
A partida entre São Paulo e Talleres, válida pela Libertadores e realizada na noite da última terça-feira (27) no estádio do Morumbi, ultrapassou os limites do esporte e se tornou caso de polícia. O volante paraguaio Damián Bobadilla, do São Paulo, foi acusado de xenofobia ao ofender o lateral venezuelano Miguel Navarro com a frase “venezuelano morto de fome”.
O episódio teria ocorrido após o segundo gol do time paulista, aos 40 minutos do segundo tempo. Navarro relatou imediatamente a agressão verbal ao árbitro da partida, que disse não ter ouvido a fala. O jogo foi paralisado por quatro minutos e o jogador venezuelano chegou a cogitar abandonar o campo, mas acabou convencido a continuar.
O caso foi registrado na Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade) como crime de racismo, já que a legislação brasileira enquadra a xenofobia dentro da Lei nº 7.716/1989 — que trata de crimes por discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Até o momento, Bobadilla não se pronunciou publicamente sobre as acusações.
O que é xenofobia?
Xenofobia é a aversão, preconceito ou ódio contra pessoas estrangeiras ou de culturas diferentes. A palavra também se aplica a atitudes e discursos que inferiorizam ou desumanizam indivíduos com base em sua nacionalidade ou origem.
Segundo a socióloga Liana Lewis, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), “xenofobia é uma forma de interdição da humanidade plena do outro, geralmente associado ao imigrante ou estrangeiro.”
Xenofobia é crime no Brasil?
Sim. Embora o Código Penal não tenha um artigo específico para “xenofobia”, o crime é enquadrado como racismo, de acordo com a Lei Federal nº 7.716/1989. Essa lei prevê punição para crimes de discriminação baseados em procedência nacional, com penas de dois a cinco anos de prisão, além de multa. Caso a ofensa atinja duas ou mais pessoas, a pena pode ser ampliada.
O que disse Miguel Navarro?
Nas redes sociais, o jogador do Talleres publicou um desabafo com críticas ao preconceito:
“Gostaria de poder ter em minhas mãos a solução para a fome que meu país enfrenta. Espero que Deus me conceda abundância para que eu possa ajudar. […] Nunca me envergonharei das minhas raízes. Irei até as últimas consequências diante do ato de xenofobia que vivi hoje no Brasil.”
E Bobadilla?
Até a última atualização da reportagem, o jogador do São Paulo não havia comentado o caso. A diretoria do clube também não se manifestou oficialmente.