Por Juliana Matielo
Um bom chapecoense já ‘brustolou’ uma polenta no café da manhã ou preparou uma cuia de mate? As influências étnicas de vários povos formaram a nossa cultura: a linguagem, as tradições, as danças, a gastronomia, o artesanato, a música, as crendices, a língua, as pinturas, a literatura, entre vários outros aspectos. Chapecó – e toda a região Oeste de Santa Catarina, durante o processo de formação, acolheu diversas etnias que, juntas, colaboraram com seus respectivos modos de expressão.
Palavras como “brustolar” e outras tantas, fazem parte do dialeto Talian – variante do Italiano falado no sul do Brasil, produto da imigração.
“Brustolar” deriva do verbo italiano “abbrustolire”, que significa dourar ou queimar levemente a comida.
Já o chimarrão tem origem indígena – os primeiros a povoarem a nossa região, cuja cultura também deixou marcas e tradições seguidas até hoje. O chimarrão é uma herança dos índios guaranis que habitavam o território do que são hoje a República do Paraguai e o estado do Paraná.
E não para por aí: ainda temos alemães, afrodescendentes, caboclos, indígenas Kaingang…
Para abordar o assunto, convidamos o historiador, jornalista e escritor Celso Nunes Moura, amante e pesquisador da história de Chapecó. Logo no início de nossa conversa, Celso nos responde: afinal, o que é etnia?
“Os estudos sobre assuntos como cultura, identidade e raça estão em voga, em grande parte, por conta do aumento do contato entre grupos étnicos e culturas diferentes, antes separados pelas barreiras geográficas. Resumidamente, etnia pode ser conceituada como o sentimento de pertencer a determinado grupo com o qual o indivíduo partilha a mesma língua, tradições e território. Trata-se de características tão marcantes que, de inúmeras maneiras, acabam tornando-se pontos basilares da construção identitária do indivíduo, definindo certos aspectos da convivência social da população que constitui o grupo étnico.”
A partir deste conceito, ele nos lembra do início da nossa colonização. “Nossa região era extremamente remota e passou a ser conhecida por quem fazia o trajeto para chegar a outros locais, deparando-se com povos indígenas que habitavam mais especificamente às margens do rio Uruguai. Esses povos tiveram grande contribuição para o desbravamento da região – afinal, dominavam técnicas e tinham instrumentos de defesa artesanais, além de conhecer muito as matas e os rios.
“Além disso, houve a mistura dos povos indígenas com outros povos, vindos da Europa. O que deu origem ao conhecido como Caboclo – um termo Tupi que designava os descendentes da miscigenação entre brancos europeus (portugueses e espanhóis), negros e índios durante os séculos de colonização portuguesa. “Herdamos muito o palavreado, as crenças religiosas, as superstições, os benzimentos e as formas de cura por meio das ervas, raízes, simpatias e rezas, as festas, os pratos típicos e os seus costumes de um modo geral.”
Sobre outra influência gigante, não diretamente de uma etnia, mas de uma cultura: os Gaúchos. “Essa influência está muito presente pela proximidade com o Rio Grande do Sul. Muitas famílias que ajudaram a construir a cidade são gaúchas, que vieram atraídas pelas majestosas matas e aqui formaram seus negócios e suas famílias junto a outras influências: alemã, afrodescendentes, cabocla, indígena Kaingang e Guarani, italiana e polonesa”, relata Celso.
É possível resumir a colonização chapecoense em três etapas: pelos índios – os habitantes originais; pelos caboclos – povos miscigenados, que já habitavam o oeste do estado quando as empresas madeireiras e colonizadoras chegaram em busca de terras férteis; e finalmente pela vinda dos colonos italianos e alemães que chegaram por volta de 1860, provenientes do Rio Grande do Sul, com a esperança de encontrar também novas terras e férteis.
A colonização dos descendentes europeus alterou os modos de vida do oeste catarinense, redesenhando aspectos culturais, religiosos e culinários. Sua vinda confrontou os hábitos dos índios e caboclos da região, que misturaram-se e deram origem à riquíssima cultura local atual.
De geração em geração, mesmo que todos esses aspectos sofram adaptações às novas realidades, muitos costumes permanecem e são passados adiante. Na culinária é impossível não citar um dos pratos típicos e ícone da cultura alemã: o bolo Kuchen (a famosa cuca). Da cultura italiana, massas, molhos, polenta e embutidos. O churrasco como conhecemos aqui, tem a forte influência uruguaia, argentina e rio grandense.
Encerrando essa rica conversa, Celso destacou que a globalização e a quebra das barreiras de localização contribuem ainda mais para a mistura de culturas, e que hoje podemos observar a inserção de outros povos em Chapecó, com a vinda de estrangeiros de vários países em busca de trabalho e melhor qualidade de vida.
“Nos próximos 100 anos, Chapecó sofrerá ainda mais influências. Por ser uma cidade cheia de oportunidades e que acolhe muito bem novas culturas, podemos imaginar um enriquecimento ainda maior dessa nossa imensa herança”, afirma.
Confira
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