa.

Todavia, hoje e sempre, temos muito claro que a corrupção é um problema sistêmico, e não moral, e ela deve ser combatida trocando governantes corruptos por cidadãos probos, mas também por um sistema firme e intransigente de investigação e julgamento. Firme e intransigente não significa em desacordo com as regras democráticas ou devido processo legal.

A corrupção é uma das grandes mazelas da sociedade ocidental, enraizada nas entranhas da sociedade e não podemos de forma alguma nos conformar ou concordar com ela. O que difere o estágio de evolução de uma nação, justamente é o grau de intolerância e a capacidade de enfrentamento do desequilíbrio social causado pela pobreza acentuada, violência descontrolada e a corrupção como alavanca do meio político. Favorecimento, clientelismo e tráfico de influência são marcas registradas do processo político nacional.

Basta ver os cabos eleitorais, na maioria servidores comissionados. Os financiadores de campanha boa parte mantém negócios com os entes federativos ou estão lidando com eles. Há quem diga que temos mais pessoas querendo oferecer uma propina do que para recebe-las. Eu não acredito.

A corrupção por ser sistêmica, só pode ser atacada e combatida através de mudanças estruturais seguidas de uma conduta honesta dos cidadãos a iniciar pela escolha dos políticos que elege, inclusive avaliando quem financia as suas campanhas. Os agentes políticos são frutos da sociedade e os poderes econômico e político normalmente andam juntos.

Há que salientar que essa situação não pode defenestrar todos os políticos a vala comum da imprestabilidade. Ou insistir que a democracia é um sistema falido. Já disse isso outras vezes, a democracia não é uma dadiva dos Deuses ou da natureza, mas algo que está em constante construção, precisando ser continuamente conquistada. É frágil e se trata de um regime que constante é atacada. Para mantê-la e aprimorá-la é preciso firmeza na sua defesa e uma leitura correta das suas feridas e do que pode ser feito para curá-las.

A insatisfação popular com os governantes, transformou a política num campo de batalhada onde situações insanas se tornam ferramentas para atrair a atenção do eleitor, chegando ao ápice de episódios de confrontos físicos dos últimos debates. Seria anedótico se não fosse traumático. Não consigo rir disso.

Se por um lado temos um crescimento da atenção do cidadão médio nos rumos da política, por outro temos visualizado a degradação da boa política, onde os debates políticos se transformaram em batalhas culturais, nas quais o foco se desloca da discussão de políticas públicas para uma guerra de narrativas.

Vivemos num País que por suas características geográficas é privilegiado nas condições necessárias ao desenvolvimento.  Nos falta organizar a arena política, para que seja de fato campo de discussão de propostas e soluções, e não transformada em um verdadeiro show de bizarrices, onde o bizarro e o grotesco são valorizados.

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