Por: Andressa Guinzelli
A crise econômica que abalou a Venezuela em 2013, impactou diretamente a vida de mais de 95% da população. Em um lugar onde pessoas morriam de fome ou na espera de atendimento médico, a busca por outro país para recomeçar a vida, era vista como a luz no fim do túnel. Para a manicure Yajaira Salazar, de 37 anos, morar onde, água na torneira, luz acesa, gás para cozinhar e um simples arroz e feijão se tornaram escassos , manter o salão de beleza, que era seu sustento, se tornou insustentável, já que a busca pelos procedimentos estéticos eram artigo de luxo para a comunidade.
“As mães tinham que escolher, entre se cuidar ou comprar alimento para os filhos. Muitas vezes precisávamos passar o dia inteiro em uma fila para comprar arroz, feijão e quando chegava nossa vez, não tinha mais o alimento para venda. Os remédios também estavam escassos e muitas pessoas ficaram doentes”, relata Yajaira.
Sem conseguir trabalhar, a moradora de Barquisimeto, cidade mais populosa do estado de Lara, no Oeste da Venezuela, precisou tomar a decisão mais difícil da vida: abandonar a família e buscar recursos em um país totalmente desconhecido, ou permanecer na Venezuela e continuar lutando contra as tantas dificuldades enfrentadas diariamente.
“Em 2018 eu decidi vender o salão e sair de lá, mas não foi uma decisão fácil, eu não conhecia ninguém no Brasil. Eu tinha muito medo, por conta do idioma, da cultura, era tudo muito diferente, mas decidi tentar, pensei que se não desse certo aqui, eu iria para o Chile, onde mora meu irmão”, contou a venezuelana.
O frio na barriga, a ansiedade e o medo tomavam conta dos dias que se aproximavam da viagem. Com o dinheiro contado e com a passagem comprada, Didi [como é conhecida no Brasil], sentia as lágrimas escorrerem pelo rosto ao se despedir de seus pais, que permaneceram no país venezuelano.
Poucos dias depois, com algumas peças de roupa na bagagem, mas com o sonho de uma vida melhor, ela cruzou a fronteira com o Brasil.
Vida no Brasil
Com o dinheiro da venda do salão e com o pouco que havia economizado, Didi chegou a Roraima. Um mundo novo, onde não conhecia ninguém, ela recebeu a ajuda de membros da igreja Testemunhas de Jeová, a qual frequentava: “Naquela época, os irmãos da igreja estavam pagando passagem para os venezuelanos, mas era surpresa, ninguém sabia para onde iria, e nisso eu fui parar em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul”.
Quando chegou no Estado Gaúcho, Didi começou a buscar emprego e enquanto não conseguia distribuía panfletos pela cidade para anunciar seu trabalho como manicure, mas infelizmente ninguém a chamava. Na busca de especialização a venezuelana acabou participando de um curso de produção de trufas, o que mais tarde faria parte de um passo importante em sua vida.
Triste pela situação atual e enfrentando dificuldades na cidade gaúcha, Yajaira recebeu a ligação de uma amiga que residia em Chapecó, e que elogiou a cidade: “Minha amiga disse que Chapecó era uma cidade bonita e que tinha trabalho, por isso eu decidi vir pra cá. Quando eu cheguei aqui, gostei muito do lugar, me apaixonei no primeiro dia pela cidade, aqui as pessoas são gentis e boas”, explicou a manicure.
Sem pensar duas vezes, Didi começou a buscar emprego na Capital do Oeste, mas enquanto não conseguia, distribuía panfletos sobre seu trabalho e vencia as trufas que havia aprendido a produzir durante o curso no Rio Grande do Sul. Infelizmente os valores arrecadados não eram suficientes para se manter, mas logo a oportunidade em um salão de beleza surgiu como a realização de um sonho.
Entre um atendimento e outro a manicure fez amigos, mas no fim do mês, ao tentar receber o pagamento do seu trabalho, a proprietária do salão não quis pagar o valor referente aos atendimentos, um golpe duro para quem estava longe da família e dependia desse dinheiro para sobreviver. A adversidade não afetou Didi que voltou a vender trufas e logo ganhou espaço em um novo Salão de Beleza.
Seis meses depois que veio de Uruguaiana, as clientes que recebiam o panfleto, começaram a procurar pelo atendimento da venezuelana. Com excelência ela ganhou o espaço que precisava para conseguir seu equilíbrio financeiro e trouxe o namorado para o Brasil.
Juntos, ela e o namorado conseguiram guardar dinheiro e se casaram. Ambos estavam trabalhando e devido a grande procura pelo seu trabalho, e com o dinheiro que o casal economizou, Yajaira conseguiu abrir seu próprio negócio.
“Conseguimos abrir nosso salão, fizemos uma reforma na casa que alugamos, com a autorização da proprietária e demos início a esse sonho. Antes era pequenininho, mas agora está melhor, está bonito e tenho bastante clientes. Hoje em dia as pessoas confiam em meu trabalho e isso é lindo demais”, contou Didi.
Para completar a felicidade, Yajaira agora trabalha para realizar mais um sonho: trazer os pais para o Brasil. Dia após dia, e a cada centavo guardado, a venezuelana continua imaginando o momento em que verá os familiares desembarcando de um avião para ficar ao seu lado, em Chapecó.
“Chapecó me abrigou e abriu muitas portas, eu amo Chapecó, amo morar aqui e sou grata por todas minhas clientes”, finalizou a venezuelana.
Agora além de manicure, o ‘Salão da Didi’ também trabalha com cuidados pessoais, cabelos e mega hair, quem deseja marcar um horário basta chamar Yajaira, pelo WhatsApp (49) 99821-8776.
Confira alguns dos trabalhos de Didi:
