
O Brasil está na vanguarda da imunoterapia contra o câncer com o desenvolvimento nacional das células CAR-T (Chimeric Antigen Receptor T-Cell). O tratamento, que modifica geneticamente células do próprio paciente para combater tumores, já apresenta taxas de remissão acima de 80% em leucemias e linfomas resistentes a outras terapias. No país, a Universidade de São Paulo (USP) lidera pesquisas que podem reduzir os custos dessa inovação, tornando-a mais acessível aos brasileiros.
Como funciona a terapia CAR-T?
O tratamento com células CAR-T é considerado um marco na oncologia porque utiliza os próprios linfócitos T do paciente, modificados em laboratório para atacar células cancerígenas de forma específica. O processo ocorre em quatro etapas principais:
- Coleta: As células de defesa do paciente são extraídas por meio de um procedimento chamado aférese.
- Modificação genética: Em laboratório, essas células são reprogramadas para expressar um receptor que identifica antígenos do câncer.
- Expansão: As células modificadas são cultivadas até atingirem uma quantidade suficiente para o tratamento.
- Infusão: As células CAR-T são reintroduzidas no organismo do paciente, onde começam a reconhecer e destruir os tumores.
O diferencial dessa abordagem está no efeito duradouro: as células modificadas continuam circulando no corpo por anos, reduzindo a chance de recidiva da doença.
Brasil na corrida pela produção própria
A produção de terapias CAR-T ainda é um desafio global, principalmente devido aos altos custos. No exterior, os tratamentos disponíveis podem ultrapassar R$ 2 milhões por paciente. No entanto, o Brasil tem avançado para mudar esse cenário.
Pesquisadores da USP, em parceria com o Instituto Butantan, desenvolvem uma versão nacional da terapia desde 2019. A fábrica localizada no Hemocentro de Ribeirão Preto é a única na América Latina com capacidade para produzir até 300 tratamentos por ano, o que pode reduzir significativamente os custos e democratizar o acesso à terapia.
Em março de 2024, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto deu um passo importante ao iniciar estudos clínicos em pacientes brasileiros com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin. O objetivo é tratar 81 pacientes até o próximo ano.
Impacto e desafios da nova terapia
Apesar do grande potencial, a terapia CAR-T ainda enfrenta desafios. Entre os principais estão:
- Efeitos colaterais severos: O tratamento pode desencadear a síndrome de liberação de citocinas, uma resposta imunológica exagerada que exige monitoramento hospitalar intensivo.
- Limitação a cânceres do sangue: Atualmente, a CAR-T é altamente eficaz contra leucemias e linfomas, mas seu uso para tumores sólidos, como os de pulmão e mama, ainda está em fase experimental.
- Custo elevado: Mesmo com a produção nacional, o tratamento ainda exige infraestrutura especializada e investimentos em larga escala.
Ainda assim, os avanços indicam que a CAR-T pode representar a cura definitiva para diversos tipos de câncer, especialmente para pacientes sem alternativas terapêuticas.
O futuro da imunoterapia no Brasil
Com o progresso das pesquisas, espera-se que nos próximos anos a terapia CAR-T seja aplicada a um número maior de pacientes e ampliada para o tratamento de tumores sólidos. A aposta na produção nacional é um passo crucial para tornar essa revolução da oncologia mais acessível e mudar a realidade de milhares de brasileiros que lutam contra o câncer.