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Crônicas do Terminal Urbano II

Leia a coluna de Vitor Marcelo Vieira na Quinta da Opinião

A sexta-feira dia 14 de abril foi mais um dia comum de final de tarde. Cheguei ao Terminal Urbano de Chapecó e como de costume mais uma vez avistei vários estudantes que ali passam e chegam a todo momento vindo ou indo para a escola, para a universidade ou para suas casas. Quando eles me avistam, prontamente me cumprimentam, mesmo quando estão na plataforma do outro lado da rua.

Nesse dia eu lembrei que uma professora minha havia me dito uma vez que a coisa mais espetacular para um aluno ou aluna é ver seu professor ou professora fora da sala de aula, fora da escola. Enquanto caminhava para a plataforma de meu ônibus, mergulhado em pensamentos, lembrava das vezes quando algum aluno passava por mim na rua com sua família. Ao me avistarem logo falavam “mãe, pai, olha o professor”. E realmente, para um estudante ver seu professor fora da sala, é um evento extraordinário.

É como se o professor fosse um ser de outro mundo. Não é humano. Mas lá estava eu, caminhando a passos lentos para minha plataforma. Eu ainda tinha meia hora até que meu ônibus chegasse. Enquanto isso observava algumas portas de comercio fechando no final daquela tarde. Vi com detalhes duas mulheres apressadas a retirar da calçada os manequins com roupas brilhantes e coloridas da atual estação outono. Do outro lado olhei para algumas barbearias que estavam movimentadas com alguns senhores sentados na cadeira do barbeiro que com maestria e atenção deslizava a lâmina pelo rosto do cliente, solícito e cuidadoso, mesmo num final de tarde em que as pessoas passavam para lá e para cá apressadamente a passos largos. Nisso lembrei de dias atrás quando estive numa dessas barbearias, já nem lembro em qual, pois ali são várias, para conhecer o cotidiano das pessoas que trabalham ali.

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Conversei com o proprietário e lhe perguntei sobre sua experiência. Me disse que por ali passam milhares de pessoas por dia, de todas as tribos, oriundas de todos os locais da cidade. Segundo ele, hoje em dia é um local tranquilo e que gosta de trabalhar ali. Contou que tem clientes de diversas classes sociais, e citou a presença empresários que tem o costume de vir ali. Contou também que sempre ouve muitas histórias enquanto corta o cabelo ou corta a barba do cliente. Histórias de vida de muitas pessoas que por ali passam. Enquanto pensava sobre essa minha visita à barbearia, observava a pressa frenética dos ônibus que se amontoam e imaginava “como eles conseguem passar rápido uns no meio dos outros?” Numa plataforma vi que tinha dois ônibus estacionados um do lado do outro e de repente já vinha outro que por ali passava rápido. Até pensei que ia bater. Que nada, passou rápido e estacionou na frente dos dois. Ainda bem. Em seguida, distraído voltei os olhos para quem estava dirigindo um ônibus que passava em minha frente e vi uma mulher conduzindo-o.

Era uma jovem senhorita, bonita, bem arrumada e uniformizada. Imerso em meus pensamentos me dei conta que não era nenhuma surpresa e um contentamento me tomou conta por ver que um olhar feminino conduz homens e mulheres até suas casas. Com habilidade e atenção ela conduzia o grande veículo. Logo vem correndo uma senhora e pergunta algo para a motorista. Ela educadamente informa a senhora gesticulando algo como se dissesse que a parada dela era do outro lado do terminal. Em seguida a porta se abre e os passageiros começam a entrar. Felizmente podemos contar com os serviços delas conduzindo passageiros. Isso é muito bom.

Quando volto meu olhar para trás, alunos me acenando, e novamente ouço a frase: “olha, o professor”. Tirei meu relógio do bolso e já estava na hora do meu ônibus. De repente vem um homem e diz que hoje era do outro lado. Atravessei a rua e me embrenhei no ônibus. Entrei, cumprimentei o motorista, paguei a passagem e me sentei, ônibus deu partida e iniciei uma conversa com o motorista. Falei que eu era professor de História e Sociologia e ele além de trabalhar ali me disse que estuda no Instituto Federal de Santa Catarina, IFSC de Chapecó.

Sempre atento ao trânsito e as várias paradas do ônibus, me contou que seu curso é diurno, manhã e tarde, e que muitas vezes vai direto do estudo para o seu trabalho. Falamos sobre as dificuldades de estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Mas parecia feliz, ao me contar que está cursando ensino superior na área de tecnologia. Chegamos na primeira parada, as pessoas entram e todas elas o cumprimentam.

São jovens, senhoras, senhores, a maioria indo para casa após uma jornada de trabalho. Seguimos, e ele me falava da ótima formação que está tendo, pois seus professores são bem formados em universidades de conceito no Brasil e no exterior. Percebi que se orgulha de seu curso e que tem ótimos professores. Teceu grandes elogios ao IFSC de Chapecó, à sua vanguarda nas questões tecnológicas. Seu nome é Rafael e lhe desejei sucesso na sua trajetória. E esse foi mais um final de dia no Terminal Urbano de Chapecó.

Desci do ônibus e segui para minhas convenções no meu lar. Sendo assim, meus caros leitores, nesta véspera de feriado de Tiradentes, resolvi escrever mais uma experiência no Terminal Urbano, pois muitos de nós, assim como o mártir da Independência, buscam uma vida feliz para si, seus familiares e para toda a sociedade brasileira. Então, somos todos e todas Tiradentes, neste e em todos os dias. Tiradentes somos nós, motoristas, professores, passageiros deste ônibus que nos conduz em direção a um destino. Obrigado e um grande abraço e ótimo feriado.

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