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Startups do Agro: modelo de negócio desenvolve soluções inovadoras para o campo

Atividades agrícolas e pecuárias são as principais áreas de atuação destas empresas em Chapecó

Cada vez mais, startups estão buscando inovações tecnológicas para gestão e monitoramento das propriedades rurais – Foto: Liziane Nathália Vicenzi

O verde do agro extrapola a lavoura e chega até o prato de 1,5 bilhão de pessoas que recebem alimento na mesa pela agropecuária do Brasil. O dado da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é uma realidade que se repete na capital do Oeste catarinense.

O agronegócio é uma das principais forças da economia de Chapecó, o que também motiva o desenvolvimento de novas empresas, focadas nas soluções para os problemas do campo. Tanto é, que esta é a área de atuação com o maior número de startups no município, de acordo com um levantamento realizado em 2020 pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups).

Aliás, são dois setores que crescem e se destacam na cidade. O poder do agronegócio para Chapecó e toda região Oeste de Santa Catarina é indiscutível, e o desenvolvimento das soluções para esses problemas também é uma área que vem crescendo em Chapecó.

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Justamente pelo agronegócio ser a maior fonte de desenvolvimento, a criação de startups ligadas a ele é a certeza de um projeto capaz de criar soluções para um mercado mundial. A afirmação é da professora e coordenadora da Incubadora Tecnológica (Inctech) da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), Franciele Pastre.

“Possuímos em nossa Incubadora e na região, startups que diagnosticaram problemas reais e de grande interferência, desenvolveram soluções capazes de minimizar ou eliminar essas dores, e hoje contribuem com a melhoria da qualidade, redução de custos, otimização de resultados, melhores entregas, entre tantos outros benefícios”.

E se, por um lado, a região Oeste possui a vertente do agro muito presente no cotidiano, o campo das startups cresce cada vez mais. Em 2018, Chapecó foi considerada a segunda cidade do Brasil com maior número de Startups em relação ao número de habitantes, ficando atrás apenas da capital catarinense.

“Por utilizarem uma metodologia ágil de desenvolvimento e colocação no mercado, facilitam a entrega de soluções. Hoje as startups estão sendo procuradas para o desenvolvimento dessas soluções exatamente pela característica de seu modelo de negócio: ágil, desafiador, criativo e audacioso. Essas soluções são planejadas, validadas, testadas e entregues em paralelo ao fluxo tradicional dos negócio”, explica Franciele.

Desde gestão até análise das propriedades rurais, as soluções propostas para solucionar os problemas do agronegócio são as mais diversas. Conheça algumas startups de Chapecó que desenvolvem esse trabalho.


Soluções desenvolvidas permitem monitorar as atividades realizadas no campo – Foto: Liziane Nathália Vicenzi

Diagnósticos precisos com uso de drones

Sócio-proprietário da Topview Agricultura Inteligente, Thales Ricardo Lavandoscki comanda a empresa que está incubada na Unochapecó, ao lado de outros cinco sócios. A Topview desenvolve soluções a partir do mapeamento com drones, desde o plantio até a colheita. O empresário conta que a ideia da startup surgiu a partir de dificuldades enfrentadas por ele com a falta de informações precisas e de um diagnóstico real da lavoura para auxiliar o produtor rural na rápida e eficaz tomada de decisão. Assim foi definido o problema que a Topview busca solucionar.


O agronegócio é o responsável por milhares de empregos e o que mais exporta e gera riqueza para a região. Isso torna Chapecó conhecida nacionalmente pelas empresas desse setor que aqui iniciaram suas atividades. A modernização do campo é crescente e vem diretamente ligada às empresas que trazem inovação e tecnologia para o setor”, destaca.


A sustentabilidade, tão necessária para todas as instituições, também é premissa da empresa de Thales. O empresário defende que as soluções da empresa tem foco na redução dos insumos utilizados na agricultura como, por exemplo, agrotóxicos e combate ao uso excessivo de água.

Outra solução apontada por ele é a automação do maquinário, como trator e pulverizador, que reduzem o consumo de diesel. Thales pretende alcançar ainda mais objetivos no agronegócio aliado à tecnologia das startups. O empresário almeja conquistar parcerias com grandes players do mercado nessa área e contratar ainda mais profissionais para ampliar a oferta de serviços.

De proposta científica à empresa premiada

A união entre uma proposta científica aliada a uma ideia de negócio mudou a vida de Frederico Santos Damasceno, CEO e fundador da empresa AgroSimulador, criada em 2016. Tudo começou com o convite de um amigo, que realizou um trabalho de conclusão de curso (TCC) sobre um sistema computacional voltado para o pequeno e médio produtor rural. O trabalho foi vencedor da segunda edição da Maratona da Inovação da Incubadora Tecnológica da Unochapecó (Inctech), que oportunizou o passe livre para incubação da empresa.


Posteriormente ele me convidou para participar e dentro disso foi montada a equipe. Assim, concorremos posteriormente ao Sinapse da Inovação, onde fomos contemplados com o valor de 90 mil reais”, conta Frederico.


Atualmente incubada na Inctech, a empresa desenvolve um sistema de gestão agrícola e pecuária. Hoje, Frederico é o único sócio-fundador que permanece na AgroSimulador, que é composta por mais quatro integrantes. A startup busca transformar os ambientes rurais em organizações empresariais que geram mais lucros por meio do subsídio de informações que auxiliam o produtor rural, possibilitando melhoria na qualidade de vida e sustentabilidade. O diferencial está no desenvolvimento de um sistema voltado tanto para o produtor, quanto para as cooperativas.

Na avaliação do empreendedor, Chapecó é um destaque no cenário das startups. O motivo? Frederico diz que a cidade pólo do Oeste catarinense vive uma cultura do empreendedorismo com apoio de diversas instituições. “Isso é muito latente, desde o ensino básico até a graduação, onde as pessoas são incentivadas a desenvolverem seus próprios negócios”, pontua. Frederico avalia, ainda, que o agronegócio é a principal locomotiva da região e permite uma maior rentabilidade. Para o empreendedor, outros setores da economia são muito sensíveis às variações da economia.


De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a cada três empregos gerados no país, um é pelo agronegócio. O índice de desemprego no Brasil é de 14,3%, enquanto em Chapecó é 6,2%. Ou seja, ele valoriza e pode melhorar ainda mais a sustentabilidade da economia brasileira”, explica.


Inovações criadas nas startups permitem o acompanhamento da produção rural de forma tecnológica – Foto: Liziane Nathália Vicenzi

Menos imposto e mais lucro: aposta é na gestão e tecnologia

A ‘FARM, gestão no agronegócio’, é outro exemplo de solução de problema recorrente por meio de uma startup. O proprietário Juliano Thomé conta que a ideia foi proporcionar ao produtor rural o uso de um aplicativo que auxilia na gestão financeira da propriedade rural e acompanha em tempo real a situação tributária do produtor, possibilitando as tomadas de decisões em tempo real, evitando surpresas no momento da declaração do Imposto de Renda (IR). O objetivo é fazer com que o produtor rural pague o mínimo possível de IR, e utilize esses recursos para realizar investimentos e melhorias em sua propriedade, melhorar a qualidade de vida e, consequentemente, obter maiores ganhos.

De acordo com Juliano, são três sócios com domínio teórico e prático do agronegócio. A empresa conta com técnicos agrícolas, contadores, administradores, especialistas em gestão rural, controladoria, finanças e marketing – e já soma 60 mil clientes. Ele elogia o modelo de negócio da startup, com destaque para a rapidez nos ajustes internos e adaptação ao mercado de atuação, além da facilidade e leveza no relacionamento e comunicação. Na avaliação do empresário, esse é ainda um diferencial de Chapecó, por ser um município inserido no mercado de prestação de serviços, agronegócio e com sede de criatividade e inovação.

Para o proprietário da FARM, o agronegócio é uma base sólida que se abre aos novos mercados no exterior e que tem se destacado nacionalmente pela revolução tecnológica aplicada no sistema produtivo, o que, segundo ele, aumenta a exposição da região em nível nacional e mundial. “O fator que pode diferenciar o agronegócio regional diz respeito à qualificação técnica em gestão da propriedade rural que pode ser criada e desenvolvida no Oeste catarinense”, avalia Juliano.

Um dos benefícios projetados pelas startups do agro é aumentar os lucros e melhorar a produtividade – Foto: Liziane Nathália Vicenzi

Mas afinal, o que é uma startup?

Tudo começa com uma ideia, a solução para um problema do mercado, desenvolvida com muita inovação. Traduzido do inglês, o termo ‘startup’ significa começar, porém, tem um sentido ainda mais forte quando ligado ao empreendedorismo.

O professor do curso de Administração da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) campus de Chapecó, coordenador do Empreende UFFS e da Incubadora de Negócios INNE, Humberto Tosta, destaca que uma startup pode surgir, também, como resultado de um processo de inovação tecnológica, ou seja, após uma caminhada científica, produz-se resultado tecnológico que pode ser explorado comercialmente.

“As pessoas que trabalham nela são o diferencial. A partir de suas experiências, competências e sinergia vão conseguir conduzir o negócio para que ele esteja conectado aos anseios de seus clientes, produzindo respostas sistemáticas e rápidas às demandas de seu público-alvo”, pontua.

A professora Franciele explica que, o modelo de negócio característico de uma startup necessariamente tende a ser: uma ideia inovadora + escalável + repetitívil em um mundo de incertezas.

“O que isso significa: startups criam soluções incrementais e disruptivas. Escalável, pois deve permitir ganhar o mundo (mercado) em curto espaço de tempo. Além disso, é característico possuir uma solução repetitívil, que em larga escala, não absorva custos na mesma proporção”.

Validação é a palavra-chave para o desenvolvimento de uma startup. A afirmativa é da professora, que também destaca a importância, nesse processo, da busca por certezas e clareza sobre a existência do problema, além da legitimidade da proposta de solução.

“É necessário realizar a modelagem de negócio, que é o planejamento, vislumbrar quais os caminhos a serem percorridos, bem como os resultados almejados com essa entrega. Inicialmente, também, há necessidade de um time bem consolidado, íntegro e com propósitos bem definidos. A partir dessa composição, existem mentores, consultores, incubadoras, aceleradoras, fontes de fomento, órgãos governamentais que possuem políticas e incentivos para o desenvolvimento dessas startups”, relata.

As incubadoras, como a Inctech e a INNE, auxiliam inicialmente em toda a modelagem do negócio, validação, qualificação, consultoria e monitoramento do desenvolvimento do empreendedor e seu negócio. “Existem, ainda, fontes de fomento e órgãos governamentais direcionados para atender as startups, como Finep, Fapesc, Sebrae, CNPQ, entre outros, que lançam editais de captação de recursos para contemplar demandas e necessidades das empresas”, explica a professora.

Essa série de apoio, incentivos e agentes que podem auxiliar as startups, configuram-se como um ecossistema de empreendedorismo. Esse termo é definido pelo professor Humberto como um conjunto de domínios que interagem entre si com o objetivo de proporcionar um ambiente empreendedor favorável ao surgimento, manutenção e crescimento de negócios.

“Hoje, mundialmente se reconhece a importância desse ecossistema como propulsor e mantenedor de uma cultura de empreendedorismo e inovação, que permite, por exemplo, às startups acessarem capital financeiro, tecnológico e também terem como diferencial competitivo um capital humano que suporte o crescimento organizacional”, pontua Humberto.

Perfil do empreendedor de startup

Qualquer pessoa é um empreendedor em potencial. No entanto, conforme a coordenadora da Inctech, algumas competências necessitam ser desenvolvidas, tais como: criatividade, iniciativa, perseverança, liderança, habilidades e conhecimentos técnicos relacionados a solução, conhecimento de mercado e negócio.

“Costumo dizer que é preciso ter sangue nos olhos para correr atrás do sonho que é empreender. Um grande projeto em mãos não empreendedoras, dificilmente se tornará uma inovação comercializável. Agora um pequeno projeto nas mãos de quem tem sangue nos olhos, torna-se uma solução fantástica”, afirma.

Humberto complementa a descrição do perfil de empreendedor de startup. “São pessoas que veem oportunidade onde os outros não veem. Correm riscos e são resilientes em busca de seus objetivos. São profissionais amparados no desenvolvimento de novas tecnologias para resolver problemas concretos”, afirma.


Inaugurado no ano passado, o Centro de Inovação Tecnológica de Chapecó, pretende fortalecer o ecossistema de inovação da região Oeste – Foto: Liziane Nathália Vicenzi

Para um futuro (muito mais) tecnológico

Como visto, o caminho para quem deseja tirar uma ideia do papel e criar uma startup, é repleto de etapas importantes e necessárias para a consolidação de um negócio de sucesso. Em Chapecó, no ano passado, foi inaugurada a obra do Centro de Inovação Tecnológica da cidade, que tem como objetivo ampliar e fortalecer o ecossistema regional de inovação e empreendedorismo. O espaço, que compõe a Rede Catarinense de Centros de Inovação, já selecionou empresas que irão atuar no local dispondo de toda assessoria e assistência para se desenvolverem.

O professor Humberto destaca que, para um futuro ainda mais tecnológico, devem ser criados e incentivados novos fundos de investimentos, novas incubadoras, fortalecimento dos Centros de Inovação que estão iniciando as operações e garantir a valorização da educação e da ciência. “Chapecó é cenário para vinda de profissionais altamente qualificados, atraídos por um ambiente de empreendedorismo e inovação coeso e eficaz. Com isso, podemos afirmar que toda a região terá um retorno econômico e social importante”, analisa.

Com um ecossistema fortalecido, cada vez mais, quem desenvolve inovações e tecnologias, pode ter muitas oportunidades de empregos. “Por um lado, startups geram empregos para o desenvolvimento e comercialização das soluções e por outro, o mercado contemplado com essas soluções, em busca de crescimento, internacionalização, gera novos empregos e renda”, explica Franciele.

A professora completa que novas profissões podem surgir, e outras podem ser mais requisitadas nesse meio. “Na área da inovação há um campo aquecido voltado para a área de tecnologias. Logo, profissões relacionadas ou alinhadas com a área de desenvolvimento de software, programação, inteligência artificial, robótica, internet das coisas e gerenciamento de projetos são tendências promissoras”, assinala.

O potencial de Chapecó para a inovação e o agronegócio é latente, mas não unilateral. “Possuímos instituições públicas, comunitárias e privadas de grande qualidade, que têm direcionado muito esforço na promoção do empreendedorismo, no estímulo à inovação. Somado a isso, tem-se também a importante participação do setor empresarial e da sociedade civil organizada. Esses fatores fazem de Chapecó uma cidade que desperta atenção estadual e nacional para o ecossistema empreendedor. Tudo isso consolidará Chapecó como um dos players nacionais de maior relevância no que tange ao surgimento e desenvolvimento de startups”, finaliza Humberto.

Autores: Gabriel Wildner Kreutz e Liziane Nathália Vicenzi

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