O ano de 2022 está no seu apagar de luzes e isso, quase como num ritual ocidental, nos faz avaliar o que fizemos, o que foi deixado de fazer e o que poderá ser realizado com mais acerto no próximo ano. Nesse exercício, naturalmente vem na nossa mente com grande intensidade a pergunta – desafios e oportunidades para o ano de 2023?
É inegável que boa parte dos brasileiros estão pesarosos com a instabilidade política que vivemos nesse ano, o que nos faz notar um certo pessimismo em parte da população, o que torço para ser superado brevemente.
Entretanto, além das questões internas do Brasil, houveram outras tantas que atingiram o mundo como um todo, pois mesmo passados os efeitos mais bruscos da pandemia do SARS/COVID, em 2022, testemunhamos mudanças radicais em vários aspectos: desde a invasão da Rússia na Ucrânia até a inflação ao estilo dos anos 1970 nas principais economias, que levou a um ciclo de alta de juros que desorganizou as economias ocidentais.
Nesse diapasão, nos vem a grande indagação, qual o ambiente que viveremos em 2023 e o que podemos fazer para alavancar nossas vidas a um patamar melhor?
No cenário mundial, a expectativa é que em 2023 a economia mundial cresça entre de 2 a 2,5%, após um avanço de 3% em 2022, com as economias desenvolvidas à beira de uma recessão, enquanto a recuperação na Ásia poderá ser alavancada pela superação dos obstáculos enfrentados pela China em 2022.
Na Europa, os aumentos dos preços e possível racionamento de gás pesarão sobre o consumo, e as medidas de economia de energia terão um impacto negativo sobre a produção manufatureira.
Nos Estados Unidos, deve ocorrer uma forte contração no consumo e no mercado imobiliário, induzida pelas maiores taxas de juros, enquanto a indústria enfrentará aumentos constantes de custo e um possível crescimento mais fraco no comércio internacional.
A expectativa é que haja um alívio na inflação, sobretudo nos Estados Unidos. Em 2023, tudo indica que ela ficará acima da meta de 2% definida pelos bancos centrais dos países desenvolvidos, embora em uma tendência mais favorável. A inflação nos mercados emergentes também deve recuar, embora ainda dependa dos preços das commodities e dos alimentos.
No campo das expectativas, temos que considerar ainda questões prementes que poderão variar o caminho desenhado pelos analistas, como o rumo do conflito na Ucrânia, as negociações sobre o impasse CHINA x TAIWAN e uma nova crise sanitária, que a gripe aviária já ascendeu a luz de alerta.
Essas condições mundiais certamente poderão produzir efeitos na vida do brasileiro, mas não podemos em hipótese alguma desconsiderar as questões internas da nossa economia, pois inegavelmente as medidas que foram sendo tomadas no campo econômico no decorrer do período da pandemia, ainda influenciarão os números do equilíbrio fiscal brasileiro.
A grande quantidade de recursos que desaguaram nos cofres dos entres Federados (Estados e municípios) oriundos da algibeira da UNIÃO (leia-se Brasília); os incentivos fiscais que diminuíram a arrecadação; a prorrogação das dívidas da União (precatórios) que venciam no ano de 2022 e a ampliação dos auxílios emergenciais que se estenderam para o ano de 2023, geram efeitos na economia interna, alguns instantâneos e outros retardados, que serão colhidos ao longo do tempo.
Essas medidas, que se digam, todas necessárias ao seu tempo, demandam atenção triplicada da sociedade e dos órgãos fiscalizadores para que os rastros delas não criem um círculo vicioso de derretimento das âncoras econômicas brasileiras construídas nos últimos 30 anos. Essas âncoras (estabilidade fiscal e inflacionária), nos guindaram a participar do grande mercado mundial.
Nesse ponto convém destacar que economias em desarranjo não conseguem navegar com desenvoltura nas águas do grande mercado mundial, nitidamente pela desconfiança que se cria por parte dos compradores e investidores. Convém asseverar que apesar da qualidade dos seus produtos de exportação, a descredibilidade gerada pela desorganização organização política e social, assim como pelo verdadeiro atoleiro que se encontra sua economia interna, deixa os nossos vizinhos lindeiros, os Hermanos argentinos, relegados a uma condição de nação fornecedora de terceiro escalão no organograma do mercado mundial.
Na vida real, apesar de encontramos pessoas desanimadas e querendo jogar a toalha, nos deparamos também com outros tantos, que como bons brasileiros, estão se fortalecendo, como sempre, na confiança da potência inigualável que é o Brasil.
Se existem pensamentos divergentes, certamente existe um que converge na cabeça da maioria esmagadora dos brasileiros – do melhor gerenciamento dos recursos públicos, especialmente no que diz respeito a suntuosidade de gastos com a cúpula da administração pública, em todos os três poderes da República.
Mas nada acontece em um passe de mágica. A cada eleição realizada, ficam as lições. Se o resultado foi doce ou amargo, amplo ou apertado, serve o aprendizado para que os vencidos amadureçam e exerçam com muita força a acima de tudo, com sensatez, o indispensável poder de oposição, que é o contraponto político para os atos de governo.
Qualquer bom projeto que tenha o Brasil como destinatário, para ser perene, requer conversa, organização, planejamento, ação, e acima de tudo, sensatez!
Nesse contexto, a coesão, a firmeza de propósitos e a sensatez da população serão essenciais. Só assim conseguiremos exigir dos governantes, parlamentares e agentes públicos, em todos os níveis da Federação, que encarem e enfrentem os desafios que se apresentarem, tendo nitidamente em seu pensamento que devem gastar adequadamente os recursos arrecadados e que a nação brasileira não suporta e não tolerará aumento de impostos.
Precisamos, além disso tudo, já no campo da filosofia, de um grande esforço coletivo para mantermos nossos índices de otimismo e assim consigamos trilhar com tranquilidade o nosso rumo.
Feliz 2023!
Trilhar o nosso rumo
Leia a coluna de Ricardo Cavalli na Quinta da Opinião
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