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Verão terá temperatura acima da média em SC: confira recomendações para a agropecuária

As chuvas devem ficar dentro da média histórica, mas em dezembro os totais devem ser mais baixos no Oeste; Estação começa oficialmente no dia 21 de dezembro

Foto: Ricardo Wolffenbüttel/Secom

O verão deve ser de temperatura acima da média em Santa Catarina. Diante deste cenário e da possibilidade de ocorrerem ondas de calor que podem afetar a produção agropecuária, a Epagri apresentou, em evento on-line na tarde desta terça-feira (07), com as recomendações de manejo adequadas para mitigar possíveis efeitos na produção de alimentos do calor e da radiação solar exagerada. Também foram apresentados novos avisos meteorológicos que podem ser emitidos pela Epagri/Ciram durante o verão. A estação começa oficialmente no dia 21 de dezembro.

A meteorologista da Epagri/Ciram, Gilsânia Cruz, relatou que os meses de dezembro, janeiro e fevereiro devem ter temperaturas acima da média climatológica no Estado, “ou seja, um verão mais quente do que o normal, com massas de ar quente frequentes e duradouras”, explicou. Já as chuvas devem ficar dentro da média histórica, mas em dezembro os totais devem ser mais baixos no Oeste.

Ela também apresentou o protocolo estabelecido para os novos avisos que poderão ser emitidos pelo Centro no verão. O aviso de temperatura alta será emitido quando a previsão de temperatura máxima for igual ou superior a 35°C nas regiões Oeste, Meio-oeste, Litoral e Vale do Itajaí, e variando de 32°C a 34°C nos Planaltos Sul e Norte. Já o Aviso de onda de calor ocorrerá quando a previsão for de temperatura de 2°C acima da média climatológica para as regiões do Estado, por um período de cinco ou mais dias consecutivos. Ambos serão emitidos num período entre 24 e 48 horas de antecedência ao evento climático. Ela destacou que, nos casos de ondas de calor, as noites também ficam mais quentes, o que favorece um desconforto maior às pessoas e pode sobrecarregar o fornecimento de energia elétrica em decorrência do uso de ar-condicionado.

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O evento também serviu para que o gerente de extensão da Epagri, Darlan Rodrigo Marchesi, repassasse às lideranças agropecuárias as recomendações de manejo de plantas e animais, diante da ocorrência de ondas de calor ou temperaturas altas extremas.

Pecuária de leite

O calor pode afetar a pecuária de leite, comprometendo a produção de pasto, reduzindo o consumo de alimento pelos animais, aumentando a necessidade de água, comprometendo a produção de leite e aumentando o risco de acidose ruminal.

Para reduzir o estresse térmico nos animais, a recomendação é de oferecer sombra às vacas sempre que a temperatura estiver acima dos 24°C. A sombra pode ser natural, através do uso de árvores, ou artificial, empregando cortinas portáteis ou permanentes, por meio de malhas que bloqueiam a radiação solar em mais de 80%. Recomenda-se uma área de sombra de 4m² por vaca. Também podem ser utilizados ventiladores com aspersores, mas sua eficiência é reduzida em condições de alta umidade do ar, e sua principal desvantagem está associada ao custo versus benefício.

Água limpa e fresca, com temperatura abaixo de 20°C, deve estar sempre disponível na sombra ou em áreas protegidas da radiação solar. A água deve estar perto de onde as vacas ficam, preferencialmente dentro dos piquetes ou nos chamados piquetes de descanso, com espaço suficiente para todos os animais terem acesso.

Recomenda-se que no verão a ordenhas se realizem entre as cinco e seis horas pela manhã, e das seis às sete horas no período da tarde.

Também são necessários cuidados com a nutrição dos animais. É preciso aumentar a densidade energética da dieta, utilizando ingredientes com alto teor de óleo ou gordura, que não produzam calor de fermentação, além de fazer uso de nutrientes protegidos. Ainda é importante balancear a dietas das vacas com menos de 65% de proteína degradável no rúmen, utilizando soja tostada ou soja extrusada na formulação das rações. É recomendável adicionar agentes tamponantes à dieta para estabilizar o pH ruminal (dietas com 0,5% de sódio e 0,3% de magnésio).

Ainda dentro da estratégia alimentar é recomendável diminuir a participação de alimentos fibrosos e de baixo teor energético, como os fenos. As vacas devem ocupar piquetes novos no início da manhã e no final da tarde após as ordenhas. Durante à tarde as vacas em lactação devem receber uma pequena quantidade de silagem de milho (6 a 8kg de MV) de alta qualidade mais 1kg de alimento concentrado.

Em princípio, recomenda-se não inseminar vacas e novilhas no período de verão. Em relação às raças, alguns estudos demonstram que vacas da raça Jersey, ou os seus cruzamentos, especialmente com genética da raça pardo suíça, apresentam maior resistência à radiação solar e ao estresse térmico.

Maricultura

O aquecimento das águas estimula a desova e gasto de energia das ostras, o que provoca estresse e pode levar à mortalidade. A faixa ideal de temperatura para a ostra é entre 18 e 23°C.

O mexilhão sobrevive entre 5 a 30°C, sendo sua faixa ideal entre 21 a 28°C. A manutenção da temperatura de 30°C por vários dias pode levar à mortalidade em massa do estoque sob cultivo.

A recomendação aos maricultores é manterem-se atentos aos avisos emitidos pela Epagri/Ciram e estocar sementes de ostras antes do verão.

Piscicultura

A elevação da temperatura da água produz uma diminuição no oxigênio dissolvido e um aumento de sua demanda por parte dos organismos. Os peixes tornam-se susceptíveis a enfermidades, distúrbios da fisiologia normal, parando de se alimentar, especialmente os peixes de águas mornas (carpas e tilápias).

A produção de trutas poderá ser afetada, pois caso a água alcance patamares acima de 25°C há riscos de mortalidade dos peixes. A tilápia convive bem com temperaturas de cultivos 26 e 30°C, mas a acima deste patamar, o crescimento, consumo de alimento, conversão alimentar, reprodução, imunidade ficam comprometidos, levando até a mortalidade.

Em tanques escavados, pode haver indiretamente uma estiagem associada a estas ondas de extremo calor, diminuindo a renovação satisfatória de água dos viveiros (4-7%).

Na truticultura é indicada a diminuição da lotação, de acordo com recomendações técnicas quanto ao oxigênio dissolvido na água. Também é apropriado diminuir alimentação no período de estresse térmico. Outra providência importante é manter fontes de abastecimento para manter a renovação e o nível de água dos viveiros e dos tanques.

O manejo correto de aeradores é uma recomendação para todas as espécies de peixes. É importante que ele seja ligado nos momentos mais quentes. Outra providência necessária é manter os viveiros com nível máximo de elevação de água, possibilitando a redução da amplitude térmica da água em relação à ambiental. Quando a temperatura da água de cultivo estiver acima de 30°C, os manejos de biometria, povoamento e transferência devem ser evitados. Os animais não devem ser alimentados em temperaturas acima de 32°C.

Horticultura

Nas regiões de maior altitude, onde as temperaturas diurnas e noturnas são menores, como na Serra Catarinense, o verão é favorável ao cultivo de hortaliças como as folhosas principalmente alface, rúcula e temperos verdes. Também favorece as cucurbitáceas como abóboras e morangas, tomates, pimentão, além das brássicas como repolho, couves, brócolis e couve flor.

Já nas regiões mais quentes do Estado, principalmente no Litoral, Oeste, Extremo Oeste e Vale do Rio Uruguai, a radiação solar excessiva e o calor podem afetar cultivos de folhosas, que apresentam grande suscetibilidade.

Algumas possibilidades associadas podem colaborar para cultivos mais tolerantes aos estresses térmicos e de excesso de radiação solar. O uso do sistema plantio direto de hortaliças (SPDH) é uma ótima estratégia para enfrentamento de estresses, inclusive térmico. Para isso há necessidade de planejamento e aprimoramento na execução, principalmente no uso de plantas de cobertura de solo, de boa qualidade e quantidade adequada de palhada que amenizam altas temperaturas e reduzem as perdas de água.

Também é importante escolher cultivares com maior tolerância à elevadas temperaturas, principalmente nos cultivos de folhosas e em brássicas. Exemplos são cultivares de alface tolerantes ao florescimento antecipado e de brássicas onde algumas cultivares tem condições de enfolhamento e proteção das inflorescências.

Outra possibilidade é proteger ou cobrir a produção com telas refletoras. No mercado, há diferentes opções para o sombreamento artificial, que variam de 35% a 75% de sombreamento. É importante ficar atento para não utilizar sombra excessiva, o que pode afetar negativamente o desenvolvimento das plantas.

Em altas temperaturas, a evapotranspiração é muito ampliada, por isso o uso de irrigação, além de repor a água, pode favorecer o arrefecimento das plantas, reduzindo o estresse. Mas para os resultados serem adequados é necessário planejamento, que inicia na capacidade de armazenamento de água, escolha do método de irrigação e uso adequado da água irrigada. O volume de água, o método e o momento da irrigação são fundamentais para obter o efeito desejado. O uso de irrigação por aspersão também tem efeitos de amenizar a temperatura ambiente e dos solos. A irrigação deve ser utilizada de forma preventiva, em horários que antecedem às horas mais quentes do dia e perdurar por período que ofereça condições de enfrentamento do calor.

Outra estratégia utilizada por agricultores é o uso de um fixador ou prendedor para manter as folhas das brássicas inclinadas sobre as inflorescências, ampliando a proteção. É importante também plantar as mudas em horários mais amenos, garantindo que o solo tenha umidade suficiente ou irrigando para favorecer a pega das mudas. Também é importante o uso de mudas de qualidade bem formadas e no ponto certo de transplantio, para o pegamento e desenvolvimento das plantas.  O uso de cobertura de telas pode ser uma opção.

Os cultivos em abrigos oferecem algumas possibilidades para auxiliar no controle da temperatura interna: uso de microaspersores para nebulizar o ambiente no período de altas temperaturas; manejo e abertura das telas laterais para facilitar a circulação do ar; cobrir os abrigos com tela.

Fruticultura

Espécies tropicais, como maracujá, também podem apresentar limitações produtivas sob estresse térmico e solar ocasionado por altas temperaturas e radiação excessiva. Os principais distúrbios são relacionados ao pegamento de frutos e questões nutricionais. A recomendação para os dias de calor é antecipar o horário de polinização manual e usar a irrigação se necessário.

Já em cultivos de videira, o calor, que normalmente está associado à radiação solar intensa, pode ocasionar queima de frutos. Nestes casos, as alternativas são o uso de telas protetoras e planejamento da poda verde para que auxilie na proteção dos frutos. Também é preciso ter atenção para a umidade do solo, visto que, em determinadas situações, o uso de irrigação complementar é necessário.

Cultivos de melancia e melões podem ser afetados, principalmente pelo excesso de evapotranspiração, ocasionando murchas nas plantas. Neste sentido, o uso de irrigação em volume de água e frequência adequados promove maior conforto. Outro dano possível ocasionado pelo excesso de radiação solar é queima de frutos, nesta situação, o uso de mantas protetoras nos frutos e o bom desenvolvimento da vegetação podem reduzir o problema.

Arroz irrigado

A temperatura é o principal parâmetro climático que afeta a produtividade do arroz irrigado. Temperaturas superiores de 35°C na fase de diferenciação do primórdio floral e antese, bem como temperaturas superiores a 38°C na emergência da panícula, elevam o percentual de esterilidade, resultando em falhas de grãos. A ocorrência de temperaturas médias e altas acima das normais históricas pode encurtar o ciclo das lavouras.

O planejamento da lavoura com semeaduras em épocas indicadas no zoneamento para a cultura é fundamental. No caso de ocorrência de ondas de temperaturas acima do normal, uma elevação do nível da água atenua o problema, pois a água tem um efeito termorregulador.

Feijão

As temperaturas acima de 35°C são prejudiciais ao feijoeiro, se coincidirem com a fase de florada, provocando o abortamento de flores. As lavouras da safrinha poderão ter problemas também na fase de germinação e estabelecimento de plantas, caso as altas temperaturas venham acompanhadas de estiagem e as reservas hídricas do solo fiquem comprometidas.

Atrasar alguns dias a semeadura da safrinha pode atenuar o problema inicial, entretanto, poderá haver problemas com geadas precoces. A recomendação básica nesse caso é sempre respeitar o período de semeadura de acordo com o zoneamento para a cultura.

Milho

As temperaturas mais elevadas poderão ser problema caso venham acompanhadas de déficit hídrico em consequência de estiagem, pois este cenário aumenta a evapotranspiração das plantas. As fases mais críticas coincidem com o pendoamento (polinização) e enchimento de grãos. Neste caso, temperaturas acima de 33°C reduzem sensivelmente a germinação do grão de pólen, causando esterilidade e resultando em espigas com menor número de grãos.

A semeadura do milho em épocas tardias pode agravar o problema, no caso de ocorrência de um verão com temperaturas máximas acima da média histórica. Fora da época crítica, as temperaturas altas não trazem muitos problemas para a cultura do milho, se houver armazenamento de água adequado no solo.

O milho cultivado em sistema de semeadura direta, com camada adequada de palha no solo (cobertura do solo), pode atenuar o problema das altas temperaturas, pois reduz a temperatura do solo e a evaporação.

Soja

A cultura da soja se desenvolve em ampla faixa de temperatura, sendo que cada fase conta com a temperatura ideal. No período de germinação, desenvolvimento inicial e vegetativo, a temperatura ideal é de 31,5°C e 25,1°C para o período reprodutivo. De maneira geral, a soja passa a ter problemas com temperatura acima dos 40°C, chegando a paralisar seu desenvolvimento e causando o abortamento de flores.

Quanto mais avançado o estágio de desenvolvimento da cultura, menor é a tolerância à altas temperaturas. Atualmente as lavouras catarinenses de soja se encontram em diferentes fases de desenvolvimento. No Oeste, a soja está em pleno florescimento, enquanto que no Planalto e Meio Oeste as áreas estão em conclusão de semeadura, por exemplo.  

O problema gerado pela alta temperatura pode se agravar se associado ao déficit hídrico, causando o encurtamento do ciclo da cultura, além dos demais efeitos citados.

Condições das lavouras

Durante a reunião, o analista de socioeconomia da Epagri/Cepa, Fernando Vieira de Luca, apresentou a condição atual das principais lavouras do Estado e as perspectivas de produtividade.

O milho grão primeira safra está com 91% das lavouras em boas condições até o momento e perspectiva de produtividade de 8.459,3 kg/ha, crescimento de 20,6% em relação ao ciclo agrícola passado. No caso do milho silagem, 93% das lavouras catarinenses estão em boas condições, com previsão de produtividade de 42.015 Kg/ha, crescimento de 35,7% na comparação com a safra anterior.

A Epagri/Cepa calcula ainda que até o momento 95% das lavouras de soja estão em boa condição em Santa Catarina. A produtividade deve ficar em 3.796 kg/ha, crescimento de 7,7% em relação ao ciclo agrícola anterior.

Também foram apresentados os números da primeira safra de feijão 2021/22 no Estado, com 86% das lavouras catarinenses em boa condição. A perspectiva de produtividade é de 2.215,8 kg/ha, aumento de 18,6% em relação ao período anterior.

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