sábado, maio 3, 2025
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“Às vezes somos amados pela sociedade e às vezes odiados”: policial feminina de Chapecó fala desafios da profissão

Cabo Cima comenta sobre adaptação em um mundo que ainda não se acostumou a ver a mulher como policial

Foto: Arquivo Pessoal

Em um ambiente dominado por homens, através de muita luta as mulheres conseguiram o direito de ingressar em profissões direcionadas à segurança pública. Mesmo lutando contra o preconceito, de lá pra cá, elas foram capazes de alcançar diversas patentes, mas ainda precisam desafiar as estatísticas e enfrentar os conflitos do dia a dia de uma sociedade que ainda não se acostumou a ver a mulher como policial. 

A policial militar, Gelciane Silva Cima, é uma delas. Há 13 anos na profissão, a Cabo, que é lotada na 3ª Companhia, do 2º Batalhão de Polícia Militar de Fronteira, de Chapecó, precisou ‘bater de frente’ com os obstáculos de igualdade de gênero presentes no cotidiano policial, mas essas dificuldades, não impediram que a Cabo Cima se destacasse na profissão.  

Sem rotina, o perigo se encontra em cada esquina, mas para Gelciane, “ser policial militar hoje, é resolver os problemas e conflitos de uma sociedade carente de diálogo, educação, saúde e principalmente, de compreensão”. Ainda quando criança, a policial já sabia a carreira que queria seguir, apaixonada pela profissão, hoje ela quebra os padrões impostos ao ‘sexo fragil’. Em um trabalho onde é necessário lidar com a pressão, a satisfação vem ao olhar de agradecimento de um cidadão no final de cada ocorrência. 

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“E por mais que seja uma profissão na qual trabalhamos sob pressão o tempo todo, ela é maravilhosa, pois é infinitamente satisfatório sentir a alegria das pessoas que nos chamam quando chegamos na ocorrência e saber que podemos ajudar ou resolver a situação”, relatou a Cabo Cima.

Foto: Arquivo Pessoal

Sempre sonhando com uma sociedade melhor, atualmente a Cabo atua no Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência), onde realiza encontros semanais, em turmas do 5º ano em escolas de Chapecó. Nas aulas, ela traz os ensinamentos voltados à formação do cidadão e a busca da valorização da vida, mas também aborda questões como bullying, combate às drogas e à violência.

A paixão pela rua, faz com que Gelciane mantenha a atuação no Programa Rede de Vizinhos, onde realiza rondas nos bairros e apoio a população. 

“Sempre sonhei em ser policial militar, em ter a chance de ajudar as pessoas, mas para passar não foi fácil. O concurso para a Polícia Militar do Estado de Santa Catarina é muito concorrido e difícil. Temos a prova objetiva, avaliação de saúde, teste de aptidão física, avaliação psicológica e questionário de investigação social”.

Foto: Arquivo Pessoal

A desvalorização da profissão 

A Polícia Militar é responsável pelas tarefas de policiamento ostensivo e preservação da ordem pública e isso faz com que algumas pessoas mantenham uma imagem negativa da PM. Muito pelo contrário, as guarnições buscam apenas trabalhar pela população: 

“Estamos 24 horas servindo a sociedade, pois quando o cidadão precisa de ajuda ‘aqui estamos, não importa a situação’. Nós somos treinados para servir, mesmo com o risco da própria vida, mas somos seres humanos também. O que as pessoas esquecem é que sim, podemos errar, já que estamos constantemente resolvendo conflitos, logo a chance para o erro é gigante. Em inúmeras situações poderíamos ser mais compreendidos e valorizados”, diz a policial. 

A Cabo Cima também deixa um recado importante para quem deseja seguir na mesma profissão: 

“Atualmente para ingressar na corporação é necessário ter ensino superior completo, por isso, estude, se puder optar por um curso superior, escolha o curso de Direito. Saiba que é uma profissão onde é necessário ter um excepcional equilíbrio emocional, pois trabalhamos com vidas, às vezes ajudamos, prendemos, salvamos, as vezes quando estritamente necessário atiramos, e nossas ações vão influenciar de forma concreta na vida deste cidadão e de nossa sociedade. 

Nossas atitudes e decisões não refletem apenas para o profissional policial militar, mas para toda a corporação. Às vezes somos amados pela sociedade e às vezes odiados, estamos sempre sendo observados e cobrados, seja por nossos comandantes, mas principalmente pela sociedade. 

Ser policial militar é ser um profissional técnico e preparado sempre para o pior, é estar treinando constantemente, pois segundo nossos comandantes e instrutores “treinamento difícil, combate fácil”. É ser um cidadão apaixonado que ama seu país e se doa por inteiro a uma sociedade, sem fazer distinção de nada, apenas de servir, mesmo com o risco da própria vida.

Ser policial militar e ser policial militar feminina em uma cidade que valoriza a polícia militar e poder servir e ajudar é algo incrível e extremamente satisfatório. Tento fazer o meu melhor sempre, e espero que Deus me abençoe para que possa ter saúde e equilíbrio emocional para continuar firme e forte servindo e ajudando à nossa Chapecó.

Aos olhos da sociedade ainda é “esquisito” ver um policial mulher. Muitas pessoas nos olham como se fossemos frágeis, ou por ser mulher não irá conseguir resolver a ocorrência, pois nos acharem fracas fisicamente, entre centenas de outros comentários que somos acostumadas a escutar em algumas ocorrências.

No entanto, somos fortes e muito fortes, somos treinadas e preparadas para o combate. Da mesma forma que nossos colegas policiais homens.

Durante os nove meses de Curso de Formação de Soldado, toda instrução e treinamento é o mesmo que os policiais masculinos. Somos treinadas e tratadas de forma igual.

Amo minha profissão, tanto por poder ajudar a minha comunidade, como por poder realizar essa quebra de estereótipo que aos poucos está sendo reconstruído por todas as mulheres que escolheram essa profissão.

Que possamos lembrar todos os dias que antes de sermos filha, esposa, mãe, tia, filha, profissional em diferentes áreas, antes de qualquer coisa somos mulheres, e nossos conflitos começam quando esquecemos a nossa essência.

Isso é uma questão que percebo constantemente quando atendo violência doméstica ou casos familiares, surto depressivos envolvendo mulheres. A mulher precisa lutar tanto para mostrar sua importância para sociedade que quer e sim precisa ser super heroína, pois esse é o preço por muitos direitos conquistados, que isso acaba com nós, pois o que precisamos somente é nos permitir o respeito de ser mulher. Temos direitos iguais e eles têm que prevalecer, o nosso papel é “Ser mulher”, e cada mulher dentro de sua essência, dentro de sua melhor versão, sendo a mulher que ela deseja ser!

Infelizmente temos muito a fazer, pois temos que reformular muitos conceitos que geram os atuais preconceitos. eles não estão apenas vinculados ao conceito Mulher, mas a vários outros.

Foto: Arquivo Pessoal
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