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Alta da moeda americana reflete fatores externos e internos
O dólar comercial encerrou a última sexta-feira, 1º de novembro de 2024, cotado a R$ 5,87, representando o segundo maior valor nominal registrado no país, atrás apenas do fechamento a R$ 5,90, em maio de 2020. Esse aumento, de 1,53% em um único dia, soma uma valorização de 20,95% em 2024, pressionando diretamente a economia e influenciando a inflação. Esse movimento do câmbio é impulsionado por uma combinação complexa de fatores internacionais e locais, que vão desde políticas de juros até instabilidades geopolíticas.
Cenário externo: Taxas de juros e conflitos geopolíticos
A valorização do dólar frente ao real tem raízes em acontecimentos fora do país, como o aumento das taxas de juros internacionais. O Japão elevou suas taxas, e os Estados Unidos mantêm uma política monetária restritiva, tornando o dólar mais atraente para os investidores e elevando a demanda pela moeda americana.
Além disso, a escalada dos conflitos no Oriente Médio gerou um aumento na aversão ao risco entre investidores, impactando mercados emergentes como o Brasil. Outro fator é o desempenho econômico da China, que com pacotes de estímulos e sinais de crescimento econômico nos EUA influencia a percepção de risco global, favorecendo a moeda americana.
Déficit na balança comercial brasileira
O Brasil enfrenta ainda um cenário de saldo negativo na balança comercial, com maior volume de importações do que exportações. Esse desequilíbrio nas transações comerciais pressiona o real, reduzindo seu valor frente ao dólar. A dependência de produtos importados e a menor competitividade das exportações nacionais contribuem para uma pressão contínua sobre o câmbio.
Fatores domésticos e a percepção de risco
Entre os fatores internos que pesam sobre o câmbio, a percepção de risco do país se destaca. A confiança dos investidores é diretamente impactada pela forma como o governo brasileiro se comunica sobre suas políticas econômicas e fiscais. Declarações ambíguas ou ruídos sobre a autonomia do Banco Central, por exemplo, podem gerar incertezas no mercado, intensificando a desvalorização do real.
Outro ponto crucial é a taxa Selic, cuja trajetória influencia diretamente o fluxo de capitais e a atratividade do real. Decisões sobre a Selic, quando não alinhadas com as expectativas do mercado, podem estimular o movimento de capital para fora do Brasil em busca de melhores retornos, impactando o valor do câmbio.
A comunicação do Governo e a estabilidade do câmbio
A forma como o governo brasileiro se posiciona em relação à economia pode gerar impactos significativos na estabilidade do câmbio. Uma comunicação transparente e consistente sobre políticas fiscais e metas monetárias tende a fortalecer a confiança do mercado, enquanto declarações contraditórias podem ampliar a volatilidade do real.
As expectativas de política monetária, influenciadas pela comunicação oficial sobre a taxa de juros e a inflação, têm impacto direto sobre o câmbio, com potenciais efeitos na atratividade de investimentos e no fluxo de capitais. A percepção sobre a gestão fiscal do país também é fator determinante: preocupações com a sustentabilidade das contas públicas elevam o risco percebido e aumentam a pressão sobre o real.
Estratégias para uma comunicação governamental eficaz
Para mitigar os impactos da desvalorização do real, o governo pode adotar algumas estratégias de comunicação. Transparência nas políticas econômicas, com mensagens claras sobre metas e ações, é essencial para manter a confiança de investidores e consumidores. Outro aspecto é a coerência nas mensagens sobre a saúde financeira e as expectativas econômicas, que minimizam incertezas e ajudam a reduzir a volatilidade do câmbio.
Além disso, intervenções proativas do Banco Central, como operações de swap cambial, anunciadas de forma estratégica, podem tranquilizar o mercado e promover a estabilização da moeda. O engajamento contínuo com o mercado financeiro, por meio de consultas regulares com economistas e investidores, é outra medida que contribui para alinhar expectativas, criando um ambiente de maior estabilidade.
Perspectivas
O atual nível do dólar indica desafios para o Brasil, especialmente no controle da inflação e nas importações de produtos essenciais. Com as previsões de continuidade de alta das taxas de juros nos EUA e a instabilidade geopolítica, o cenário não se mostra favorável ao real no curto prazo.