Em ano de muitos eventos algumas perguntas nos movimentam: como acontecimentos moldam a opinião pública? E, como ela pode influenciar nos acontecimentos? O historiador Marc Bloch afirmava que a história consiste não apenas em saber como os acontecimentos ocorreram, mas igualmente como foram percebidos.
O papel do historiador é interpretar os fatos do presente a luz dos acontecimentos do passado. Uma sociedade que tem memória dos acontecimentos do passado, terá maior facilidade em interpretar os acontecimentos do presente, pois quem domina o passado, domina o presente, domina o futuro.
Para nós que pesquisamos a sociedade e os indivíduos, nem sempre é fácil perceber os comportamentos de homens e mulheres confrontados com os acontecimentos. Isso porque estamos observando pessoas, grupos e famílias políticas.
Pesquisar seres humanos é complexo porque pessoas não são exatas. As pesquisas de opinião e eleitorais tem como resultado números. Até aí tudo bem. Complexa é a interpretação desses números. Por quê? Ora, a opinião pública é revestida de crenças, opiniões, preconceitos, comportamentos que mudam a toda a hora. É revestida por um sistema de ideias de uma época.
A opinião pública muda de acordo com o contexto e com os acontecimentos. Em cada período eleitoral, por exemplo, ela pode assumir uma nova roupagem, influenciada pela experiencia dos acontecimentos anteriores.
Mas tem mais. A opinião pública também influencia na tomada de decisões de autoridades como, por exemplo o caso de Roosevelt, que dirigiu os Estados Unidos de olho nas pesquisas. Não deixava que sua política fosse ditada por elas, mas acreditava que não podia se conduzir uma política sem o apoio da opinião pública.
A importância de se interpretar pesquisas de opinião pública, pode ser apresentada no exemplo a seguir: numa pesquisa em 1958 entre os chefes de governo possíveis na França, o nome do General De Gaulle só foi citado por 13% dos entrevistados.
Um observador da área de pesquisas teria observado que essa porcentagem havia passado de 1% em 1955 para 5% em 1956 e para 13% em 1958. Para um historiador era fácil interpretar a tendência de crescimento. Mas para um político contemporâneo seria difícil interpretar essa tendência, pois poderia esperar que uma tendência tenha chance de se inverter.
Quando se fala em opinião pública não podemos esquecer do papel da imprensa. Nos últimos anos houve uma tendencia de descrédito com a imprensa quanto a formação da opinião pública. Diminui cada vez mais a crença de que a opinião pública é moldada pela imprensa.
No entanto, num país onde ela é livre existe boa chance de os aspectos da opinião pública serem refletidas. Seria tolice ignorar que os jornais não são apenas os meios de expressão de espíritos independentes, mas também e com mais frequência, de grupos de pressão diversos, políticos ou financeiros.
Porém, embora a imprensa seja o meio que divulga os acontecimentos políticos como reuniões, números de participantes etc. ela é incapaz de medir com precisão, qual o peso de cada opinião emitida.
Além do mais, a imprensa não pode servir de fonte para medir a opinião pública, quando ela é censurada ou quando ela serve a governos autoritários ou totalitários. No entanto, não existe votação em que o eleitor esteja protegido contra toda e qualquer “influência”.
Uma eleição não é igual a um termômetro que se coloca num abrigo. Seu veredicto não é indiscutível. É um fenômeno complexo que resulta de vários fatores. Tem muito mais a ver com o que a opinião pública pensa há muito tempo, do que com a atual conjuntura.
Em outras palavras quero dizer que resultados eleitorais num determinado local, refletem as crenças, preconceitos, princípios e valores que já estão arraigados na comunidade, há pelo menos meio século.
E para encerrar, gostaria de dizer que a opinião pública talvez não atue diretamente nos acontecimentos, não tem poder de decisão, mas tem o poder de tornar ou não possível a política de seus representantes. Um abraço, ótimo final de semana e até a próxima oportunidade.