
Aposentados foram vítimas de empréstimos não autorizados e descontos fantasmas
Um escândalo de proporções bilionárias abalou o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e colocou o governo federal sob forte pressão. Em 2023, cerca de R$ 90 bilhões em empréstimos consignados foram liberados para aposentados e pensionistas — e parte significativa desse valor pode ter sido fruto de fraudes. Milhares de beneficiários relataram nunca ter solicitado crédito, mas mesmo assim tiveram seus pagamentos comprometidos por descontos mensais indevidos.
A denúncia, que ganhou repercussão nacional, revelou um esquema em que empresas e associações descontavam valores automaticamente dos benefícios, muitas vezes sem qualquer autorização formal dos segurados. Em muitos casos, os aposentados sequer sabiam que estavam associados a tais entidades ou que haviam contratado empréstimos.
Público mais vulnerável foi o mais atingido
Os principais alvos foram idosos, analfabetos, pessoas com deficiência e moradores da zona rural — perfis considerados mais frágeis do ponto de vista informacional e com maior dificuldade de acessar canais de denúncia ou de contestar cobranças.
A auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou mais de 35 mil queixas formais apenas em 2023. Já a Polícia Federal iniciou investigações que envolvem 12 entidades suspeitas de atuar como intermediárias nos descontos indevidos.
Demissões e promessa de ressarcimento
A gravidade das denúncias levou à exoneração do então ministro da Previdência, Carlos Lupi, e do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Para tentar conter a crise, o governo nomeou Gilberto Waller Júnior como novo presidente da autarquia e prometeu criar um canal de atendimento exclusivo para que os prejudicados possam reaver os valores.
Segundo a Advocacia-Geral da União (AGU), os pedidos de ressarcimento serão processados com agilidade e sem burocracia. O Dataprev também está envolvido na criação de um sistema específico para validar as solicitações.
Reação tardia gera críticas ao governo
Especialistas apontam que o governo foi alertado diversas vezes sobre o aumento incomum nas liberações de crédito e sobre os relatos de irregularidades. Mesmo assim, demorou mais de um ano para agir, o que provocou críticas severas de entidades de defesa do consumidor e parlamentares da oposição.
“É inaceitável que, mesmo com tantos alertas, medidas efetivas não tenham sido adotadas. O resultado foi o comprometimento da renda de milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade”, afirmou um senador durante sessão no Congresso.