
Inflação avança e corrói o orçamento das famílias
A economia brasileira pode estar prestes a entrar em um novo ciclo de desequilíbrio fiscal e empobrecimento das classes mais vulneráveis. A avaliação parte de uma análise crítica sobre o aumento da inflação de alimentos, o crescimento do endividamento das famílias e o impacto da política de valorização do salário mínimo.
Os últimos dados divulgados mostram uma inflação de 1,31% em fevereiro, superando as expectativas do mercado. No acumulado de doze meses, o índice geral chegou a 5,06%, com destaque para os alimentos, que subiram 6,1% no mesmo período. Em algumas projeções anualizadas, a inflação de alimentos já ultrapassa os 12%, o que pressiona principalmente as famílias de baixa renda.
Valorização do salário mínimo não compensa a alta de preços
A política de valorização real do salário mínimo, um dos pilares do atual governo federal, é apontada como um fator que contribui para esse cenário. Embora traga aumento nominal à remuneração dos trabalhadores, ela também gera maior demanda por bens de consumo básicos, pressionando os preços em segmentos como alimentação, transporte e energia. Com isso, os ganhos reais da população mais pobre acabam sendo anulados ou até revertidos.
Além disso, trabalhadores que recebem até dois salários mínimos ou dependem do Bolsa Família não estão sentindo melhoria em sua renda real. Pelo contrário, enfrentam uma redução do poder de compra, já que o custo dos itens essenciais cresce acima dos reajustes concedidos.
Endividamento cresce e juros consomem parte do salário
A situação se agrava quando se observa o comportamento do endividamento. Com o custo de vida aumentando acima da renda, famílias de baixa renda são forçadas a buscar crédito para suprir necessidades básicas. Esse processo compromete parte significativa do orçamento com o pagamento de juros, reduzindo ainda mais a margem para consumo e investimentos em qualidade de vida.
Há o temor de que essa dinâmica contribua para uma armadilha financeira, na qual os mais pobres entram em ciclos de dívidas cada vez mais difíceis de sair — uma realidade já enfrentada por milhões de brasileiros.
Economia desacelera e déficit ameaça disparar
Enquanto isso, os indicadores econômicos apontam para uma desaceleração do crescimento. Varejo, comércio e indústria já demonstram sinais de retração no último trimestre, o que levanta preocupações sobre a sustentabilidade do atual ciclo econômico. Analistas alertam que, com os gastos públicos crescendo mais do que a arrecadação, o país pode voltar a registrar déficits significativos, num cenário descrito como “boca de jacaré”, em referência ao afastamento entre receitas e despesas.
Pressão sobre a Selic e risco de novo aperto monetário
A taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75%, pode voltar a subir caso a inflação continue fora de controle. Projeções internas sugerem que a taxa pode alcançar 14,25% ou mais, encarecendo ainda mais o crédito e pressionando empresas e consumidores. Essa perspectiva fragiliza a retomada do crescimento econômico e impõe novos desafios à política monetária.
Popularidade em queda e críticas à condução econômica
Esse conjunto de fatores tem afetado diretamente a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora os dados macroeconômicos indiquem aumento da massa salarial, o sentimento nas ruas, especialmente entre as camadas mais pobres, é de perda de poder de compra. A percepção de que os preços sobem mais do que os salários contribui para a insatisfação crescente.
O cenário atual, segundo especialistas, poderia ter sido evitado com ajustes mais rápidos na política econômica. Críticas à condução do Ministério da Fazenda, liderado por Fernando Haddad, apontam falta de sensibilidade para o impacto direto das medidas adotadas na vida dos brasileiros. A ausência de reação mais incisiva ao avanço da inflação e à perda de renda das famílias mais pobres é vista como um dos erros estratégicos do governo.
Perspectiva sombria para os próximos trimestres
Caso as tendências se confirmem nos próximos meses, o Brasil pode enfrentar não apenas um quadro de desaceleração econômica, mas também uma nova onda de empobrecimento. Nesse contexto, o poder de compra — especialmente entre os mais pobres — continuará sendo o termômetro mais sensível de uma política econômica que ainda busca equilíbrio entre crescimento, distribuição de renda e controle da inflação.