A Polícia Federal (PF) desarticulou, nesta quarta-feira (18), uma organização criminosa que atuava como falsa agência de modelos para enganar mulheres com promessas de trabalho no exterior. A Operação Catwalk identificou que o grupo praticava o crime de tráfico internacional de pessoas para exploração sexual e que as agenciadoras também atuavam dentro do território nacional.
Foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão nas residências dos principais alvos. As diligências estão sendo cumpridas em São Paulo (SP), no Paraná (PR), em Santa Catarina (SC) e no Rio de Janeiro (RJ).
Além disso, foram cumpridas medidas cautelares, como a apreensão de passaportes, a proibição de novas emissões de documentos de viagem e o sequestro de bens. Também foi proibido judicialmente o acesso às redes sociais por meio de seus perfis e dos investigados se comunicarem entre si.
Plano de enfrentamento ao tráfico de pessoas
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Secretaria Nacional de Justiça (Senajus), tem desenvolvido atividades e ações do IV Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas para coibir esse tipo de violação.
A coordenadora-geral de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes do MJSP, Marina Bernardes, destaca que, muitas vezes, esse é um delito que ultrapassa fronteiras e que exige atuação coordenada entre os países para que o seu enfrentamento seja eficaz. “O tráfico de pessoas para fins de exploração sexual é um crime que afeta majoritariamente mulheres, meninas e população LGBTQIA+, evidenciando a necessidade de uma abordagem baseada na perspectiva de gênero. Essa perspectiva permite compreender como desigualdades estruturais, discriminação e violência de gênero criam um ambiente propício para a vulnerabilidade dessas populações, além de influenciar a dinâmica do aliciamento e da exploração”, explicou.
Lançado em julho deste ano, o plano reúne ações e atividades que têm o objetivo de reprimir e responsabilizar culpados, além de prevenir, proteger e assistir vítimas. A implementação do plano pode ser acompanhada pela ferramenta de business analytics .
Operação Catwalk
A investigação que culminou na Operação Catwalk começou a partir da denúncia da mãe de uma das vítimas, de São José dos Campos (SP). A menina foi candidata ao trabalho oferecido pela falsa agência de modelos, do Rio de Janeiro (RJ), que selecionava jovens de aparência infanto-juvenil. A ação da Polícia Federal conseguiu interceptar o envio da filha da denunciante.
A promessa da agência era de trabalho como modelo no exterior. Porém, na realidade, as vítimas sofriam exploração sexual mediante fraude, coação contratual e exploração de vulneráveis. As vítimas tinham o passaporte retido pelas aliciadoras e eram levadas para Dubai, onde permaneciam até que houvesse nova seleção. As aprovadas seguiam para a Arábia Saudita e para países europeus, asiáticos e para os Estados Unidos. Lá, elas permaneciam por até 180 dias.
Uma vez em território estrangeiro, as meninas não tinham nenhum tipo de liberdade e todos os movimentos delas eram monitorados. Elas tinham uma vida de aparente conforto e luxo material. Algumas garotas eram incentivadas a postar em suas redes sociais imagens da vida de luxo para iludir novas vítimas do esquema criminoso.
O contrato feito entre agência e as garotas continham cláusulas abusivas, tais como a previsão de multas milionárias e a exigência de exame de doenças sexualmente transmissíveis. Com isso, era exercida a coerção sobre elas para que fossem desestimuladas e desistirem.
As investigações da Polícia Federal identificaram dez vítimas, além do movimento da falsa agência de modelos, que girava em torno de dezenas de mulheres enviadas mensalmente aos destinos. Além disso, ficou demonstrado que houve pelo menos um caso de ameaça e de efetiva agressão física contra uma das traficadas, a fim de garantir o repasse das comissões pelas atividades sexuais, que chegavam a 60%.
Por Polícia Federal