
Santa Catarina abriga quatro das cinco cidades com o metro quadrado mais caro do Brasil. De baixo para cima no ranking, aparecem Florianópolis, Itajaí, Itapema e, no topo, Balneário Camboriú (R$ 14.041 por m²). O preço médio dos imóveis nesses municípios já supera os valores de São Paulo e Rio de Janeiro, reflexo do crescente interesse de investidores e moradores de alto poder aquisitivo.
Mas o que está por trás desse fenômeno? A resposta passa por uma mudança de comportamento que acelerou nos últimos anos, impulsionada por fatores como a busca por qualidade de vida, segurança e um estilo de vida à beira-mar.
Quem está migrando para o litoral catarinense?
O fluxo migratório para as cidades litorâneas do estado não é novidade. Gaúchos e paranaenses frequentam as praias catarinenses há décadas, trocando suas faixas de areia pelas mais atrativas do vizinho. Mas o movimento ganhou novas ondas.
Primeiro, vieram os aposentados do Sul, buscando um refúgio tranquilo, similar ao que ocorreu em Santos e Copacabana. Depois, os argentinos, que ajudaram a moldar a identidade turística de Balneário Camboriú. Em seguida, chegaram os paulistas do setor de tecnologia, impulsionando Florianópolis como um polo digital. Mais recentemente, foi a vez do agro do Centro-Oeste, com empresários goianos e mato-grossenses investindo na região.
Esse fluxo não apenas elevou o preço dos imóveis, mas também transformou as cidades, criando novos perfis e expectativas para o mercado imobiliário.
A disputa entre luxo e tranquilidade
As cidades catarinenses atraem perfis de moradores muito distintos, e isso se reflete no estilo de vida e na arquitetura.
- Balneário Camboriú: conhecida como a “Dubai Brasileira”, a cidade ostenta os prédios mais altos do Brasil e atrai milionários que buscam visibilidade, luxo e vida noturna intensa. O local se tornou sinônimo de ostentação, festas grandiosas e investimento imobiliário de alto padrão.
- Florianópolis: enquanto BC se destaca pelos arranha-céus, a capital catarinense segue uma linha diferente. Com construções mais baixas e integradas à natureza, a cidade atrai quem busca um estilo de vida mais tranquilo, sofisticado e conectado ao meio ambiente.
- Jurerê Internacional: um exemplo claro da transformação do mercado. Antes símbolo de festas e baladas, o bairro se reinventou como um espaço familiar e estruturado, com foco em qualidade de vida, segurança e serviços exclusivos.
Pandemia acelerou a migração para SC
A busca por imóveis no litoral catarinense disparou durante a pandemia. Com o trabalho remoto se tornando realidade, muitas famílias e empresários decidiram trocar grandes metrópoles pelo litoral.
O empresário Carlos André Martins é um dos exemplos dessa nova onda. Ele se mudou para Florianópolis em 2020 e afirma que a cidade oferece infraestrutura suficiente para manter sua vida profissional ativa, ao mesmo tempo em que proporciona mais qualidade de vida.
Essa tendência atraiu não apenas paulistas e gaúchos, mas também um número crescente de moradores do Norte do Brasil, especialmente do Pará e do Amazonas.
O preço do progresso: desafios e impactos
Mas essa explosão imobiliária tem seu lado sombrio. O aumento do custo de vida e dos imóveis impulsionou a gentrificação, expulsando moradores antigos, que não conseguem mais arcar com os preços elevados. Famílias que vivem há gerações nessas cidades agora lutam para permanecer.
Outro problema é a infraestrutura urbana, que não acompanhou o crescimento acelerado. Florianópolis, por exemplo, enfrenta congestionamentos crônicos, que se tornam ainda mais intensos na alta temporada. Além disso, o saneamento básico opera no limite, ameaçando o meio ambiente e a qualidade de vida local.
Santa Catarina virou o sonho da elite?
A ascensão de Santa Catarina no mercado imobiliário brasileiro é um reflexo da valorização da qualidade de vida. O estado se consolidou como um dos destinos mais desejados do país, atraindo investidores, empresas e novos moradores.
O preço dessa transformação? Um litoral cada vez mais exclusivo, onde morar à beira-mar se tornou um privilégio restrito a poucos. Enquanto uns celebram o crescimento e a sofisticação, outros se perguntam: o paraíso catarinense ainda pertence a todos?