
Documentos secretos dos Estados Unidos, agora desclassificados, mostram que Leonel Brizola era visto como uma figura radical e perigosa durante o governo de John F. Kennedy. O político brasileiro, cunhado do presidente João Goulart e defensor de reformas sociais profundas, foi tratado com extrema desconfiança por autoridades americanas, que chegaram a compará-lo a líderes revolucionários como Fidel Castro.
As informações constam em relatórios da CIA, telegramas diplomáticos e até conversas gravadas na Casa Branca, revelando o quanto o nome de Brizola circulava entre as principais lideranças dos EUA no auge da Guerra Fria.
Um nacionalista incômodo para os americanos
Na visão dos Estados Unidos, Brizola era um nacionalista de esquerda, barulhento e antiamericano, que poderia jogar o Brasil no mesmo rumo da Revolução Cubana. Ele ganhou projeção nacional ao liderar a Campanha da Legalidade em 1961 e, logo depois, passou a defender abertamente reformas como a nacionalização de empresas estrangeiras e a reforma agrária.
Isso despertou o alarme em Washington. Brizola chegou a ser descrito por autoridades dos EUA como um político que “gostaria de ser o Fidel Castro do Brasil”. Seu nome aparece com frequência em memorandos da CIA e nas reuniões do presidente Kennedy com diplomatas e assessores.
Discursos inflamados e resistência ao capital estrangeiro
Em 1962, Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, liderou a nacionalização de empresas americanas no estado, como a ITT. A atitude irritou o governo Kennedy, que passou a pressionar João Goulart a afastar Brizola e controlar a ala mais radical do governo.
O próprio embaixador dos EUA no Brasil alertou Kennedy sobre os discursos televisivos de Brizola, que acusavam os americanos de exploração econômica, interferência e até mesmo responsabilidade pela miséria no Brasil. Em uma conversa gravada, Kennedy pergunta: “Qual é o cargo de Brizola agora?”, revelando o incômodo direto com sua atuação.
Washington monitorava cada passo do político
A tensão aumentou em 1963, quando Goulart retomou plenos poderes presidenciais. Brizola foi citado em relatórios da CIA como líder da “franja radical” que ameaçava a estabilidade do país. As autoridades dos EUA avaliavam que Goulart estava cada vez mais influenciado por ele e outros nomes da esquerda, e que isso poderia culminar em um golpe comunista.
Com o país à beira do colapso político, os Estados Unidos começaram a preparar planos de apoio logístico aos militares brasileiros, caso ocorresse uma ruptura.
Nome de Brizola aparece até nos bastidores do golpe de 64
Durante os dias do golpe militar, os serviços de inteligência dos EUA continuaram acompanhando de perto Brizola. Um relatório apresentado ao presidente Lyndon Johnson no dia 2 de abril de 1964 relata que Goulart e Brizola estavam no sul do país e que havia chance de resistência armada em Porto Alegre, cidade sob influência do ex-governador.
No entanto, a tentativa de resistência não prosperou, e Brizola seguiu para o exílio junto com outros aliados de Goulart.
Figura central no xadrez político da Guerra Fria
As dezenas de registros comprovam que Leonel Brizola foi visto como peça-chave no avanço da esquerda no Brasil. Para os EUA, ele não era apenas um político barulhento, mas um potencial catalisador de uma guinada ideológica que poderia mudar o destino do país. E, no tabuleiro tenso da Guerra Fria, isso bastava para colocá-lo no centro das preocupações de Washington.