Pesquisa da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (Abes) apontou Santa Catarina como o segundo pior estado em tratamento de esgoto do Brasil, atrás apenas do Piauí. Conforme o levantamento, 12% da população urbana tem saneamento adequado. A Casan, empresa que administra o esgoto, apresenta um percentual um pouco melhor, de 15%.
Foi justamente para buscar alternativas e aprofundar a reflexão para mudar esse quadro que especialistas se reuniram na noite da (23), na Assembleia Legislativa, para debater o tema “Saneamento Ecológico: soluções baseadas na natureza e saneamento ecológico”. Promovido pela Comissão de Turismo e Meio Ambiente por proposição de seu presidente, deputado Marquito (Psol), o evento faz parte da agenda desenvolvida durante todo o mês de junho para marcar o Dia do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho.
Participaram da mesa redonda, além do deputado Marquito, os professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Pablo Sezerino (Engenharia Ambiental) e Paulo Horta (Botânica); a bióloga e pesquisadora da UFSC Daniele Damasceno; o professor da Universidade do Estado de Santa Catarina Eduardo Belo Rodrigues, coordenador do programa Saneamento Básico Rural; o diretor de Engenharia e Qualidade Ambiental do Instituto do Meio Ambiente, Matheus Zaguini; o representante da Casan, Alexandre Trevisan; e o eco-pedagogo Dan Baron, integrante da organização Ecoe Brasil, que recentemente contribuiu na construção do projeto de lei do Ecocídio, protocolado na Câmara dos Deputados.
Entenda o que é
O saneamento ecológico trabalha com diferentes tecnologias, em geral de forma descentralizada, para transformar resíduos em recursos. A captação e o tratamento de urina em grandes locais, como universidades, por exemplo, podem gerar um excelente fertilizante. As fezes viram condicionadores do solo, biogás, etc. Os jardins filtrantes e as wetlands purificam a água. Pode-se utilizar banheiros secos, sistemas baseados na permacultura, bacias de evapotranspiração e muitas outras ferramentas.
No debate, além da elaboração de um inventário estadual, para diagnosticar no Estado ações desse tipo, foi destacada a importância da capacitação e a formação de técnicos junto às associações de municípios em Santa Catarina, preparados para fomentar a aplicação desse modal ecológico. E, por fim, a instalação de dois modelos, unidades de referência, didáticos com soluções baseadas na natureza e no saneamento ecológico.
“Temos o comprometimento e a preocupação com essa mudança de paradigma”, afirmou Marquito. “Está claro que o atual modelo, majoritariamente centralizado, não está sendo suficiente.”
Para o deputado, o saneamento ecológico pode ser uma alternativa para reduzir a poluição causada pela insuficiência do atual sistema de saneamento do estado. “Justamente para unir forças e buscar alternativas efetivas é que buscamos dar luz para esse debate visando avançar nas políticas públicas ambientais”, avalia Marquito. “A adoção desse modelo pode ser a solução para a falta de esgotamento sanitário”, disse.
Alternativas
As alternativas ecológicas para o problema do saneamento básico em Santa Catarina ecoaram nos painéis apresentados.
O professor e engenheiro ambiental da UFSC Pablo Sezerino apresentou o tema soluções baseadas na natureza para tratamento em pequenas comunidades. Já a professora da USFC Daniele Damasceno trouxe para o debate a experiência da universalização do saneamento da França, sendo complementado pelo professor da Udesc Eduardo Belo Rodrigues, que ampliou o tema.
O professor da UFSC Paulo Horta (Botânica) destacou que “é necessário pensar fora da caixa”. Para ele, o sistema de tratamento tem que passar por mudanças.
Os efeitos climáticos pautaram o debate. “A magnitude desse problema mundial é preocupante. Tem que ser repensado. Tudo o que é relacionado à vida é prioritário”, avaliou Horta.