
A recente decisão do governo Lula de ajustar a tabela do Imposto de Renda trouxe um alívio temporário para quem ganha até R$ 7 mil por mês, mas levanta um questionamento crucial: quem, de fato, vai pagar essa conta? Enquanto o discurso oficial fala em cobrar mais dos super-ricos, na prática, os verdadeiros impactados podem ser os médios empresários e profissionais que dependem da distribuição de dividendos.
Descontos tímidos, impactos gigantes
Para quem recebe até R$ 5 mil, a mudança significa um pequeno respiro, um “descontinho” no imposto. No entanto, para quem está na faixa de R$ 7 mil a R$ 50 mil, nada muda ou pode até piorar. O grande receio está no efeito colateral das novas medidas: uma carga tributária ainda mais pesada sobre aqueles que movimentam a economia, sem tocar nas grandes fortunas de executivos de estatais e do alto escalão do funcionalismo público.
Super-ricos realmente serão taxados?
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estima que a arrecadação com a taxação dos “super-ricos” será de R$ 25 bilhões, enquanto o custo fiscal da medida ficaria em R$ 2 bilhões. No entanto, um histórico recente põe essa projeção em dúvida.
Em 2023, uma mudança no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), dando ao governo o voto de Minerva, previa arrecadar R$ 28,8 bilhões. Na realidade, foram arrecadados apenas R$ 300 milhões – um erro de 99% na previsão.
Esse histórico levanta uma dúvida incômoda: o governo pode estar, mais uma vez, errando na conta – e deixando o rombo para o setor produtivo pagar.
Quem realmente paga a conta?
Embora o discurso seja de justiça fiscal, CEOs de grandes estatais, como Banco do Brasil e Vale do Rio Doce, não serão os mais afetados. Esses executivos, assim como funcionários públicos de super salários acima de R$ 100 mil, continuam contando com benefícios como verbas indenizatórias, que não sofrem tributação.
Por outro lado, os médios empresários, que enfrentam uma das maiores cargas tributárias do mundo, juros altos e leis trabalhistas complexas, terão que compensar o rombo fiscal gerado pela nova política.
Populismo fiscal ou justiça social?
O governo apresenta as mudanças como um avanço para os trabalhadores. No entanto, se o objetivo fosse realmente equilibrar as contas, o caminho seria outro: reduzir despesas, enxugar a máquina pública e cortar privilégios.
A grande preocupação agora é com a inflação, que pode anular qualquer alívio tributário concedido à população. De que adianta um desconto de R$ 81 no imposto de renda, se a conta do mercado sobe R$ 100?
Com a popularidade em risco, o governo aposta no populismo fiscal. Mas a realidade impõe uma pergunta incontornável: se os verdadeiros super-ricos não vão pagar essa conta, quem vai?