
Informações Universidade Federal da Fronteira Sul
O volume de chuva acumulado no mês de outubro deste ano trouxe um novo recorde para Chapecó, no Oeste de Santa Catarina. De acordo com dados da Epagri/Ciram, o total foi de 576 milímetros, o maior já registrado na cidade no mês de outubro, superando, com folga, o recorde anterior que era de outubro de 1979, com um acumulado de 477 milímetros.
Conforme o professor de climatologia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Chapecó, Andrey Binda, a média de longo prazo de outubro é na casa de 225 milímetros, o que mostra que o volume de chuva registrado foi mais que o dobro do esperado. Toda essa chuva, porém, não resultou em grandes inundações na cidade. Segundo Binda, uma das razões para isso foi a limpeza dos rios urbanos. “Diferente do ano de 2015, quando a cidade colapsou com diversos pontos de inundação, neste ano, locais que reconhecidamente eram crônicos, não registraram a ocorrência do fenômeno”, acrescenta.

Toda essa chuva, porém, é apenas uma amostra do que está por vir. Afinal, segundo o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), há uma chance de 80% de que o fenômeno El Niño, que está provocando isso, siga ativo pelo menos até o mês de maio de 2024.
El Niño
Embora todos saibam seu nome e sintam seus efeitos, poucos entendem o que é, de fato, o El Niño. O professor Binda, explica que o El Niño é uma das fases de um fenômeno que é chamado de El Niño Oscilação Sul (ENOS). Além da fase de El Niño, o ENOS é composto por outras duas, a neutra e por outra conhecida, a La Niña. Binda diz que existe uma interação constante entre o oceano e a atmosfera e, por esta razão, sempre ocorrem mudanças na temperatura superficial das águas do oceano Pacífico, que ora estão mais quentes (El Niño), ora mais frias (La Niña). Essas mudanças na temperatura do oceano afetam o clima em diversas partes da Terra. No caso específico do ENOS, as oscilações na temperatura das águas do oceano Pacífico é que ditam qual será a tendência do clima, especialmente na América do Sul.
De acordo com o professor, um fator que influencia na temperatura do oceano Pacífico, na região próxima da linha do Equador, são os ventos alísios. Nesta área do planeta, ocorre a convergência destes ventos, que quando se tornam mais fracos, permitem um aumento da temperatura das águas (El Niño). Pela dinâmica oceânica, as águas mais quentes se deslocam para o centro do oceano Pacífico e/ou para áreas mais próximas da costa da América do Sul e, consequentemente, influenciam na ocorrência de mais chuvas na região sul do Brasil e secas na porção norte e nordeste do país. A La Niña, por outro lado, acontece quando os ventos alísios se intensificam e, por consequência, deixam as águas do oceano Pacífico mais frias. As respostas na chuva é oposta ao El Niño, ou seja, menos chuvas na região sul e excesso nas regiões norte e nordeste,
Conforme o professor, os últimos anos, sobretudo, 2020 e 2021, tinham sido mais secos, pois estávamos sob a influência do fenômeno La Niña. As anomalias negativas da temperatura do oceano que imperaram nos últimos anos, passaram a partir do início do ano para o campo positivo, ou seja, as águas se tornaram mais quentes, caracterizando um novo episódio de El Niño. Segundo ele, há um “aquecimento anômalo desde a costa sul-americana que se estende até o oceano Pacífico central”.
Binda afirma que “nenhum El Niño que aconteceu é igual aos seus irmãos”, por isso não é possível “cravar” previsões sobre o evento atual. Porém, as condições de aquecimento no oceano são similares a outros anos, como por exemplo, 1982 e 1983, 1997 e 1998 e, mais recentemente, entre 2015 e 2016. “Se recordarmos, esses anos foram extremamente chuvosos na região sul”, comenta. Conforme o professor, a média de precipitação anual na região sul variam entre 1.600 a 2.000 milímetros e somente no mês de setembro deste ano choveu, por exemplo, quase 700 milímetros em Caçapava do Sul (RS), ou seja, em um único mês foi quase metade do volume previsto para todo o ano.