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UFRJ descobre o vírus mayaro, ‘primo’ do chikungunya

Fonte: O Globo

Cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram um novo vírus em circulação no estado do Rio. O vírus é o mayaro , um primo do chikungunya e que causa doença com sintomas semelhantes ao deste, como intensas e incapacitantes dores nas articulações, que se prolongam por meses. Às informações foram divulgadas pelo O Globo.

Desde 2015, pesquisadores alertavam para o risco de o mayaro, um vírus silvestre da Amazônia, se estabelecer nas grandes cidades do Sudeste. O estudo recém-concluído mostra que o pior aconteceu. O mayaro está entre nós, afirma Rodrigo Brindeiro, um dos autores da descoberta e coordenador da Rede Zika da UFRJ. Como no caso do chikungunya, não existe vacina ou tratamento. Apenas os sintomas são tratados, de forma não específica.

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O mayaro é conhecido desde os anos 1950 nas Américas do Sul e Central. No Brasil, tem causado surtos isolados nos estados do Norte e Centro-Oeste. Transmitido por mosquitos florestais Haemagogus , os mesmos da febre amarela silvestre, ele deu sinais de que começara a se adaptar às cidades.

Testes de laboratório mostraram que pode ser transmitido tanto pelo Aedes quanto pelo pernilongo comum (Culex), o que potencializa o risco de epidemia, destaca Amílcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, onde o estudo foi realizado.

A chegada do mayaro aumenta a dificuldade para controlar as doenças transmitidas por mosquitos num país mergulhado num abismo sanitário. Em 2015, veio a epidemia de zika, com a microcefalia. O chicungunha, introduzido em 2014, se expandiu pela mesma época. O início de 2017 foi marcado pela volta da febre amarela ao Sudeste, com a maior epidemia da forma silvestre já registrada nas Américas.

Este ano começou com uma explosão de casos de dengue (aumento de 339,9% em relação ao mesmo período de 2018), doença que voltou nos anos 1980 e não mais desapareceu. O chikungunya causou quase 16 mil casos no estado do Rio. E, segundo o Ministério da Saúde, 994 cidades brasileiras estão em risco de epidemias de zika, dengue e chikungunya. Brindeiro diz que, no Rio, o chikungunya não está sozinho e o mayaro pode ser a causa de parte dos casos.

— O sofrimento dos pacientes e o tratamento são os mesmos. O que muda é a dificuldade de controlar epidemias, com mais um vírus em circulação — explica Brindeiro.

Confundido com o chikungunya , o mayaro está no Rio desde 2016.  E a gravidade da descoberta é que os casos são autóctones. Isto é, as pessoas foram infectadas aqui, não viajaram para regiões endêmicas. São três casos, todos de Niterói e só identificados graças a um estudo molecular. Em escala populacional, os três episódios significam que, de cada cem pessoas com chikungunya , dez têm febre de mayaro, estima Brindeiro.

— A subnotificação do próprio chikungunya é grande e o diagnóstico clínico se confunde com a da dengue. Nosso estudo é um alerta sobre a gravidade que as febres transmitidas por mosquito representam — acrescenta.

O mayaro foi identificado no auge da epidemia de zika, quando o laboratório da UFRJ iniciou o diagnóstico molecular das arboviroses (infecções virais transmitidas por mosquitos) em circulação no Sudeste. Em 2016, 279 amostras tinham indicação clínica (sintomas) de chikungunya . No entanto, 57 deram resultado inconclusivo.

Casos inconclusivos são esperados porque o teste de PCR usado detecta apenas o vírus durante uma curta janela de tempo (5 dias no sangue e 20 na urina). No entanto, o percentual de casos inclusivos chegava a 20%, bem mais do que seria normal.

O grupo de pesquisa começou então a buscar outros vírus e o mayaro foi encontrado em três pacientes. Os casos foram então investigados e se descobriu que vinham da mesma cidade, de pessoas que nunca haviam estado em área endêmicas de mayaro e que tinham vizinhos com sintomas semelhantes. Os três também eram negativos tanto por PCR (molecular) quanto por sorologia (anticorpos no sangue) para zika, dengue e chikungunya, explica o virologista Orlando Ferreira, à frente das análises sorológicas.

O próximo passo dos cientistas será descobrir de onde veio o vírus por meio de análises de genômica e de sorologia. Uma possibilidade é a Amazônia ou algum estado do Centro-Oeste. Outra é que tenha sido trazido do Haiti, onde houve epidemia recente. Ele poderia ter sido trazido por imigrantes ou por um dos militares que integravam as forças brasileiras a serviço da ONU lá.

Também esperam saber se o mayaro foi disseminado pelo haemagogus, muito comum nas matas e que se mostrou eficiente em propagar a febre amarela em Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Ou, numa hipótese mais grave, começou a ser espalhado pelo Aedes , pelo pernilongo ou ambos os mosquitos urbanos.

Será possível descobrir o mosquito por meio da reconstituição do vírus, estudo que está a cargo da virologista da UFRJ Clarissa Damaso.

Sem recursos para ampliar a pesquisa, os cientistas esperam analisar ao menos 400 amostras deste ano, vindas dos municípios do Rio, Maricá e Miracema. E observam a importância de procurar o mayaro nos mosquitos do Rio.

— Precisamos saber que vírus estão em circulação. O clima está favorável à proliferação de mosquitos. É uma grave questão de saúde pública — frisa Tanuri.


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