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A maquinaria escolar

Leia a coluna de Vitor Marcelo Vieira na Quinta da Opinião


A categoria “maquinaria”, que tomo emprestada é de Michel Foucault. Ele usa tal conceituação para designar os mecanismos de controle usados em instituições disciplinares como, por exemplo, em escolas e conventos no século XVIII. Segundo o autor “As instituições disciplinares produziram uma maquinaria de controle que funcionou como microscópios do comportamento”. Nessa visão, o espaço escolar se torna por excelência o local onde acontece a repartição dos corpos, colocando em lugares diferentes “fracos e fortes”, “atrasados e adiantados”, premiando, sancionando e promovendo. As crianças e adolescentes se tornam participantes e atuantes dentro desse sistema, são promovidas de acordo com seu “grau” de conhecimento, permitindo que algumas avancem e outras não.

Na escola existe um cerimonial representativo que classifica e dividem os sujeitos, feito por um grupo que tem o seu poder legitimado pelos próprios atingidos por esta educação, pois as crianças e os familiares participam e legitimam esse poder. Esse tipo de separação dos sujeitos e o poder sobre eles tem como raízes no estudo do efeito do Panóptico de Bentham, modelo de prisão do século XVIII, que exercia uma vigilância constante sobre o preso fazendo com que ele próprio participasse do funcionamento automático do poder.

Foucault, em seus estudos afirmou que o Panóptico é uma máquina maravilhosa que fabrica a partir dos desejos mais diversos, efeitos homogêneos de poder. O filósofo afirma que ele desindividualiza o poder. Na falta do diretor da instituição, qualquer um pode exercer esse poder. A partir dos seus estudos, é possível analisar o funcionamento nas escolas nos dias atuais, pois no andamento do processo educacional há continuidades e realocações, ou seja, os mecanismos de poder se deslocaram para outras formas, mas a tradição da cultura escolar, persiste. Assim, é possível identificar essa cultura nos dias atuais entre os quatro muros das escolas. Não é necessário a “mão e os olhos” da “suprema” diretora ou diretor, para fazer funcionar o “cerimonial do poder”, pois “quem está submetido a um campo de visibilidade, e sabe disso, retoma por sua conta as limitações do poder”.

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É bom lembrar, que todos os governos no Brasil sempre focaram no ambiente escolar para iniciarem seus projetos de nação. Esse local é por excelência onde a disciplina e a ordem sobre os sujeitos se assenta. É possível observar muitas ações desenvolvidas nas escolas ao longo da história. No século XIX forjou-se um projeto de higienização para o Brasil, calcado na ciência. Essa medicina higiênica implantou um modelo amparado na razão médica. O espaço de difusão desse saber? A escola, é lógico.

Ainda no século XVIII, a saúde e o bem-estar físico tinham um objetivo, o de regular uma ordem “higiênica”, que era disseminada também pelas instituições de caridade e religiosas. Estas atribuições higiênicas vinham acompanhadas de atividades de distribuição de vestuário, amparo a crianças pobres abandonadas, educação moral e vigilância sobre mendigos e indigentes. Esses elementos citados fazem parte de uma tradição nos escritos sobre História da Educação, linha na qual desenvolvo minhas pesquisas. O controle do corpo segue sendo um mecanismo eficiente no espaço escolar. Pode ser entendido como um esforço de um processo civilizador que percorre os corredores e se abriga nas salas de aula. Caro leitor/a, espero que este breve texto tenha ajudado a compreender um pouco como as relações sociais acontecem entre os quatro muros das escolas. Voltarei com esse tema na minha próxima coluna. Abraços

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