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Em depoimento à PF, hacker conta que Manuela d’Ávila intermediou conversas com Greenwald

Informações G1

Foto: Marcelo Bertani/Agência ALRS/Divulgação

Preso pela Polícia Federal, Walter Delgatti Neto contou em depoimento à Polícia Federal na última terça-feira (23) como invadiu as contas do aplicativo de mensagens Telegram do ministro Sérgio Moro (Justiça) e de outras autoridades. O repórter Mahomed Saigg, da TV Globo, teve acesso com exclusividade ao depoimento.

No depoimento, Walter Delgatti Neto:

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– Conta como chegou aos arquivos de Deltan Dallagnol;

– Revela que a ex-deputada federal Manuela d´Ávila (PCdoB) foi a intermediária entre ele e o jornalista Glenn Greenwald, do Intercept, que começou a publicar o conteúdo das mensagens em 9 de junho;

– Diz que não recebeu nenhum dinheiro em troca do diálogo;

– E diz que sempre se comunicou com Glenn de maneira virtual, sem revelar a própria identidade.

Desde junho, o site Intercept Brasil, do jornalista Glenn Greenwald, publica reportagens com trechos de diálogos atribuídos ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, ex-juiz federal, e a integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato. O site não revelou a fonte nem como obteve os registros das conversas.

Walter Delgatti Neto e outros três suspeitos foram presos na última terça-feira, apontados como responsáveis pela invasão de telefones de autoridades. Segundo a Polícia Federal, mais de mil pessoas podem ter sido alvos do grupo.

De acordo com a transcrição do depoimento, concedido ao delegado Luiz Flavio Zampronha, na sede da Polícia Federal em Brasília, ele disse que não editou os diálogos e que não conseguiu obter nenhum conteúdo das contas do ministro Sergio Moro no aplicativo Telegram.

Acrescentou, ainda, que, por meio de um sistema de armazenamento de arquivos em nuvem, enviou os registros das conversas ao jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept.

“[Walter Delgatti disse] que pode afirmar que não realizou qualquer edição dos conteúdos das contas de Telegram das quais teve acesso. [Acrescentou] que acredita não ser possível fazer a edição das mensagens do Telegram em razão do formato utilizado pelo aplicativo”, diz trecho do depoimento.

Em outro trecho, Walter Delgatti Neto também afirmou que não recebeu dinheiro para hackear os telefones de autoridades e que “não exerce nenhuma profissão remunerada, obtendo seus rendimentos de aplicações financeiras que possui”.

“Perguntado como obteve recursos para compor suas aplicações financeiras, afirmou não saber”, diz trecho do depoimento.

Delgatti disse no depoimento que respondeu a dois processos criminais, “um por falsificação e outro por tráfico de drogas de remédios” e que foi absolvido em ambos. Afirmou ainda que aguarda o resultado de um recurso ao Tribunal de Justiça de uma condenação a 1 ano e 2 meses de prisão em um processo por estelionato, que tramitou na 1ª Vara Criminal de Araraquara (SP).

Como chegou aos arquivos

Logo no início do depoimento, Walter Delgatti – que disse sempre utilizar serviços de voz sobre IP (Voip) para economizar em ligações telefônicas – explicou aos policiais que descobriu como invadir as contas do Telegram ao fazer uma ligação para um médico, em março deste ano. O hacker disse que, no identificador de chamadas, substituiu o número dele pelo do médico, por meio do sistema de Voip.

Com isso, afirmou Delgatti, ele conseguiu acessar a caixa postal do telefone do médico e escutou todas as mensagens que estavam gravadas. A partir desse momento, revelou o hacker, ele percebeu que poderia obter os códigos do Telegram de outras pessoas acessando as mensagens armazenadas em correios de voz.

Segundo ele, antes de invadir celulares de autoridades, testou esse método de obtenção do código de acesso enviado pelo aplicativo de mensagens em sua própria conta do Telegram.

Após o teste, relatou Walter Delgatti aos policiais federais, ele começou a obter os telefones de autoridades a partir do acesso ao celular do promotor de Justiça Marcel Zanin Bombardi, de Araraquara (SP), que havia oferecido denúncia contra ele por tráfico de drogas.

Por meio da agenda da conta do Telegram do promotor, disse o hacker, ele teve acesso ao número de telefone de um procurador da República, que afirmou não lembrar o nome. O procurador participava de um grupo de mensagens chamado “Valoriza MPF”.

Com base na agenda desse procurador, relatou o hacker, ele conseguiu acesso ao número de telefone do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), que ganhou notoriedade ao atuar nas manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

De acordo com Delgatti, com base na agenda do Telegram de Kim Kataguiri, ele obteve o número de celular do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A partir do acesso ao celular do magistrado, contou, conseguiu o número de telefone do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

A partir da agenda de Janot, disse, chegou aos telefones de procuradores da República integrantes da força-tarefa da Lava Jato, entre os quais Deltan Dallagnol, Orlando Martello Júnior e Januário Paludo.

Walter Delgatti afirmou que todos os acessos às contas das autoridades ocorreram entre março e maio deste ano. Ele também disse que não acessou as contas de Telegram da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), do ministro da Economia, Paulo Guedes, “ou de qualquer outra autoridade do atual governo federal”.

A Polícia Federal identificou dentre os celulares de autoridades alvos de invasão de hackers os aparelhos dos presidentes da República, Jair Bolsonaro; da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ); do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); do Superior Tribunal de Justiça, ministro João Otávio de Noronha, e da procuradora-geral da República, Raquel Dodge.

O ministro Sergio Moro informou ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que ministros do STF foram alvos de invasão de celulares. Os celulares de 25 cinco procuradores também sofreram invasão, segundo a Procuradoria Geral da República.

Como chegou a Glenn Greenwald

Segundo o depoimento, Delgatti disse que buscou contato com o jornalista Glenn Greenwald por saber da atuação dele no caso relacionado ao vazamento de informações do governo dos Estados Unidos conhecido como caso Snowden.

Ele afirmou ainda que o conteúdo repassado a Greenwald foi obtido exclusivamente nas contas das autoridades no Telegram e que nunca recebeu nenhuma quantia para entregar o material ao jornalista.

Durante o depoimento, Walter Delgatti disse que chegou a Glenn Greenwald por meio da ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), ex-candidata a vice-presidente da República. Ele disse ter conseguido o telefone dela ao acessar a lista de contatos do Telegram da ex-presidente Dilma Rousseff.

Na sequência, Delgatti disse que, no Dia das Mães, ligou para Manuela D’Avila afirmando que tinha o acervo de conversas de integrantes do Ministério Público e que precisava do telefone de Glenn Greenwald.

Segundo Delgatti, ele percebeu que Manuela D’Avila não estava acreditando nele e, por isso, enviou a ela uma gravação de áudio de dois procuradores.

“[Delgatti afirmou] que no mesmo domingo do Dia das Mães, cerca de dez minutos após ter enviado o áudio, recebeu uma mensagem no Telegram do jornalista Glenn Greenwald, que afirmou ter interesse no material, que possuiria interesse público”, diz o depoimento.

Por meio de nota divulgada nesta sexta-feira (26), Manuela d’Ávila confirmou que repassou o contato do jornalista do Intercept Brasil, Glenn Greenwald, a um hacker que invadiu o celular dela.

Nota:

Tomando ciência, pela imprensa, de alusões feitas ao meu nome na investigação de fatos divulgados pelo “The Intercept Brasil”, e por me encontrar no exterior em atividades programadas desde o início do corrente ano, esclareço que:

1. No dia 12 de maio, fui comunicada pelo aplicativo Telegram de que, naquele mesmo dia, meu dispositivo havia sido invadido no Estado da Virginia, Estados Unidos. Minutos depois, pelo mesmo aplicativo, recebi mensagem de pessoa que, inicialmente, se identificou como alguém inserido na minha lista de contatos para, a seguir, afirmar que não era quem eu supunha que fosse, mas que era alguém que tinha obtido provas de graves atos ilícitos praticados por autoridades brasileiras. Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, afirmou que queria divulgar o material por ele coletado para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza.

2. Pela invasão do meu celular e pelas mensagens enviadas, imaginei que se tratasse de alguma armadilha montada por meus adversários políticos. Por isso, apesar de ser jornalista e por estar apta a produzir matérias com sigilo de fonte, repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald.

3. Desconheço, portanto, a identidade de quem invadiu meu celular, e desde já, me coloco a inteira disposição para auxiliar no esclarecimento dos fatos em apuração. Estou, por isso, orientando os meus advogados a procederem a imediata entrega das cópias das mensagens que recebi pelo aplicativo Telegram à Polícia Federal, bem como a formalmente informarem, a quem de direito, que estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o ocorrido e para apresentar meu aparelho celular à exame pericial.

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