
A marca é conhecida nacionalmente. Quem nunca presenteou alguém com uma caixa da Cacau Show, ou se rendeu a um trufa de vitrine em épocas festivas? O marketing é impecável, a presença é massiva e o discurso institucional é inspirador. Mas nos bastidores do que parece ser uma das franquias mais desejadas do Brasil, esconde-se uma história amarga, denunciada por dezenas de ex-franqueados que hoje acumulam dívidas, frustrações e traumas.
Nos últimos dias, uma série de reportagens e um perfil nas redes sociais chamado “Doce Amargura” escancararam o que muitos chamam de uma verdadeira armadilha empresarial. Relatos de prejuízos milionários, pressões psicológicas, cláusulas contratuais leoninas e práticas comerciais autoritárias colocam em xeque o modelo de expansão da Cacau Show. Há quem fale em ambiente de “seita”, com eventos motivacionais quase religiosos liderados pelo próprio CEO, Alê Costa, e punições para os que ousam discordar.
Esse cenário exige uma reflexão profunda sobre o sistema de franquias no Brasil. Até que ponto a promessa de um “negócio próprio com marca consolidada” não mascara relações de dependência e exploração? Afinal, se tantos franqueados estão quebrando, a quem, de fato, serve esse modelo?
O caso da Cacau Show ilustra o desequilíbrio de poder nas relações franqueador-franqueado. Relatos apontam que produtos são enviados de forma compulsória, muitas vezes com validade curta ou baixa saída. Reclama e perde crédito. Questiona e é punido. Que tipo de parceria é essa, em que uma das partes não pode nem respirar sem autorização da outra?
É urgente que o setor olhe para si. O franchising brasileiro precisa deixar de vender sonhos e começar a prestar contas das suas realidades. O sucesso de uma marca não pode se construir sobre o fracasso silencioso de centenas de pequenos empresários.
Aos órgãos de defesa do consumidor, ao Ministério Público e às entidades de classe, o recado é claro: há um problema sistêmico sendo denunciado, e ele precisa ser investigado com seriedade. À Cacau Show, cabe mais do que notas de repúdio: é hora de ouvir quem colocou seu patrimônio e sua saúde mental a serviço da expansão da marca — e, por fim, foi descartado como uma embalagem vazia após a Páscoa.
Empreender no Brasil já é desafiador. Fazer isso dentro de um modelo onde o franqueado é tratado como subalterno, e não como parceiro, é inaceitável. A verdade, como o bom chocolate, pode ser amarga. Mas é melhor encará-la do que continuar servindo ilusões cobertas de açúcar.