Produtores de leite de várias cidades do Oeste catarinense voltaram a cobrar ações do poder público diante da grave crise que atinge o setor. Na manhã da última terça-feira (28), um grupo de agricultores realizou uma manifestação nas margens da BR-282, em Ponte Serrada, enquanto lideranças de cooperativas e entidades se reuniram em Chapecó para discutir medidas emergenciais e estratégias de enfrentamento.
Durante o ato em Ponte Serrada, realizado no trevo do distrito de Baía Alta, faixas com frases como “Produtores de leite de SC pedem socorro” e “O produtor de leite não aguenta mais, pare com a importação já!” foram estendidas à beira da rodovia. A mobilização reuniu representantes de municípios como Xanxerê, Abelardo Luz, Xaxim, Faxinal dos Guedes, Passos Maia e Ponte Serrada.
A principal reclamação é a concorrência desleal com o leite importado, especialmente dos países do Mercosul, vendido no mercado nacional a preços abaixo do custo de produção brasileiro. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o litro do leite pago ao produtor em outubro foi de R$ 2,22, frente aos R$ 2,66 do mesmo período do ano passado. Em Santa Catarina, a média é ainda menor: R$ 2,14, enquanto o custo de produção ultrapassa R$ 2,20.
“O produtor está num momento que não consegue mais pagar o que deve, escolhendo o que vai quitar. Está muito difícil a situação”, relatou Eleandro Francisco Arsego, produtor e vereador de Xanxerê. “Estamos reunidos para chamar a atenção das autoridades, antes que parem todos esses produtores”, completou.
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Reunião em Chapecó cobra medidas do governo
Paralelamente à mobilização, o Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite se reuniu na sede da Epagri, em Chapecó. No encontro, lideranças do setor decidiram enviar dois documentos oficiais aos governos estadual e federal, solicitando ações imediatas para conter as perdas e restabelecer o equilíbrio da cadeia leiteira.
O presidente da Faesc (Federação da Agricultura e Pecuária de SC), José Zeferino Pedrozo, afirmou que a produção catarinense cresceu, mas o consumo interno não acompanhou.
“Enquanto nossos produtores investem e trabalham para oferecer um leite de qualidade, o mercado é invadido por produtos importados do Mercosul com preços inferiores aos custos nacionais. Isso é concorrência desleal”, destacou Pedrozo. Ele reforçou que o consumidor não percebe queda de preços nas gôndolas, mas produtores e indústrias acumulam prejuízos: “As propriedades e os laticínios estão no limite. É uma situação que exige ação imediata do governo.”
O primeiro documento será enviado ao governo federal, com pedidos como a continuidade das auditorias da CNA sobre o leite importado, a criação de estoques reguladores e o uso do leite nacional em programas sociais e na merenda escolar. O segundo documento, destinado ao governo estadual, pede reforço nas inspeções sanitárias, equalização tributária e apoio à compra de produtos catarinenses para reduzir o excesso de oferta.
“Retirar o excedente do mercado é fundamental para estabilizar o ambiente. Nossos produtores são eficientes e não podem ser forçados a abandonar a atividade por falta de rentabilidade”, completou Pedrozo.
Estoques cheios e risco de perdas
O presidente do Conseleite e do Sindileite, Selvino Giesel, também manifestou preocupação com o escoamento da produção.
“Itens como iogurte, queijo e leite UHT precisam ser vendidos rapidamente. Se não forem, acabam vencendo. Entramos agora em um período de menor consumo, o que agrava ainda mais o problema”, explicou.
Segundo Giesel, algumas propriedades já registram perdas de até R$ 0,15 por litro, e pequenas indústrias enfrentam dificuldade até para manter as portas abertas.
Projeto de lei tenta barrar leite reconstituído
Para conter a concorrência com produtos importados, o deputado estadual Altair Silva (PP) apresentou o Projeto de Lei 768/2025, que proíbe a reconstituição de leite em pó importado para venda como leite fluido em Santa Catarina. A proposta prevê multas de até R$ 1 milhão, apreensão de lotes e suspensão do registro sanitário de empresas infratoras. Os valores arrecadados serão destinados ao Fundo Estadual de Desenvolvimento Rural (FDR), para investimentos em programas de apoio à cadeia leiteira e à agricultura familiar.
Silva também vai coordenar uma audiência pública no dia 12 de novembro, na Assembleia Legislativa de SC, reunindo produtores, cooperativas, indústrias e autoridades para debater saídas para a crise.
Perspectiva de reação
Apesar do cenário preocupante, o setor tenta manter o otimismo.
“Santa Catarina subiu da oitava para a quarta posição entre os maiores produtores de leite do país. Isso se deve ao esforço dos nossos pequenos e médios produtores. Já superamos outras crises e vamos superar esta também, mas precisamos agir agora”, concluiu Pedrozo.
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