O grau de investimento é um dos principais indicadores de confiança na economia de um país, atribuído por agências estrangeiras de classificação de risco. Essas agências avaliam a capacidade de um governo ou empresa de honrar seus compromissos financeiros e classificam os países em diferentes níveis, que servem como referência para investidores e influenciam diretamente os juros dos títulos públicos.
O que é o Grau de Investimento
O grau de investimento é uma nota concedida a países considerados de baixo risco para investidores. Ele funciona como um selo de bom pagador da dívida pública, indicando que o país tem uma baixa probabilidade de calote. Isso é diferente do grau especulativo, que sinaliza um maior risco de não pagamento. Quando um país perde o grau de investimento e os títulos são rebaixados para o grau especulativo, as condições de financiamento se tornam mais difíceis e os custos aumentam.
Principais agências de classificação
As três agências mais renomadas do mercado financeiro são Fitch, Moody’s e Standard & Poor’s (S&P Global). Elas monitoram periodicamente as condições econômicas dos países e emitem relatórios que são amplamente seguidos pelos mercados globais. Uma classificação positiva por essas agências permite que os países levantem recursos internacionais com custos menores e em melhores condições de pagamento.
Vantagens de uma boa classificação
Obter e manter o grau de investimento traz inúmeros benefícios para um país:
– Juros mais baixos: Um bom rating reduz os juros que o país paga ao emitir títulos no mercado internacional. Isso se traduz em custos mais baixos para financiar a dívida pública.
– Atração de investimentos estrangeiros: A classificação positiva atrai investimentos estrangeiros. Fundos de pensão, por exemplo, só investem em países com grau de investimento concedido por pelo menos duas das três principais agências.
– Confiança do mercado: Uma nota alta reforça a confiança do mercado na capacidade do país de cumprir seus compromissos financeiros, incentivando um ambiente econômico mais estável.
Histórico do Brasil
O Brasil foi elevado ao grau de investimento pela primeira vez em 2008, quando a S&P Global e a Fitch classificaram o país nessa categoria. A Moody’s fez o mesmo em 2009. No entanto, a partir de 2015, o Brasil começou a perder essas classificações. Em setembro de 2015, a S&P Global retirou o grau de investimento do país, seguida pela Fitch e pela Moody’s em 2016. Desde então, o Brasil tem sido classificado abaixo do grau de investimento.
Recentemente, houve uma mudança positiva: em outubro de 2024, a Moody’s elevou a nota da dívida pública brasileira de Ba2 para Ba1, um nível abaixo do grau de investimento. Atualmente, o Brasil está um nível abaixo do grau de investimento na avaliação da Moody’s, enquanto a Fitch e a S&P Global o mantêm dois níveis abaixo.
Esforço para recuperar o grau de investimento
Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o Brasil pode recuperar o grau de investimento até 2026, caso o governo mantenha seu compromisso com o controle de despesas e o aumento de receitas. Haddad destacou que essa possibilidade é uma “concreta” se o governo continuar a perseverar nos esforços fiscais e monetários. A declaração do ministro ocorreu após a recente elevação da nota brasileira pela Moody’s.
Avaliação da Moody’s e os próximos passos
A Moody’s ressaltou que a melhora na classificação do Brasil está alinhada com o crescimento robusto do Produto Interno Bruto (PIB) e com as recentes reformas econômicas e fiscais, como a reforma tributária. A agência afirmou que a reforma é um importante avanço para melhorar o ambiente de negócios e a alocação de recursos no país. Além disso, a agenda de transição energética do Brasil foi destacada como um fator que atrai investimentos privados e reduz a vulnerabilidade a choques climáticos.
No comunicado, a Moody’s também apontou que, apesar da dívida pública e dos juros elevados, o Brasil possui expressivos ativos líquidos e mantém uma postura de credor externo desde 2006, com reservas internacionais que superam a dívida externa. Além disso, o país se financia principalmente em moeda local, no mercado doméstico, o que reduz sua dependência de moeda estrangeira e minimiza riscos de mercado.
Esforço do governo e perspectivas
O governo brasileiro, segundo o Ministério da Fazenda, está empenhado em estabilizar a relação dívida/PIB e melhorar as contas públicas, com ações voltadas para o aumento da arrecadação e a contenção de gastos. Essas medidas, segundo Haddad, podem contribuir para a redução das taxas de juros e para a criação de um ambiente mais propício para a expansão dos investimentos públicos e privados.
A elevação da nota do Brasil pela Moody’s ocorreu uma semana após o encontro do ministro Haddad e do presidente Lula com representantes das três principais agências de classificação de risco em Nova York. A expectativa é que, ao manter um caminho consistente de ajuste fiscal e econômico, o país esteja em uma posição mais favorável para recuperar o grau de investimento nos próximos anos.
Críticas às agências
Apesar de serem referências globais, as agências de classificação de risco enfrentam críticas por erros de avaliação. Um exemplo foi a crise financeira de 2008, quando as agências atribuíram notas altas a operações imobiliárias de alto risco nos Estados Unidos, que mais tarde colapsaram e levaram a uma crise econômica global. Em 2013, a S&P Global foi investigada por suspeita de fraude na classificação de produtos hipotecários e acabou pagando uma multa de US$ 1,37 bilhão em 2015. Essas críticas ressaltam a necessidade de cautela ao se basear exclusivamente nas notas dessas agências para avaliar a situação econômica de um país.
Teremos juros mais baixos?
O grau de investimento é um importante indicador da saúde financeira e da credibilidade de um país. Para o Brasil, a recente elevação da nota pela Moody’s e as declarações otimistas do governo indicam que há um esforço significativo para retomar o grau de investimento. No entanto, essa conquista depende de uma série de fatores, incluindo a continuidade das reformas econômicas, o controle de gastos e a capacidade de manter uma trajetória estável para a dívida pública.
Enquanto o país trabalha para recuperar a confiança dos investidores internacionais, a classificação de risco continuará sendo um importante termômetro para medir os avanços econômicos e fiscais do Brasil nos próximos anos.