Oscar de Melhor Filme para Forrest Gump, exibição da novela Irmãos Coragem na TV Globo, lançamento do álbum The Bends da banda britânica Radiohead, início da operação comercial da internet no Brasil e o Botafogo é campeão brasileiro pela primeira vez. O ano era 1995. Data que também marca o início da Geração Z, faixa que contempla jovens nascidos de 1995-2010 e que hoje já ultrapassam a casa de 30 milhões de brasileiros.
Esses jovens são um desafio para as empresas, pois nasceram no ambiente digital e são altamente influenciados pela tecnologia, que moldou suas preferências e comportamentos de consumo, como explica Valéria Feijó, PhD em Design, pesquisadora e professora universitária. “Por estarem muito conectados, a Geração Z sente-se mais próxima das marcas e se relacionam com elas como se fossem pessoas. Para essa geração, a marca são as pessoas e, por isso, devem ser feitas por pessoas. A Geração Z é uma geração que busca por propósito quando consome”.
E quando falamos em propósito, diferente das instituições financeiras tradicionais, o sistema cooperativista também é movido por propósito que em muitas vezes estampa paredes de agências e está presente na fala de lideranças, que reforçam o compromisso do segmento com a sociedade: o que é investido volta para as comunidades.
Assim funciona o cooperativismo, um modelo econômico-social pautado na distribuição da riqueza de forma proporcional ao trabalho de cada associado. Segundo a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), 12% da população mundial é associada a uma cooperativa. No Brasil, o último Anuário do Cooperativismo trouxe que o país conta com mais de 20,5 milhões de cooperados. Contudo, o número por faixa etária não foi disponibilizado.
Fazendo um recorte mais próximo, o Sicoob MaxiCrédito, cooperativa que atua em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, viu o número de associados da Geração Z crescer em 6,71% nos últimos cinco anos. Esse público representa, hoje, mais de 17% dos 260 mil associados. Para Felipe Lazzaretti, coordenador de Desenvolvimento de Mercado, esse acréscimo representa a renovação da base de associados, principalmente quando falamos no envelhecimento da população.
Dê-me autonomia (e me responda rápido)
Valéria comenta que a Geração Z é conectada, ágil e busca ser atendida da sua maneira, aliando comodidade e autonomia. “Esses jovens tendem a se comunicar com as marcas de maneira mais informal e instantânea”. Felipe reforça que esses hábitos já mudaram a forma da cooperativa atender o público. “Somos abordados de uma forma diferente das gerações anteriores. Nossa preparação enquanto cooperativa precisa ser mais profunda para atendê-los de forma consultiva. Eles sabem o que buscam”.
Um dos desafios das cooperativas também é em relação aos produtos ofertados, que precisam se diferenciar dos mesmos encontrados nas fintechs. O cartão de crédito e seu limite, é uma porta de entrada.
Jovens no verde
Uma pesquisa divulgada pelo Serasa no primeiro semestre de 2023 apontou que a Geração Z é a que apresenta o menor número de inadimplentes dentre todas as analisadas (12,8%). Dado que pode ser justificado pelo período marcar o início da vida financeira dos jovens, que em sua maioria ainda vivem com os pais.
Marcella Ziliotto Sant’Ana, 25 anos, de Chapecó (SC), faz parte desse grupo. Médica veterinária de formação, ela mora com os pais e a irmã e os ajuda a tocar o negócio da família: uma escola de educação infantil e ensino fundamental. Associada há mais de 10 anos, ela seguiu os pais, que também são cooperados do Sicoob MaxiCrédito. Essa é a única conta que ela movimenta, justamente pelo atendimento. “A qualquer momento do dia, quando eu preciso, minha gerente está ali para me atender com toda atenção do mundo”, conta.
Uma das maiores conquistas da jovem é seu cartão black “tão desejado”, segundo ela. Para Marcella, a relação de apoio e entendimento que as cooperativas têm com os jovens, “falando sua língua” é muito importante. “Principalmente quando se trata da vida financeira. Quero alguém que me entenda”.
Quem também pode contar com sua cooperativa foi a estudante de engenharia de produção Luana Zoldan, de 23 anos. Também moradora de Chapecó (SC), agora ela pode se locomover pela cidade com seu carro próprio. A conquista foi possível a partir de um crédito liberado pelo Sicoob MaxiCrédito. Além do carro, ela também já adquiriu um seguro automóvel. “Estou bem ansiosa para esse momento, ter um carro próprio vai me trazer uma independência maior, sem precisar depender outras pessoas”, compartilha.
Luana faz parte do cooperativismo há pouco tempo, assim como seu pai. Ambos abriram conta por incentivo do irmão. A estudante diz que tem vínculo com em outras instituições financeiras, mas que nota uma grande diferença entre os modelos. “Principalmente quando falamos em benefícios e facilidade na negociação”, diz.
Agro é tech, agro é pop
Falando em Geração Z, não podemos esquecer da nova geração do agronegócio. Um estudo recente da consultoria EY apontou que quase 60% dos empreendedores rurais no Brasil são formados por jovens entre 25 e 44 anos. A segunda geração do agro, como essa fatia de público é chamada, se preocupa com a integração de novas tecnologias e em manter a tradição que deu certo.
É assim para Vitor João Dalla Costa, 23 anos, morador da Linha Rodeio Bonito, no interior de Cordilheira Alta (SC). Assim como toda sua família, ele também é associado de uma cooperativa. Tem conta no Sicoob MaxiCrédito há mais de dois anos. “Sou muito bem atendido lá na agência. Pessoal é bem atencioso e dedicado, me sinto em casa quando estou lá”, comenta.
Vitor é agricultor e a sucessão familiar faz parte da sua realidade. Assim como os pais, ele já está trilhando seu caminho no campo. “Junto do Sicoob conquistei meu trator em 2021, um sonho que tinha desde criança”. Nas redes sociais, ele não deixa de compartilhar sua rotina na propriedade. Vitor é conectado e usa muito o WhastApp para falar com sua agência.
Incentivando a inovação
Um dos 7 Princípios do Cooperativismo destaca a importância das cooperativas para a “Educação, formação e informação” dos indivíduos, conceito que está diretamente ligado ao Startup Weekend. Henrique Silvani, Head de Inovação do grupo Conecta e mentor em diferentes edições do SW, explica que o evento fomenta a inovação por meio da educação empreendedora.
Durante um fim de semana, os participantes – em sua maioria jovens universitários – se reúnem para solucionar um problema proposto pela organização do evento, a partir da criação de startups. “Entre todos os estados do Brasil, Santa Catarina é um dos que mais recebe edições do SW, evento que muda a perspectiva dos participantes, apresentando metodologias, proporcionando networking e estimulando a criatividade”, comenta.
Nos últimos três anos, as edições de Chapecó receberam o patrocínio de duas cooperativas atuantes no município. Em muitos casos, esse é o primeiro contato dos participantes com o segmento cooperativista. “O evento é totalmente voluntário e, assim como o Startup Weekend, o cooperativismo tem em sua essência o retorno para a comunidade. Juntos fomentamos novos negócios, apoiamos jovens empreendedores e fortalecemos o mindset dos colaboradores das cooperativas, que também são convidados a participar. Investir em eventos assim é investir na comunidade”, finaliza.
Em sintonia com o cooperativismo
Everton Ezequiel Pinheiro, 21 anos, é estudante de Ciências Contábeis e colaborador do Sicoob MaxiCrédito há mais de um ano. Ele participou do último Startup Weekend de Chapecó, em agosto. “Participo do SW pelas oportunidades de networking e pela relevância das ideias e inovações para a comunidade. O evento aprimorou minhas capacidades profissionais, me permitindo lidar melhor com a diversidade”, relembra.
Para ele, o apoio da cooperativa em eventos assim é fundamental, além de estar alinhado com seu propósito pessoal. “Me importo com as causas que as marcas apoiam, especialmente quando estão relacionadas a projetos de impacto positivo na comunidade. No caso do Startup Weekend, está conectado com meu propósito pessoal, que é ajudar as pessoas a se desenvolverem e crescerem, assim como uma cooperativa, que tem o propósito de ajudar as pessoas a conquistarem seus objetivos, seja abrindo um novo empreendimento ou alcançando a tão sonhada casa”.
Propósito no discurso e na ação
Assim como Everton, Marcella, Luana e Vitor também se importam se as marcas estão alinhadas com seus valores. Que esse retorno que as cooperativas trazem para a comunidade é um diferencial, seja por meio de projetos sociais, taxas diferenciadas ou pelo incentivo ao empreendedorismo.
A verdade é que enquanto as cooperativas seguirem um propósito claro, demonstrando um compromisso genuíno com a comunidade e prezando o bom atendimento, elas não vão sair de moda.