
As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul no ano passado deixaram marcas que ainda são visíveis na vida dos moradores. O desastre, que atingiu 478 municípios e 96% do território estadual, resultou em 184 mortes e 25 desaparecimentos, além da destruição de milhares de casas e da infraestrutura local.
Em cidades como Roca Sales, no Vale do Taquari, a reconstrução avança lentamente. No auge da tragédia, moradores como Maurício enfrentaram jornadas de até 10 horas a pé para buscar socorro. A cidade, que perdeu 17 vidas, hoje comemora conquistas como a reconstrução do posto de saúde e melhorias nos acessos viários. Entretanto, 150 famílias ainda aguardam a construção de novas moradias, dependentes de acordos entre prefeitura e governos estadual e federal.
Outras cidades, como Muçum e Sinimbu, também lutam para superar os danos. Em Muçum, onde 80% da área urbana ficou submersa, muitos moradores ainda vivem em situação de risco. Já em Sinimbu, nove pontes destruídas e estragos estruturais atrasam a recuperação.


Em Lajeado, apesar de danos menores em comparação a outras cidades, a normalização do tráfego ocorreu apenas recentemente e a construção de 600 novas casas segue em andamento. Huber, morador da cidade, recorda as dificuldades no transporte durante a enchente: “As botas colavam no barro, era preciso puxá-las com as mãos para conseguir seguir andando.”
Além das perdas materiais, a tragédia deixou feridas emocionais profundas. Dona Rosane, de Muçum, relata crises de ansiedade ao lembrar das enchentes: “Até para dormir agora eu tenho que tomar remédios.”
O desafio da reconstrução é enorme: 2.405 casas foram destruídas em todo o estado e mais de 81 mil pessoas ficaram desabrigadas. Mais de 8 mil famílias receberam apoio para aluguel ou foram alojadas em casas temporárias. As cicatrizes da tragédia revelam a força de um povo que, apesar das perdas, segue lutando para reconstruir suas vidas.