
A Igreja do Evangelho Quadrangular catarinense vive nesta terça-feira (30) o fim de uma era. A partir do início dos trabalhos eclesiásticos em Chapecó do missionário e ex-deputado estadual Narcizo Parisotto, em março de 1980, o conhecido líder evangélico foi reconhecido pela administração nacional da igreja como principal responsável pela gestão da Quadrangular em Santa Catarina. Entretanto, após anos de dificuldades, problemas diversos e relutâncias, o Conselho Nacional de Diretores, presidido pelo pastor e ex-deputado federal mineiro Mario de Oliveira, decidiu retirar Parisotto do cargo, e colocar o 1º vice-presidente estadual, pastor Balduíno Rodrigues, como novo presidente da Quadrangular catarinense a partir de 5 de janeiro.
A nota pública divulgada na tarde desta terça-feira inicia afirmando que a Quadrangular em Santa Catarina foi construída a várias mãos: “Seu crescimento não foi resultado do trabalho de uma única pessoa, mas da dedicação conjunta da direção nacional, estadual, regional e local, pastores titulares, ministros, aspirantes, obreiros, líderes e membresia que, ao longo dos anos, serviram com compromisso, fé e trabalho (…) Ninguém fez nem construiu nada sozinho, uma obra dessa dimensão não se sustenta pelo esforço isolado de alguém”.
Na nota, a Quadrangular afirma ser justo reconhecer, honrar, respeitar e valorizar quem teve participação relevante nesse processo histórico, contudo, não se pode aceitar individualismos: “É necessário afirmar que as orientações e decisões dos últimos 26 anos foram tomadas de forma coletiva por um Conselho Estadual de Diretores eleito, envolvendo Superintendentes Regionais, Secretários e Coordenadores estaduais”.
Igreja em queda livre
Essa forma de trabalho se reflete em números objetivos e históricos no estado. Ao longo dos últimos 46 anos, a Quadrangular em Santa Catarina passou de 72 para 690 igrejas e obras novas, o que representa 618 novas igrejas abertas. Isso corresponde a uma média de 13 igrejas abertas por ano: “Grande parte dessas implantações ocorreram por iniciativa direta de igrejas, pastores e superintendentes, muitas delas em cooperação com o Conselho Estadual de Diretores, através da oferta de missões e da taxa estadual vindas de cada Igreja local, evidenciando um processo descentralizado, cooperativo e coletivo”, aponta a nota.
O crescimento não foi contínuo nem homogêneo ao longo do tempo. Segundo dados e fatos públicos divulgados em Convenções Estaduais da Quadrangular, nos anos mais recentes, o decréscimo da igreja em Santa Catarina foi muito acentuado, seguindo uma tendência nacional da denominação. Há cerca de 10 anos, conforme a nota, os dados levantados pelo Conselho indicavam que a Quadrangular catarinense era composta por mais de 150 mil membros e quase 800 igrejas, que somadas com as congregações e pontos de pregação, chegavam a mais de 3 mil portas abertas no estado; sendo de forma indiscutível a segunda denominação evangélica do estado em número de membros, perdendo apenas para as Assembleias de Deus.
Os números de 2025 apontam que a Quadrangular em Santa Catarina conta com apenas 55 mil membros em 690 igrejas e 64 congregações e pontos de pregação: “A recorrente estagnação e diminuição dos indicadores de crescimento da Igreja, somadas à insistência por parte da presidência em destoar de decisões estaduais coletivas e orientações do Conselho Nacional, bem como falas e atitudes desconexas com a liturgia do cargo, fragilizaram a unidade e geraram desconforto institucional comprometendo conceitos básicos dos princípios bíblicos e institucionais de governança”, afirma a nota.
O comunicado da Quadrangular relata que muitos dos alertas e planos de ação trazidos para tentar retomar o crescimento foram ignorados ou negligenciados por Narcizo Parisotto: “Tais fatos devem ser tratados com maturidade e responsabilidade, sempre com o objetivo de preservar a integridade da Igreja, seus processos e sua missão”.
Influência política
Na nota, a Quadrangular catarinense reconhece que ao longo desses 46 anos de liderança, foram exercidos por Parisotto mandatos políticos públicos estaduais de forma simultânea à presidência estadual da Igreja, funções que garantiram, na visão da administração nacional, “reconhecimento e promoção institucional, bem como remunerações financeiras pessoais recebidas por dezenas de anos compatíveis com o exercício destes cargos”.
Para a igreja, términos de mandatos não podem ser interpretados como exclusão ou injustiça, mas como o cumprimento natural de ciclos previamente estabelecidos: “Mandatos têm início, duração, desenvolvimento e término. Respeitar esses ciclos não apaga histórias; ao contrário, protege reputações, honra o que foi construído e fortalece a instituição para o futuro. A Igreja permanece maior do que qualquer nome, família ou disputa por cargo”, aponta a nota.
A Quadrangular catarinense conclui a nota afirmando que vem estruturando um projeto institucional, pensado e definido coletivamente, embasado em medidas estatutárias aprovadas em Convenção Nacional: “As decisões tomadas nesse processo respeitam critérios jurídicos legais e institucionais, históricos e estratégicos, sempre priorizando a unidade, a responsabilidade e a continuidade da Instituição”.
A Quadrangular e a Condá FM
A relação entre a Igreja Quadrangular e a Condá FM, empresa mãe do Grupo Condá de Comunicação, começou juntamente com o início dos trabalhos eclesiásticos de Narcizo Parisotto em Chapecó. Em 1º de março de 1980, a emissora começou a transmitir o programa Visita ao Seu Lar, que atualmente é apresentado de segunda a sexta-feira, às 6h da manhã. O Visita ao Seu Lar é, atualmente, o programa independente mais antigo em atividade no rádio chapecoense.
Nos primeiros anos, o programa era apresentado exclusivamente por Parisotto na faixa das 14h, de segunda a sexta-feira. Com o passar do tempo, e o crescimento da igreja nos anos 1980, 1990 e 2000, o Visita ao Seu Lar chegou a ter três edições, que somadas, ocuparam duas horas e quarenta minutos da programação diária da Condá FM. Nos últimos anos, o investimento da Quadrangular em programas de rádio e TV diminuiu em todo o país. A denominação em Chapecó seguiu essa tendência, mas manteve a parceria histórica com a Condá, mantendo sua presença na faixa das 6h da manhã.





