
Por Willian Ricardo
“Foi algo devastador em nossa família, pois perdemos a nossa referência, e a forma brutal que foi”. A fala é da viúva Alexsandra Alves dos Santos Barrionuevo, de 38 anos, companheira do sargento da Polícia Militar, Claudecir Barrionuevo, de 44 anos, que foi morto a tiros após ter sido vítima de um furto na tarde de domingo, 18 de março de 2018, em Chapecó/SC. O crime completou um ano na segunda-feira desta semana.
Claudecir, que possuía 24 anos de carreira na Polícia Militar de Santa Catarina, estava na casa de um irmão no bairro São Cristóvão, quando notou que a caminhonete da família, uma S10 havia sido furtada.
Segundo relato da Polícia Militar, durante buscas pela região, com auxílio do irmão, eles encontraram dois indivíduos com a caminhonete. Houve perseguição, os bandidos se acidentaram e fugiram a pé. Invadiram um terreno e roubaram outro automóvel, um Voyage. Ao ver a situação, Claudecir teria tentado fazer a prisão da dupla, porém foi atingido por dois disparos de arma de fogo e morreu no local.
Com o carro roubado, a dupla fugiu do local. Entretanto, ainda naquele dia, após intensa procura, um dos autores do crime foi preso pela Polícia Militar. Segundo a PM, ele foi identificado como um adolescente de 17 anos. Já o segundo indivíduo, Tiago de Paula da Rosa, de 23 anos, conhecido como Tiaguinho, foi morto na troca de tiros com a polícia, no início da noite daquele domingo, na região do bairro Efapi. Ele estava na estrutura de uma caixa d’água quando foi baleado pela PM.
Após mais de 365 dias, Alexsandra contou à reportagem do ClicRDC como tem sido a vida após o fato que assolou a família Barrionuevo. Entre a angústia da saudade e a necessidade de seguir a vida, ela relata que chegou a receber ameaças via redes sociais. No entanto, a cada dia é um recomeço para ela e os três filhos do casal. “Os primeiros dias foram os mais angustiantes, pois era o pai que não atendia mais o telefone, não chegava mais na hora normal de sua chegada. Muitos foram os ‘porquês?’ que tive que responder para minha filha mais nova, que era a princesinha do pai”, lembrou.
Alexsandra foi até o local do crime minutos após o fato. “Eu senti o que é a crueldade do ser humano, tão jovem e infelizmente tão perdido neste mundo”.

365 dias de luta e insegurança
Segundo ela, com o passar dos dias, o temor por represálias aumentava. “Medo de que alguém viesse atrás de nós, de mim, dos meus filhos. Eram marginais e nós estamos a mercê”, lembrou Alexsandra. Ela comenta que durante esse período também recebeu apoio de várias pessoas próximas, como de amigos, familiares, além da ABEPOM e da Polícia Militar. “Sempre de uma forma ou outra nos ajudaram com palavras e entendimento do momento enquanto estávamos passando”.
Muitas coisas mudaram depois da morte do pai da família. “A vida social dos meus filhos reduziu muito, pois ainda não me sinto segura e confiante que está tudo bem”, observou Alexsandra. Ainda conforme a mulher, entre os momentos mais complicados enfrentados pela família, está as datas importantes. “Ainda é bem difícil. Minha filha, que era tudo para ele, completa em junho o tão sonhado 15 anos, e não quer mais ter uma festa, pois seu maior herói não poderá estar”, lamentou. “Estamos sobrevivendo a cada dia”.
Justiça
Dos dois suspeitos do latrocínio, um possuía 17 anos na época do crime. Contudo, conforme a lei vigente no país, o delito praticado por menor de idade é considerado ato infracional e está sujeitos às medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A viúva opina que seria necessária uma mudança de lei no país. “Que crimes assim não fiquem impunes por que é de menor, pois quando chega na maioridade é solto”, comentou. “Fico a imaginar, daqui a cinco anos este menor estará livre, pronto para matar ou morrer, como ele falou, pois não tinha nada a perder. Nós tínhamos uma vida, um pai, um filho, um amigo que nos defendia a qualquer custo.”

Acusado
O jovem, A.R.M, que foi preso no dia do crime, está no Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório (Casep), de Chapecó, onde cumpre medida de internação. A sentença dele saiu no dia 24 de abril de 2018. Ele pode ficar internado no máximo, três anos, ou até completar 21 anos, onde a liberação será compulsória. A decisão será do juiz.
PM de Chapecó
O policial militar que efetuou o disparo de arma de fogo que acertou ‘Tiaguinho’ – um dos acusados – foi absolvido do processo, segundo o Tenente-Coronel Ricardo Alves. O ato foi considerado como legítima defesa.
