segunda-feira, dezembro 30, 2024
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Estudo revela crescimento do empreendedorismo no Brasil como instrumento de inclusão social

Publicação Empreendedorismo no Brasil 2023 foi lançada em evento virtual, com mais de 1,5 mil pessoas, que avaliou os dados da pesquisa Monitoramento Global do Empreendedorismo

A Fábrica de Vassouras Ecológicas é uma iniciativa de um Grupo de Mulheres da comunidade de Brasilia Teimosa, bairro da zona sul de Recife. Na foto, Afra Ferreira prepara os fio de plástico para o cozimento antes da montagem das vassouras. Foto Gil Vicente/ASN

O cenário do empreendedorismo no Brasil está em expansão, como revela a publicação Empreendedorismo no Brasil 2023, lançada nesta quarta-feira (11) em live, acompanhada por mais de 1,5 mil pessoas, promovida pelo Sebrae e Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe). O estudo, baseado nos resultados da pesquisa Monitoramento Global do Empreendedorismo (GEM) do ano passado, traz um panorama detalhado sobre as atividades empreendedoras no país e aponta que ter o próprio negócio é o sonho de 48 milhões de brasileiros.

Se o desejo de todo esse contingente de pessoas se tornasse realidade, o Brasil dobraria, em um período de três a cinco anos, o número de empreendedores, trazendo grande impacto econômico e social para o país. Os números do estudo foram comentados pelo economista de Gestão Estratégica do Sebrae Marco Aurélio Bedê, que avalia o empreendedorismo como uma “grande chave para o crescimento”.

“Se a gente conseguir transformar essas pessoas que desejam ser empreendedoras em empresárias, de fato, nós estaremos promovendo uma inclusão social fantástica, porque isso traria para a atividade econômica, para a área produtiva, pessoas de baixa renda, que teriam sua renda melhorada. São pessoas de baixa escolaridade, que aumentariam sua autoestima e poderiam progredir em outras áreas, pessoas pretas e pardas, mulheres e jovens, que são todos grupos que merecem, precisam, necessitam ter uma inclusão social maior”, ressaltou Marco Aurélio.

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“Seja no salão de beleza, numa startup ou numa barbearia, esses empreendedores têm a criatividade e produzem processos para induzir a nossa economia. Todos aqueles que empreendem são pessoas que querem buscar o protagonismo socioeconômico das suas vidas para garantir renda e construir sua dignidade. Empreender é uma importante ferramenta também de inclusão social. E o papel do Sebrae é de compromisso com essas pessoas na condução dos seus negócios”, afirma Décio Lima, presidente do Sebrae. Décio Lima, presidente do Sebrae Nacional.

A estatística Simara Greco, coordenadora da pesquisa GEM Brasil, há 23 anos, focou sua apresentação em como o empreendedorismo se reflete especialmente em famílias de baixa renda. “A população de baixa renda e escolaridade mais baixa, é menos empreendedora. São pessoas que empreendem por necessidade, em empreendimentos informais, praticamente não geram postos de trabalho e tampouco inovação. Então, essa população merece uma atenção maior, outros programas de inclusão, além dos voltados ao empreendedorismo”, concluiu.

Nesse contexto, o estudo demonstra, ainda, que o empreendedorismo tem grande potencial de inclusão social, particularmente entre grupos como pessoas de baixa renda (70%), baixa escolaridade (77%), mulheres (55%), jovens (50%) e a população preta e parda (63%). Essa comunidade, frequentemente à margem das atividades econômicas tradicionais, encontra no empreendedorismo uma oportunidade de ascensão econômica e integração produtiva.

Ainda assim, o caminho para transformar esse potencial em realidade requer investimentos em capacitação e segmentação.

“Existem muitas teorias e muitas informações sobre os empreendedores de favelas que, na verdade, ainda são muito subjetivas. Então a gente precisa ter uma relação muito próxima para entender a realidade dos territórios e poder de fato criar ações para que essas pessoas possam ter sucesso naquilo que elas estão empreendendo”, Bruno Kesseler, empreendedor social e presidente da Central Única das Favelas do Distrito Federal (CUFA-DF).

Para ele, dados e informações sobre as favelas são imprescindíveis para mapear e traçar as melhores estratégias de aprimoramento para os empreendimentos desses territórios. “A última pesquisa da Data Favela mostra que se as favelas do Brasil fossem unificadas nós teríamos o terceiro maior estado em população. E isso é muito significativo, porque o número de favelas dobrou na última década. Hoje nós temos 3.100 favelas mapeadas no Brasil”, afirmou. Ainda conforme Bruno, “esse é um mercado que movimenta R$ 200 bilhões por ano”.

O presidente da CUFA-DF destacou também que, entre os 17,9 milhões de moradores de favelas no Brasil, 5,2 milhões são empreendedores, mas apenas 37% estão formalizados. “Isso mostra pra gente que ainda existe uma dificuldade de acesso à informação no aspecto da formalização”, complementou, ressaltando que a união de forças entre instituições pode ser capaz de mudar essa cultura.

José Alberto Sampaio Aranha apresentou o Parque de Inovação Social Tecnológica e Ambiental (Pista), programa de empreendedorismo na Rocinha, favela do Rio de Janeiro, do qual é coordenador. “Uma grande vantagem que a gente tem nesse novo cenário da favela é que as pessoas agora não se formam e saem da favela; elas querem continuar na favela, montam seus coletivos e têm um ideal em modificar aquele ambiente onde estão vivendo”, relatou. É nesse contexto que nasceu a iniciativa, que tem como objetivo descobrir qual é o plano de vida das pessoas e a partir disso, capacitá-las e prepará-las para serem empreendedoras.

De acordo com ele, o governo do Rio de Janeiro vai multiplicar os princípios básicos do projeto que nasceu na Rocinha em outras favelas, como a da Maré e do Alemão, ambas na capital, e em outros municípios no interior do estado, para “começar a trabalhar essa cultura de promover uma modificação dos territórios através da tecnologia e capacitação”.

Expansão de oportunidades

Entre os principais resultados apresentados no livro, destaca-se a retomada do empreendedorismo por oportunidade após o impacto da pandemia de COVID-19. Em 2020, cerca de 49,6% das atividades empreendedoras no Brasil surgiram por necessidade, refletindo o cenário de crise. Contudo, a recuperação já é visível, com 61,4% dos novos empreendimentos em 2023 sendo fruto de oportunidades de mercado. A expectativa para os próximos anos é que esse número continue a crescer, podendo chegar a 70%, impulsionado pela retomada econômica, a queda do desemprego e o controle da inflação.

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