
O que é a “coisificação” e por que ela ameaça a humanidade?
Viktor Frankl, psiquiatra austríaco e fundador da Logoterapia, alertava sobre um fenômeno perigoso que ele chamava de “coisificação” – a tendência de tratar indivíduos como meros objetos, privando-os de sua identidade e dignidade. Para Frankl, essa desumanização ocorre quando uma sociedade ou um sistema reduz as pessoas a números, bens ou ferramentas descartáveis, ignorando sua complexidade e singularidade.
O conceito é um dos pilares da Logoterapia, uma abordagem psicológica que enfatiza a busca de sentido como força central da existência humana. Mesmo em meio às adversidades mais brutais, como a experiência nos campos de concentração nazistas, Frankl demonstrou que encontrar um propósito pode ser a chave para preservar a própria humanidade.
A experiência nos campos de concentração e a resistência interior
Frankl sobreviveu ao Holocausto e transformou sua experiência em uma reflexão profunda sobre a natureza humana. Em seu livro “Em Busca de Sentido”, ele relata como os prisioneiros que conseguiam atribuir um significado ao seu sofrimento tinham maiores chances de resistir emocionalmente à brutalidade dos campos.
Ele observou que os nazistas aplicavam a “coisificação” de forma sistemática, despersonalizando as vítimas por meio de números tatuados na pele, trabalhos forçados e total anulação de suas histórias de vida. No entanto, Frankl percebeu que, mesmo sob tais circunstâncias, havia uma liberdade que ninguém poderia tirar: a liberdade interior de escolher como reagir ao sofrimento.
A Logoterapia como resposta à desumanização
Após sua libertação, Frankl desenvolveu a Logoterapia como uma resposta ao sofrimento e à alienação da modernidade. A terapia se baseia na ideia de que a principal motivação do ser humano não é o prazer (como propunha Freud) nem o poder (como defendia Adler), mas sim o sentido da vida.
Para ele, há três caminhos principais para encontrar esse sentido:
- Realizar algo significativo, como um trabalho ou uma criação.
- Viver experiências autênticas de amor e conexão com os outros.
- Acolher o sofrimento inevitável com uma postura de aprendizado e crescimento.
Essa visão se contrapõe diretamente à “coisificação”, pois devolve ao indivíduo sua autonomia e dignidade, lembrando-o de que ele não é apenas um número em um sistema, mas um ser capaz de transcender suas circunstâncias.
Reflexão atual: como evitar a coisificação nos dias de hoje?
Embora Frankl tenha formulado suas ideias no século XX, a coisificação segue presente no mundo atual. O avanço da tecnologia, o mercado de trabalho impessoal e até mesmo a superficialidade das interações sociais podem levar as pessoas a se sentirem como engrenagens de um sistema, sem identidade própria.
A Logoterapia oferece uma resposta essencial para esse desafio: o ser humano só pode resistir à desumanização quando encontra um propósito maior do que si mesmo. Seja através do trabalho, da arte, dos relacionamentos ou do enfrentamento corajoso das dificuldades, a busca por sentido continua sendo a maior defesa contra a perda da identidade.
Frankl deixou um legado poderoso: o ser humano nunca deve ser reduzido a um objeto, pois dentro dele reside a capacidade infinita de encontrar significado, mesmo diante das circunstâncias mais adversas.