
O Brasil registrou 44.127 Mortes Violentas Intencionais (MVI) em 2024 — número 5,4% menor em relação ao ano anterior. Os dados constam na 19ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (24), e refletem uma tendência de queda nos homicídios que se mantém desde 2018.
A categoria MVI engloba homicídios dolosos (incluindo feminicídios), latrocínios, lesão corporal seguida de morte, mortes por intervenção policial e de policiais. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), responsável pelo levantamento, a redução está ligada à implementação de políticas públicas baseadas em evidências, ações de prevenção à violência e transformações no crime organizado. Ainda assim, regiões como o Nordeste seguem apresentando índices alarmantes.
O perfil das vítimas permanece o mesmo dos últimos anos: homens (91,1%), negros (79%), jovens de até 29 anos (48,5%), mortos por arma de fogo (73,8%), principalmente em vias públicas (57,6%). Cidades mais violentas do Brasil estão concentradas na Bahia, Ceará e Pernambuco, com Maranguape (CE) liderando a lista.
Entre os estados, Amapá (45,1), Bahia (40,6) e Ceará (37,5) apresentam as maiores taxas de MVI. As menores estão em São Paulo (8,2), Santa Catarina (8,5) e Distrito Federal (8,9). Já entre as regiões, Norte e Nordeste registram taxas acima da média nacional.
Feminicídios e violência sexual batem recordes
Apesar da queda nas MVI, o número de feminicídios subiu 0,7% em 2024, atingindo o maior índice desde o início da série histórica, com 1.492 casos. A maioria das vítimas eram mulheres negras (63,6%), entre 18 e 44 anos (70,5%), mortas dentro de casa (64,3%) por parceiros ou ex-parceiros (80%).
As tentativas de feminicídio cresceram 19% (3.870 registros), e também aumentaram os casos de stalking (18,2%) e violência psicológica (6,3%).
No mesmo sentido, os crimes sexuais dispararam. O Brasil registrou 87.545 estupros em 2024 — maior número da série histórica. A cada seis minutos, uma mulher foi estuprada no país. A maioria das vítimas é negra, menor de idade e atacada dentro de casa, geralmente por familiares ou companheiros.
Crianças e adolescentes mais vulneráveis
A violência contra crianças e adolescentes também aumentou: as MVI nesse grupo cresceram 3,7%, totalizando 2.356 mortes em 2024. Casos de abuso sexual infantil subiram 14,1%, seguidos por abandono de incapaz (9,4%), maus-tratos (8,1%) e agressões domésticas (7,8%).
Letalidade policial preocupa
Outro dado alarmante do anuário é a letalidade policial. Em 2024, 6.243 pessoas foram mortas por agentes de segurança — o equivalente a 14,1% de todas as MVI do país. O estado de São Paulo registrou aumento de 61% nas mortes causadas por policiais, especialmente após a descontinuidade do uso de câmeras corporais e com a intensificação da Operação Escudo, na Baixada Santista.
As polícias militares mais letais foram as do Amapá (17,1 mortes por 100 mil), Bahia (10,5) e Pará (7,0). Cidades como Santos e São Vicente (SP) figuram entre as que têm as maiores proporções de mortes causadas por policiais.
Fonte: Agência Brasil