Um homem, de 18 anos, foi preso por policiais civis da Divisão de Investigação Criminal (DIC), de Caçador, no Oeste de Santa Catarina, suspeito de executar a tiros Roberto Carlos Machado, 40 anos, e sua sobrinha, Gislaine Maria Vogel, 18 anos. Eles foram mortos no dia 24 de novembro, após saírem de uma festa de formatura. A prisão ocorreu na segunda-feira (9), mas só foi divulgado nesta quarta-feira (11), para a conclusão de algumas periciais e investigações.
Segundo a Polícia Civil, tio e sobrinha foram mortos no interior do veículo Fiat/Palio, no Clube das Bochas, no centro de Caçador.
Através de denúncias anônimas para as Polícias Civis e Militares identificou o jovem, de 18 anos, como o suspeito do crime. Segundo informações da DIC, em 2017, o suspeito tentou matar Roberto, que na época trabalhava como segurança privado em uma casa de festas.
No domingo, a DIC obteve a informação que Roberto vendia pequenas quantidades de cocaína em Caçador. Ele era natural do Paraná e esteve preso de junho de 2014 a novembro de 2016 por tráfico de drogas, primeiro em Caçador e depois em Curitibanos (SC). Atualmente, estava em liberdade condicional, porém durante o cumprimento da pena em Curitibanos, entrou para uma organização criminosa.
Linha de investigação
Segundo a DIC, os investigadores traçaram duas linhas: a primeira, com o envolvimento da esposa de Roberto, de 37 anos, que encontrou o marido e sua sobrinha mortos e levou o veículo com os corpos para o Hospital Maicè, onde segundo os policiais, ela adulterou a cena do crime. A segunda linha de investigação apontava como possível motivação do crime, o tráfico de drogas exercido por Roberto e a rivalidade entre membros de sua facção com outra atuante em Santa Catarina.
Os policiais da DIC identificaram e ouviram 16 testemunhas, presentes na festa de formatura, imediações e do conhecimento das vítimas. Eles também realizaram perícias nos aparelhos celulares das vítimas e de familiares que estiveram no evento.
Após analises de imagens de câmeras de segurança espalhadas pela cidade, os policiais da DIC descartaram o envolvimento da esposa de Roberto no crime. Segundo eles, a mulher entrou em estado de choque ao encontrar seu companheiro e Gislaine mortos. Para o delegado e investigadores, a adulteração da cena do crime não foi intencional. Segundo o relato da DIC, em razão do estado de choque, a mulher tentou desesperadamente levar as vítimas ao hospital, apegada à possibilidade que ainda estivessem vivos.
Os tiros aconteceram dentro do carro
Segundo a Polícia Civil, após perícia no veículo e simulações, os investigadores chegaram a conclusão que os disparos foram realizados no interior do carro, com o atirador sentado no banco traseiro. Ao total, foram seis disparos de revólver calibre .38. Dois deles atingiram Roberto e quatro acertaram Gislaine.
Os dois disparos em Roberto atingiram o seu pescoço, onde um projétil se alojou no cérebro e o outro foi localizado no retrovisor esquerdo do veículo. Gislaine foi atingida por quatro disparos, sendo três em sua face (os quais a transfixaram) e um em sua axila (alojado na medula – que a levou à morte).
Conforme a Polícia Civil, a partir desse quadro, os investigadores concluíram que atirador entrou no veículo e do centro do banco traseiro, efetuou os disparos contra as vítimas, à queima-roupa.
Prisão do suspeito
Na quarta-feira, 27 de novembro, três dias após o crime, a Polícia Civil representou pela expedição de mandados de prisão e de buscas. Os pedidos foram deferidos no dia 3 de dezembro.
O suspeito foi preso no bairro Nossa Senhora Salete, em Caçador na residência de um familiar, onde estava hospedado. Ele foi flagrado com papelotes de cocaína e torrões de maconha. O jovem já era investigado por tráfico de drogas e por isso foi preso em flagrante por manter em depósito os entorpecentes, embalados e destinados à venda.
Dinâmica do crime
Segundo a Polícia Civil, após encontrar seu antigo desafeto na festa de formatura, o suspeito conversou com ele e esboçou uma suposta reconciliação. Nesse momento, Roberto relevou ao jovem que integrava uma facção criminosa, sem saber que o suspeito pertencia à organização rival.
Nesse momento, o suspeito que havia deixado a arma de fogo no veículo de um amigo, que não foi a festa, solicitou que ele viesse com o automóvel até o local, porque iria resolver um problema e precisaria do revólver. Após a chegada do amigo, que não tinha ciência que a arma seria utilizada para o crime, o jovem pegou o revólver e foi até o veículo onde as vítimas estavam.
Conforme relato da DIC, através dos depoimentos de pessoas próximas, as vítimas estavam no interior do automóvel porque Gislaine se sentiu mal devido à ingestão de bebidas alcoólicas no baile de formatura.
Os policiais informaram que após pegar o revólver, o suspeito retornou depois de dez minutos e solicitou ao amigo que o levasse embora.
Após depoimentos e uma filmagem de celular realizado nas proximidades do crime, onde as vítimas aparecem, a DIC concluiu que Roberto e Gislaine foram mortos por volta das 3h30. Segundo a Polícia Civil, o suspeito não retornou à residência em que estava hospedado e “sumiu” por aproximadamente quatro dias, por medo de ser preso.
Outros crimes
O suspeito do duplo homicídio de Roberto e Gislaine foi o principal autor e mentor da morte do adolescente Mateus Carlim Alves, de 16 anos, em 2018. Na época, menor de idade, junto com outros adolescentes autores do homicídio, ele foi apreendido pela DIC e internado.
O Juízo da Infância e Juventude de Caçador condenou o suspeito e aplicou uma medida socioeducativa de internação por até três anos. Ele cumpriu a medida em Florianópolis, onde um juiz considerou que o suspeito estava apto para ser posto em liberdade assistida, antes do limite de três anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Segundo a DIC, ele retornou a Caçador em outubro de 2018.
O suspeito foi indiciado por dois crimes de homicídio qualificado, um crime de tráfico de drogas e um crime de integrar organização criminosa. Ele deve responder a todos os processos preso.