
A crescente demanda por alimentos orgânicos por parte de consumidores e restaurantes tem levado produtores rurais a buscar alternativas mais sustentáveis no controle de pragas e doenças, equilibrando produtividade com redução de impactos ambientais. Em Santa Catarina, pesquisadores e extensionistas da Epagri têm promovido trocas de saberes e experiências para aprimorar o uso de práticas menos dependentes de agrotóxicos.
No dia 28 de agosto, a entomologista Érica Frazão Pereira de Lorenzi, da Estação Experimental da Epagri em Urussanga, compartilhou com produtores de mandioca da região de Itajaí, no Centro de Treinamento de Itajaí (Cetrei), os resultados de pesquisas voltadas ao controle da mosca-do-broto, uma das principais pragas que afetam o cultivo do aipim.

Segundo Érica, a mosca-do-broto ataca as plantas nos estágios iniciais de desenvolvimento, causando bifurcações nas ramas, que perdem vigor e se tornam mais vulneráveis a outras pragas. O experimento conduzido entre 2020 e 2023 em propriedades do município de Sangão testou diferentes manejos, como a aplicação de manipueira no solo — um subproduto do processamento da mandioca que, além de ser rico em nutrientes, possui propriedades inseticidas naturais devido à presença de ácido cianídrico.
Três sistemas foram comparados: um com manejo convencional e mata ao redor, outro com mandioca plantada no entorno e um terceiro com rotação de culturas (aveia no inverno) e uso de manipueira. O último apresentou os menores índices de infestação. A análise indicou que as bordas das lavouras, especialmente próximas à mata ou a lavouras velhas, concentram os primeiros focos de infestação. Outro fator agravante é o armazenamento inadequado de ramas sob árvores, o que favorece a reprodução das moscas.
Além disso, Érica ressaltou que o uso de ramas contaminadas, muitas vezes trocadas entre produtores ou vindas de outras regiões, pode disseminar pragas e doenças. O problema é ainda mais grave quando não há fiscalização sobre o material genético utilizado nas plantações.

A pesquisadora também abordou práticas alternativas, como o plantio consorciado com feijão, milho ou melancia. Um experimento realizado em 2017 demonstrou que o consórcio reduziu a incidência da praga, sendo o feijão o mais vantajoso do ponto de vista econômico e agronômico, por contribuir com a fixação de nitrogênio no solo.
Na Estação Experimental de Urussanga, entre 2020 e 2023, Érica testou sete defensivos biológicos e alternativos, incluindo extratos de neem, alho, fertilizante marinho e caulim. Embora os produtos tenham apresentado resultados positivos, o efeito foi menor do que o do defensivo químico convencional, que ainda apresenta maior efeito residual.
Ela alerta, no entanto, para os riscos do uso intensivo de defensivos químicos, como o surgimento de pragas resistentes e a eliminação de predadores naturais. Nas lavouras de aipim, por exemplo, foi identificada a presença de uma microvespa que parasita a larva da mosca-do-broto. “O uso de químicos deve ser o último recurso. O manejo integrado é a chave”, reforça.

Apesar dos avanços, produtores apontaram desafios para a adoção plena das práticas sustentáveis, como a dificuldade em evitar o plantio escalonado — necessário para atender à demanda contínua — e os custos para implementar rotação de culturas. Ainda assim, a adoção gradual de boas práticas, aliada à difusão de conhecimento técnico, vem mostrando que é possível produzir de forma mais consciente e eficiente.
Fonte: Renata Rosa, jornalista bolsista da Epagri/Fapesc