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Fórmula do amor: casal de Xanxerê adota menino com deficiência e constrói novo capítulo de vida

João Vitor é portador de paralisia cerebral, hidrocefalia congênita e epilepsia


Por: Alessandra Bagattini

Foto: Arquivos Pessoais

Casa bagunçada, um quarto especial, decoração infantil, brinquedos espalhados por todo canto, e muita felicidade. Atributos que remetem a uma família que aceitou o desafio de assumir o papel de pai e mãe. E, foi por coincidência do destino, ou por orientação divina, que Fabielle Grosbelli e Leandro Sauer cruzaram os caminhos. Toda a história, que teve um novo capítulo após a adoção de João Vitor, portador de paralisia cerebral, hidrocefalia congênita e epilepsia, iniciou em 2018, por meio de um aplicativo de relacionamento. 

As paixões em comum aproximaram o casal ainda no primeiro encontro. Mas a verdadeira história de amor dos moradores de Xanxerê, Oeste de Santa Catarina, veio à tona após aflorar em Fabielle o desejo de ser mãe. Mesmo com condições de ter filhos de forma biológica, ambos optaram pela adoção. O motivo: seguir a intuição de localizar o filho que já vivia em seu coração. O que eles não imaginavam é que João estava na cidade vizinha, em Chapecó, na Capital do Oeste. 

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Em abril de 2020, enquanto ainda não morávamos juntos, a maternidade aflorou de forma tão intensa e profunda em mim, Fabielle, que após vários sonhos lúcidos, tive a certeza que era mãe, e que nosso filho estava em algum lugar esperando que fôssemos buscá-lo. Nunca vivi algo como aquilo, a adoção era o caminho, pois nosso filho já vivia, e precisávamos encontrá-lo. Junto com toda essa intuição, senti que nosso filho teria alguma deficiência, a princípio, acreditava que teria Síndrome de Down. Ao dividir tudo isso com o Leandro, tive ainda maior certeza da escolha que fiz ao me casar com ele, pois me disse: [eu confio em você, em tudo o que está sentindo, e se esse é o caminho, vamos achar nosso filho]”, relata a mãe. 

Seguindo a intuição, Fabielle sabia que o filho seria um menino, mas ao iniciar o processo de habilitação à adoção, em agosto de 2020, optou por deixar o perfil aberto para ambos os sexos, sem escolha de raça, cor, podendo ter outras doenças além da Síndrome de Down, e com idade até cinco anos. O tempo de espera foi de preparação emocional e depois de sete meses, o casal entrou para a famosa “fila da adoção”. 

A chegada do João foi diferente, não recebemos aquela conhecida ligação da assistente social. Como já sentia lá no início, nós teríamos que ir atrás dele, e foi assim que ocorreu. No mês de maio de 2021, meu coração estava apertado, e então, conversei com a assistente social a qual me passou as informações de como acessar o site Busca Ativa do TJSC, para tentar encontrar nosso filho. Este site fornece fotos e informações de crianças que estão fora do perfil preferido dos pretendentes, como grupos de irmãos, adolescentes e crianças com deficiência. Então dia 22 de maio de 2021, entramos neste site pela primeira vez e lá, dentre as 80 crianças e adolescentes, estava nosso pequeno João Vitor, com seus nove meses de idade, e um diagnóstico de hidranencefalia e epilepsia. A emoção tomou conta de nós dois, o coração acelerou, e ao nos questionarmos se era ele o nosso filho, a resposta veio com um sorriso, sim, é ele, nós o encontramos”, conta Fabielle. 

Com a certeza já firmada no coração, mas com as mãos ainda trêmulas, o casal solicitou pelo site mais informações sobre a criança, que estava em Chapecó e ao completar dez meses do processo de adoção, João Vitor conheceu o novo lar. 

“Não podemos dizer que essa decisão não veio cheia de medos, pois ele tinha uma deficiência muito mais séria para a qual havíamos nos preparado, contudo, o coração gerou tanta emoção, que transbordou, e a razão foi afogada. Então, naquela semana fomos conhecê-lo pessoalmente, e entramos com o pedido de adoção no mesmo dia, e dez dias depois, quando ele completava dez meses, dia 02 de junho de 2021, recebemos a guarda provisória e fomos buscá-lo. Dizemos que a gestação do nosso filho durou 10 meses, pois foi o tempo desde a entrada do processo judicial, até a chegada do João Vítor em nossa casa, tempo este muito curto, visto que a maioria das pessoas fica anos aguardando a chegada do filho. Quando pensamos nisso, ficamos tristes, pois os pretendentes à adoção teriam a chance de viver hoje a felicidade que nós vivemos, a felicidade de ter um filho tão maravilhoso quanto o João, se apenas se permitissem um olhar mais amoroso e empático em relação às crianças aptas à adoção. Quanto mais se amplia o perfil da criança ou adolescente desejado, mais cedo ele chegará à sua família”, conta Fabielle. 

Foto: Arquivos Pessoais

Um novo diagnóstico 

A doença de João Vitor nunca foi vista como empecilho pelos pais, e quando o menino mudou-se para Xanxerê, a rotina da família também precisou mudar, mas desta vez para melhor. A mãe conta que o filho não consegue ainda se alimentar de forma suficiente via oral, então recebe alimento e medicação via gastrostomia (sonda no estômago). 

Após novos exames a hidranencefalia foi descartada e o diagnóstico foi alterado para paralisia cerebral, hidrocefalia congênita e epilepsia. Quando ele chegou na nossa vida usava sonda nasoenteral. A deficiência deixa-o hipotônico (musculatura flácida), fazendo com que ainda não sustente a cabeça ou sente. O que mais o incomoda é a epilepsia, pois em alguns momentos de crise ele chora, apresentando estar assustado e com dor. Mas estamos sempre ajustando a medicação junto ao neurologista para minimizar ou eliminar esta situação. João é aluno da APAE, fazendo as terapias e atividades duas vezes na semana, complementando o restante dos dias com outras sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoterapia. No dia a dia manuseamos frascos de alimentação, equipos, para ministrar a fórmula da qual ele se alimenta, e seringas para as medicações, no restante, os cuidados são como de qualquer outra criança”. 

 A busca por profissionais para auxiliar na rotina de João, também é um desafio. 

“Sentimos dificuldade em encontrar profissionais especializados no tratamento que ele necessita, como médicos e terapeutas. Ainda pode-se ressaltar o alto custo de alguns itens que ele necessita como órteses, carrinhos, cadeiras e parapodium”, diz a mãe.

Foto: Arquivos Pessoais

Quebrando tabus 

“Não se escolhe as características ao gerar um filho biologicamente, porque tanta escolha na hora de encontrar um filho pela adoção?”, essa foi a pergunta que motivou ainda mais o casal a entrar para a fila de adoção. O apoio entre si foi fundamental para que a família enfrentasse o preconceito e permanecesse firme na decisão. 

“Infelizmente a adoção é pouco abordada na sociedade, o preconceito ainda é muito forte, mas percebemos que boa parte dessas pessoas tem essa visão retrógrada por ignorância, desconhecimento do que realmente vem a ser a adoção, seus alicerces, objetivos. Quando você começa a ver a felicidade de uma família que adotou adolescentes, grupos de irmãos ou crianças com deficiência, você começa a entender que não existe um padrão de filho para se estabelecer um elo de amor, que ele não precisa ser recém-nascido, branco e totalmente saudável para que você possa amá-lo. Não, nada disso, basta que haja um adulto desejando se tornar pai ou mãe, disposto a amar incondicionalmente aquele ser que se encontra desprovido de afeto familiar, que pode estar ferido emocionalmente, rogando a Deus a oportunidade de ser percebido além da sua idade ou das suas deficiências, notado como um simples ser humano sedento por amor de uma família”, destaca o pai Leandro Sauer. 

Atualmente, João Vitor Grosbelli Sauer possui um ano e cinco meses e é considerado o “xodó” de toda a família e sua missão foi concretizada: ele fortaleceu ainda mais os laços entre pai e mãe, e demais parentescos. 

Ao informarmos nossos familiares e amigos sobre nossa decisão de adotar uma criança com deficiência, a reação não foi muito acolhedora pela maioria, mas sim, um misto de surpresa, medo e insegurança. Contudo, quando o João chegou e foi apresentado para todos, surgiu uma onda de amor tão grande que jamais poderíamos imaginar, a transformação foi visível, a alegria de quem estava à sua volta era nítida. Tudo gira em torno do nosso João, ele é o xodó de toda a família, sem dúvidas”, salienta o pai. 

Foto: Arquivos Pessoais

Para a família, apesar de diagnósticos frios e negativos, João traz consigo um legado de amor, vitalidade, e força de viver. 

Diagnóstico não é sentença. Temos muita fé e confiança em Deus, pois somente Ele tem poder sobre nossas vidas, nada acontece sem a sua permissão. Vivemos um dia de cada vez, o mais presente possível, curtindo cada momento com ele, amando-o com todas as nossas forças, fazendo o possível para que ele evolua, dentro das suas limitações, pois sabemos que só o amor transforma e cura os seres humanos, e é para isso que estamos aqui, para evoluirmos. Ouvimos várias vezes as pessoas dizendo que o João tem sorte em ter encontrado nós dois, mas na verdade nós que tivemos sorte em tê-lo encontrado, pois nossa vida está ainda mais linda com a chegada dele. Amamos o nosso João Vitor incondicionalmente, exatamente do jeitinho que ele é”, conclui o pai Leandro.

Foto: Arquivos Pessoais
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